Sintomas de Mancha alvo
Fundação MT, 2021
Em razão das
condições climáticas nos primeiros meses dos estádios reprodutivos da cultura,
doenças que são consideradas as mais importantes não tiveram favorabilidade
para se desenvolverem nas lavouras
Para uma doença se desenvolver, é necessário a
interação de três fatores: o hospedeiro, o patógeno e o ambiente. Na segunda
safra de algodão de Mato Grosso, com semeadura entre os meses de janeiro e
fevereiro, o fator ambiente não foi favorável para a ocorrência de doenças como
a Mancha da ramulária (Ramulariopsis spp.)
e Mancha alvo (Corynespora cassiicola), consideradas as mais importantes da
cultura.
A redução das precipitações de forma antecipada em
importantes regiões produtoras de algodão, como Sapezal, Nova Mutum, Sorriso,
Campo Verde e Primavera do Leste, determinou a baixa incidência das doenças do
algodoeiro em relação às safras passadas. Isso trouxe mais tranquilidade aos
produtores da pluma pensando no manejo de doenças da cultura. No entanto, a
condição não aconteceu de forma geral no Estado, sendo que em algumas regiões o
período chuvoso se estendeu um pouco mais, havendo maior evolução das doenças
citadas.
Os resultados de pesquisas realizadas na safra
21/22 nas estações experimentais da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária
de Mato Grosso (Fundação MT) acerca das doenças, foram apresentados durante o
XIV Encontro Técnico Algodão nesta semana, em Cuiabá-MT. O engenheiro agrônomo,
doutor em fitopatologia e pesquisador da instituição na área de Fitopatologia e
Biológicos, João Paulo Ascari, conduziu o painel ‘Manejo de Doenças da Cultura
do Algodão’, com a participação de Fabiano Perina e Luiz Chitarra,
pesquisadores da Embrapa Algodão.
“Fazendo uma retrospectiva sobre nossas áreas de pesquisa, na safra 19/20 houve bastante disponibilidade de água durante o ciclo, com microclima favorável para o maior desenvolvimento de ambas as doenças, chegando a 50% de incidência da Mancha alvo e 32% da Ramulária”, detalha o pesquisador. Ainda segundo ele, na safra 20/21 o cenário foi de menor pressão de Mancha alvo (7%) e a Ramulária teve severidade de 40%. “Mas já na 21/22 quase não houve ocorrência de Mancha alvo (1%) e a Ramulária manteve-se em torno de 30% de severidade. Entendemos que a dinâmica da incidência é variável e as situações, favoráveis ou não, são diferentes em cada região”, completa.
Ensaios com fungicidas sítio-específicosSintomas de Mancha de ramulária
Fundação MT, 2022
Para a realização de alguns estudos em algodão, a
instituição participa da Rede Ramulária, que promove experimentos que avaliam a
eficiência de fungicidas utilizados no controle das manchas foliares e outros
fitopatógenos da cultura.
A avaliação de fungicidas sítio-específicos,
aplicados de forma isolada para o controle da Ramulária, aconteceu em ensaio
conduzido na região de Sapezal, com uma cultivar de algodão sensível à doença,
com semeadura no dia 2 de fevereiro (período de bastante chuva) e primeira
aplicação aos 30 DAE (dias após emergência). “É importante ressaltar que essa
não é uma recomendação de manejo de fungicidas, mas sim um ensaio com o objetivo
de testar a eficácia dos produtos de forma isolada para saber o quanto
contribuem para o controle da doença”, destaca o especialista.
Os resultados mostraram que o uso de fungicidas
retardou a evolução da curva de crescimento da doença, que foi menor em relação
à testemunha sem fungicidas, tendo aumentos somente a partir dos 105 dias após
a emergência da cultura. Neste período, os volumes de precipitação foram bem
concentrados em fevereiro e houve acentuada redução a partir de março. Na safra
passada, a curva de progresso da doença se acentuou já aos 90 dias após a
semeadura com volumes de precipitação mais bem distribuídos até o mês de abril.
Portanto, a falta de água nesta safra desfavoreceu a evolução e pressão das
doenças.
Ensaios com fungicidas multissítios
Também da Rede Ramulária, na mesma data de
semeadura e momento da primeira aplicação, os resultados dos experimentos com o
uso dos fungicidas multissítios demonstraram que esses produtos têm sido uma
ferramenta importantíssima para o controle da Mancha de ramulária, com destaque
para o ingrediente ativo clorotalonil. “Contudo, a aplicação de fungicidas
multissítios à base de clorotalonil, mancozeb e oxicloreto de cobre promoveram
incrementos de produtividade quando acrescentados no programa de manejo”,
define o profissional.
Conclusões
De acordo com o pesquisador, mesmo em safras como a
atual, com a condição climática desfavorável para a ocorrência tanto de Mancha
alvo como de Ramulária, a aplicação de fungicidas é fundamental e deve ser
feita de forma preventiva com intervalos seguros, pois o patógeno está na área.
“Nossa orientação ao produtor é que ele faça a integração das táticas de manejo
que temos disponíveis, entre eles o manejo cultural, químico, biológico e o
genético”, diz João Ascari.
Além disso, o engenheiro agrônomo reforça que o
produtor tem preparo, tecnologia e ferramentas ao seu alcance para fazer o
manejo das doenças do algodão, mas é necessário que fique atento ao
posicionamento dos produtos dentro do programa de aplicação, sempre observando
a indicação com relação às doenças que acontecem na área a ser tratada.
Nova pesquisa
Durante a safra de algodão 21/22, a Fundação MT
recebeu relatos da ocorrência, na região de Sapezal, de Rhizoctonia
solani, que causa o tombamento de plântulas e a mela. O pesquisador
João Ascari conta que foi feita visita à área, o material foi colhido e foi
identificado o fungo R. solani infectando as plantas
tombadas. “Esse problema está associado a perdas de plantas, pode gerar
ressemeadura e afetar diretamente a produtividade da cultura. A Fundação MT
está conduzindo ensaios a campo e em condições controladas (casa de vegetação)
para entender a situação e poder trazer respostas de manejo para o produtor
utilizar na próxima safra”, antecipa o pesquisador.
Fundação MT
Nenhum comentário:
Postar um comentário