Carne vermelha
aumenta o risco da doença? E intestino preso? Homens têm mais câncer
colorretal? O Dr. Artur Ferreira, oncologista da Oncoclínicas São Paulo,
esclarece estas e outras dúvidas
Os tumores gastrointestinais - aqueles
os que acometem órgãos do aparelho digestivo (desde o esôfago até o ânus) -
representam uma grande parcela do amplo grupo do câncer, segunda principal
causa de morte no Brasil, atrás apenas de doenças cardiovasculares (infarto
agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral), segundo dados do Instituto
Nacional do Câncer (INCA). Ainda de acordo com a instituição, no triênio
2020-2022 o país registrará 625 mil novos casos de câncer ao ano, sendo que o
câncer colorretal e o de estômago serão o terceiro e o quinto mais prevalentes,
com incidência de 41 mil e de 21 mil casos, respectivamente.
"A maioria desses tumores surge por meio da transformação maligna das células que revestem esses órgãos. Como grupo, possuem inúmeras causas, entre as quais se destacam sobrepeso e obesidade, sedentarismo, tabagismo e etilismo, alto consumo de carne vermelha e carne processada, baixa ingestão de fibras e vegetais, diabetes e infecções como hepatites B e C, infecção pelo Helicobarter Pylori e infecção pelo Papilomavírus Humano, o HPV", explica o Dr. Artur Ferreira, oncologista da Oncoclínicas São Paulo. Fatores hereditários também são importantes, mas o especialista ressalta que eles exercem menor influência no surgimento dessas doenças do que as causas listadas.
O tratamento depende do tipo e da localização do tumor e também da forma como ele está apresentado - localizado ou disseminado; a abordagem pode incluir cirurgia, quimioterapia (combinada ou não à radioterapia), terapias com drogas alvo-moleculares e imunoterapia. "São doenças potencialmente curáveis quando diagnosticadas em sua fase inicial", afirma o médico, que prossegue: "E praticamente incuráveis quando se apresentam disseminadas pelo organismo, em metástases."
Por isso, é importante o rastreamento precoce quando indicado, para que o diagnóstico pegue o tumor em sua fase inicial e a chance de cura seja maior.
Embora seja bastante prevalente, o
câncer gastrointestinal ainda é cercado de muitas dúvidas, que acabam criando
crenças que não correspondem à realidade sobre a doença e podem inclusive
atrapalhar o diagnóstico nessa fase inicial. A seguir, o Dr. Artur Ferreira
esclarece os dez principais mitos e verdades sobre o câncer gastrointestinal.
Consumir bebidas
muito quentes aumenta o risco de desenvolver câncer gastrointestinal.
VERDADE.
A ingestão de alimentos e bebidas muito quentes, como chá, café e chimarrão, é
um fator de risco conhecido para os tumores de esôfago do tipo células
escamosas. Isso ocorre porque as altas temperaturas causam lesões na mucosa, a
membrana de revestimento interno do esôfago.
Quem tem gastrite
corre mais risco de ter câncer gastrointestinal.
DEPENDE.
Na maioria dos casos, as gastrites - inflamação do revestimento interno do
estômago - não estão relacionadas ao surgimento do câncer gástrico.
Entretanto, para um tipo de gastrite
esta afirmação é verdadeira: a gastrite atrófica. Trata-se de uma doença autoimune
em que auto-anticorpos produzidos pelo organismo do indivíduo agridem o
revestimento interno do estômago. Populações com alta prevalência de gastrite
atrófica tendem a apresentar um maior risco de desenvolvimento do câncer
gástrico.
Quem tem intestino
preso tem mais risco de desenvolver câncer colorretal.
DEPENDE.
Em teoria, observa-se um risco aumentado do câncer colorretal em pacientes com
prisão de ventre (constipação), pois a lentidão do intestino aumenta o tempo de
exposição da parede intestinal às substâncias que estimulam o surgimento do
câncer (carcinógenos). Além disso, a constipação altera a flora bacteriana
local, e pesquisas recentes sugerem que infecções intestinais por bactérias
específicas podem aumentar o risco de tumores colorretais.
Porém, deve ficar claro que intestino
preso não é um fator clássico de risco. Merecem mais importância, neste
contexto: idade, obesidade, sedentarismo, dietas ricas em carne vermelha e
pobres em vegetais/fibras, diabetes e tabagismo.
Homens estão mais
propensos a ter câncer colorretal.
VERDADE.
A diferença não é tão grande e, por isso, não motiva diferenças nas diretrizes
de rastreamento da doença de acordo com o sexo, mas existe. Em termos absolutos
e em nível mundial, indivíduos do sexo masculino são mais propensos a ter
câncer colorretal. Em 2021, os números de casos de câncer colorretal em homens
e mulheres no Brasil foram, aproximadamente, 20.540 em homens e 20.470 em
mulheres.
Se um pólipo for
detectado, é certeza de que o câncer logo aparecerá.
MITO.
É fato que a maioria dos tumores colorretais surge a partir da transformação
maligna de pólipos intestinais, mas apenas uma pequena parcela de pólipos
progride para tumores. Quando um pólipo é detectado no exame de colonoscopia,
deve ser removido e analisado por um patologista.
Comer carne
vermelha e carne processada em excesso pode levar ao câncer colorretal.
VERDADE.
Dietas ricas em carne vermelha e em carnes processadas são associadas a um
maior risco de surgimento de câncer colorretal, conforme ratificado em
relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015. Em números, entende-se
por consumo excessivo desses tipos de alimentos o que passe de 100 gramas por
dia de carne vermelha e de 50 gramas por dia de carne processada. O ideal é que
elas sejam ingeridas no máximo duas vezes por semana e, nas outras refeições,
sejam substituídas por carnes brancas, ovos, produtos de soja e outras fontes
de proteína.
O câncer
gastrointestinal sempre apresenta sintomas - logo, se não houver dor na região,
não é necessário se preocupar.
MITO.
Isso é válido não apenas para os tumores gastrointestinais, mas para todos os
tipos de tumores: a ausência de sintomas não significa ausência de doença.
Inclusive é importante destacar que nas fases iniciais os tumores não costumam
gerar sintomas - e, quando presentes, eles podem ser confundidos com um
mal-estar passageiro, como uma dor abdominal, a perda de peso sem motivo ou
alguma mudança no padrão de evacuação. Por isso, é importante estar atento aos
check-ups de rotina e respeitar as indicações de rastreamento de especialistas
médicos mesmo sem sinais aparentes.
Algumas doenças
inflamatórias podem aumentar o risco de câncer gastrointestinal.
VERDADE.
Entre os fatores relacionados ao surgimento de tumores colorretais, as doenças
inflamatórias intestinais são causas bem conhecidas e associadas ao aumento do
risco, como é o caso da retocolite grave e extensa, segundo a Sociedade
Brasileira de Cirurgia Oncológica.
Todas as pessoas
que têm câncer colorretal precisam usar bolsa de colostomia.
MITO. A colostomia (situação em que o intestino se exterioriza na parede do abdome para a eliminação mais eficaz das fezes) é uma estratégia utilizada em apenas alguns casos de câncer colorretal - por exemplo: após urgências médicas, como obtruções ou perfurações intestinais, cirurgias de emergência ou tumores localizados no canal anal ou na parte mais baixa do reto.
Com a evolução das técnicas cirúrgicas
e a melhoria dos cuidados com o paciente, a probabilidade de uma pessoa
necessitar de colostomia reduziu drasticamente - e, quando necessária, muitas
vezes trata-se de um procedimento temporário.
Alimentos ricos em
antioxidantes, como frutas cítricas, frutas vermelhas e chá verde, podem
proteger o organismo contra o câncer gastrointestinal.
INDEFINIDO.
Apesar de alguns estudos relatarem a redução do risco de câncer colorretal
quando há suplementação com multivitamínicos, antioxidantes e ácido fólico, não
são evidências inquestionáveis. "Mais estudos são necessários nesta
área", finaliza o Dr. Artur Ferreira.
https://grupooncoclinicas.com/
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