Aumento da ingestão de bebidas alcoólicas,
comidas gordurosas e produtos ultraprocessados fizeram disparar número de casos
de doenças cardiovasculares durante a pandemia
Durante a pandemia, houve um aumento assustador no número de mortes causadas por problemas no coração: 132% Crédito: Jasmine Alimentos |
A
receita para reduzir o risco de um infarto e de doenças cardiovasculares todo
mundo sabe: alimentação balanceada, atividades físicas e controle do peso. Mas,
durante a pandemia, o que se viu foi um aumento assustador no número de mortes
causadas por problemas no coração: 132% - de acordo com uma pesquisa da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
As
mortes por doenças cardiovasculares não especificadas (por falta de um
diagnóstico preciso), infartos e AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais) aumentaram
132% em Manaus, 126% em Belém, 87% em Fortaleza, 71% em Recife, 38% no Rio de
Janeiro e 31% em São Paulo entre março e maio de 2020, na comparação com o
mesmo período de 2019. O crescimento se deve a diversos fatores, como a
covid-19, a hipertensão e a diabetes, agravadas por conta da pandemia, e,
também, pela diminuição da frequência dos exames diagnósticos e acompanhamento
de doenças.
O
cenário requer atenção redobrada e muita preocupação com os alimentos que são
ingeridos, assuntos que são abordados de forma ainda mais abrangente no Dia
Mundial do Coração, lembrado em 29 de setembro. Saber o que colocar e,
principalmente, o que deixar de fora da lista de compras é uma das principais
medidas em prol do coração e da saúde como um todo.
“Os
estudos apontam mudanças benéficas na qualidade alimentar do brasileiro em
alguns momentos na pandemia. Mas, em outros levantamentos, os dados são
preocupantes”, reconhece a nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos,
Bruna Nogueira. O aspecto positivo na avaliação dela foi que, no período mais
crítico da pandemia, as pessoas aproveitaram um tempo maior em casa para
preparar suas refeições, fazendo escolhas saudáveis e equilibradas de
alimentos. Também prestaram mais atenção aos rótulos, buscando incluir no dia a
dia produtos, mesmo que industrializados, com ingredientes funcionais ou
benéficos ao organismo. "O lado negativo foi que o uso de aplicativos de delivery de refeições e o
consumo de doces, frituras, alimentos ultraprocessados e álcool também
cresceram consideravelmente", lamenta.
Na
visão do cardiologista Paulo Negreiros, do Hospital Marcelino Champagnat, de
Curitiba (PR), esse comportamento equivocado de alimentar-se mal foi
potencializado com o aumento do sedentarismo. “Infelizmente, com a pandemia,
houve um crescimento expressivo do consumo de fast food e diminuição da prática dos
exercícios físicos. Essa combinação é catastrófica para o coração”,
alerta.
Dados
do periódico científico Nutrients
(da University of
South Australia) e da NutriNet Brasil sobre comportamento alimentar
reforçam essa contradição. Pela amostra da NutriNet Brasil, vinculada à USP
(Universidade de São Paulo), e que acompanha o comportamento alimentar dos
brasileiros em todas as regiões, houve aumento de consumo de itens como frutas,
hortaliças e feijão de 40,2% para 44,6% na pandemia. Contudo, o consumo de
alimentos ultraprocessados passou de 77,9% - número que já é altíssimo na
comparação com outros países - para 79,6%. Com outro recorte, o periódico Nutrients constatou aumento
no consumo de frutas e hortaliças durante o distanciamento social por parte dos
adolescentes em cinco países, inclusive o Brasil. Mas também identificou o
crescimento da ingestão de doces e frituras entre os jovens.
De
acordo com a nutricionista, um padrão alimentar saudável deve ser rico em
vegetais, cereais integrais (como farelo de aveia, arroz integral, aveia em
flocos, quinoa), azeite de oliva, sementes (linhaça, chia, semente de abóbora,
por exemplo), leguminosas, frutas, peixes e castanhas (castanha-do-Brasil,
amêndoas, nozes, pistache etc.). “Esses alimentos favorecem uma vida mais
equilibrada e, ainda, atuam como cardioprotetores, já que são fontes de fibras,
ômega-3, vitaminas, minerais e fitoativos, que são importantes nesse cuidado
integrado”, esclarece.
Segundo
Bruna, a combinação ideal seria a da chamada “dieta do Mediterrâneo”, à base de
carnes magras (em destaque, a de peixe), e rica em frutas, verduras, legumes e
grãos, evitando-se embutidos e industrializados. Os hábitos alimentares
saudáveis e equilibrados podem atuar na prevenção e no tratamento dos eventos
cardiovasculares, e, também, na redução de alguns fatores de risco associados
ao desencadeamento das doenças cardiovasculares e crônicas, como: dislipidemias
(redução dos níveis de HDL-c e/ou aumento dos níveis de colesterol total, LDL-c
e/ou triglicerídeos no sangue), aumento da glicemia, inflamação e estresse
oxidativo. “Um corpo bem nutrido é capaz de exercer o seu melhor potencial de
saúde”, completa Paulo Negreiros.
Fora
da lista pró-coração
Alimentos
e produtos com alto teor de gorduras trans e saturadas, além de carboidratos
simples, com alto índice glicêmico (com capacidade de gerar picos de glicemia) e
ricos em aditivos artificiais, como embutidos, frituras, bebidas adoçadas,
biscoitos recheados, farinhas refinadas, salgadinhos industrializados não
saudáveis, carnes vermelhas, entre outros, impactam negativamente os níveis de
glicemia, colesterol e triglicerídeos séricos.
Além
de prejudicar a saúde do coração, eles podem levar ao ganho de peso, inflamação
e estresse oxidativo, que também comprometem a performance física, reduzindo a
vitalidade, a disposição e a qualidade de vida.
“Os
fatores genéticos são os maiores preditivos das doenças do colesterol
(dislipidemias), no entanto, uma dieta saudável é crucial para que se atinjam
níveis aceitáveis de colesterol para prevenção de doenças cardiovasculares,
apesar de os fatores genéticos de alguns poderem levar a níveis elevados de
colesterol”, explica o cardiologista.
“Podemos
dizer que a genética não é destino, isso porque o que irá determinar que um
gene seja expressivo ou não, na maioria das vezes, é a interação do indivíduo
com o ambiente e a nutrição”, acrescenta o especialista, que defende: "O
trinômio 'alimentação, exercício físico e saúde mental' exercem maior
influência do que o perfil genético e a idade isolados, além de reduzirem em
80% os riscos de doenças crônicas e cardiovasculares".
Dentro
da lista pró-coração
De
acordo com Bruna Nogueira, a indústria de alimentos saudáveis evoluiu muito e,
atualmente, oferece produtos que substituem ingredientes refinados por opções
integrais e menos processadas, como farinha de trigo integral, aveia, açúcar
mascavo, açúcar demerara e mel. “A tecnologia tem ajudado no desenvolvimento de
produtos altamente nutritivos, saborosos e com baixo ou nenhum risco à saúde. É
possível encontrar nas prateleiras dos supermercados muitos produtos
industrializados com alto poder nutritivo”, destaca.
Confira
quais são os alimentos considerados “cardioprotetores” e que devem ser presença
constante na lista de compras:
Farelo
de aveia - Apresenta
uma excelente concentração de fibras solúveis, principalmente beta-glucanas,
além de avenantramidas, compostos bioativos com efeito anti-inflamatório e
antioxidante. O consumo frequente contribui com a redução do colesterol total e
do LDL-c de forma significativa, de acordo com diversos estudos recentes;
Frutas
vermelhas e roxas
- Morango, açaí, cranberry, goji berry são algumas das frutas ricas em
polifenóis, como as antocianinas, procianidinas, quercetina, ácidos fenólicos e
polissacarídeos, além de fibras, que estão associadas à melhora dos níveis de
colesterol, e favorecem a saúde cardiovascular.
Sementes
de chia e de linhaça - Ambas
são fontes de ômega-3 e de fibras solúveis e insolúveis, que trazem benefícios
para a saúde do coração e redução do colesterol ruim.
Castanhas
- Nozes,
castanha-do-Brasil, pistache, amêndoa, avelã e outras sementes são ricas em
selênio, zinco, magnésio e compostos bioativos, que atuam em diferentes
mecanismos para contribuir com a saúde cardiovascular.
Cereais
integrais (arroz integral, quinoa) - Têm boa concentração de fibras que irão beneficiar a saúde
do coração, uma vez que auxiliam desde a diminuição dos níveis de colesterol
até a redução da inflamação.
Azeite
de oliva - É
considerado um grande cardioprotetor, por favorecer a redução dos níveis de
colesterol LDL e total, e por estimular o aumento do HDL-c.
Jasmine Alimentos
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