Especialista aponta uma mudança de comportamento e
propõe caminhos para solução entre empresas e trabalhadores
O
que já foi chamado de “novo normal” deu lugar às curiosidades e mudanças de
comportamentos no Brasil que devem permanecer mesmo depois da pandemia da
Covid-19. Um desses aspectos é como será a relação das empresas com
colaboradores que estejam com sintomas potencialmente causados por vírus, como
tosse, febre e diarreia. Será que eles serão naturalmente aceitos nos
escritórios? “É bem provável que após a experiência com a Covid-19 não seja
mais natural ver um funcionário que esteja se sentindo mal ir ao trabalho,
mesmo que com sintomas leves. Além da preocupação com a saúde e segurança de
todos, pode influenciar ainda nas relações de trabalho e na produtividade”,
analisa Maitê Dahdal, médica especialista especialista em medicina de Família e
Comunidade pela Unicamp e coordenadora de pós-graduação na Sanar/UniAmérica.
A
mudança de hábito deve impactar diretamente a relação entre médicos e
pacientes, fundamentalmente quando falamos da emissão do atestado. “A pandemia
gerou um aumento expressivo na solicitação e a emissão de atestados médicos,
além de uma maior flexibilidade na emissão, já que pessoas com sintomas
respiratórios poderiam portar Covid-19 e não seria correto colocar outras
pessoas em risco”, explica Dahdal. O afastamento preventivo nestes casos é uma
forma de cuidar inclusive dos pacientes, que podem ser estigmatizados ou
culpabilizados caso algo futuro ocorra no local de trabalho. “O home-office é
uma solução neste processo, já que permite que a pessoa trabalhe de casa se
tiver sintomas leves e sem colocar a equipe em risco”, completa a médica.
Como
as empresas vão lidar com isso?
Uma
dúvida comum nesta nova realidade é se surge uma “nova categoria” de atestado
médico, aquele que solicita o afastamento das atividades na sede da
empresa, mas permite dentro de casa. Ainda não há um protocolo oficial do
Ministério da Saúde em relação ao afastamento parcial, possibilitando o
trabalho domiciliar, e esse será um desafio, tendo em vista as condições de
trabalho bem heterogêneas no Brasil. “No momento essa recomendação é
individualizada, de acordo com empresa, condições de saúde do trabalhador e
também de condições de executar sua tarefa de forma remota. Algumas
instituições optaram até pela troca de funções para que haja essa possibilidade
em casos de gravidez ou doenças crônicas, por exemplo, de oferecer um trabalho
mais seguro já que ainda estamos vivendo uma pandemia”, explica Maitê.
Um
artigo publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional analisou números
ligados ao absenteísmo no Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e apontou um
crescimento de licenças-saúde de 312% por infecção respiratória aguda, ao tempo
que constatou também uma queda de 16% na taxa de dias não trabalhados por
outros diagnósticos. “A mudança nos cenários durante a pandemia devem impactar
novas perspectivas, mas ainda não podemos cravar exatamente como será. O
que se espera, por parte de trabalhadores e empregadores, é um avanço em
relação ao senso coletivo e ao respeito pelo bem-estar do próximo”,
finaliza a médica e coordenadora da pós-graduação em Medicina de Família e
Comunidade da Sanar/UniAmérica.
Maitê Dahdal - Médica pela Universidade Cidade de São Paulo; especialista
em Medicina de Família e Comunidade pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP); professora e coordenadora da pós-graduação em Medicina de Família e
Comunidade da Sanar/UniAmérica; pós-graduanda em cuidados paliativos pela
UnyLeya. Médica assistente do programa de atenção domiciliar e atenção primária
da Unimed Amparo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário