A síndrome é
um evento grave, ainda pouco estudado. Está ligada ao comprometimento
neurológico do paciente renal. O estudo foi possível porque agora os
cientistas contam com a possibilidade do monitoramento não invasivo do cérebro
do paciente durante a hemodiálise
O artigo científico Uso
de forma de onda de pulso de pressão intracraniana não invasiva para monitorar
pacientes com doença renal em estágio terminal (ESRD), publicado no Plos One,
em 22 de julho, pode abrir uma nova perspectiva para pacientes com doença renal
que precisam passar por hemodiálise. Pela primeira vez na história da ciência
foi possível monitorar a pressão intracraniana desses pacientes antes e depois
das sessões de hemodiálise, usando o método não
invasivo brain4care para avaliar as variações da pressão
intracraniana durante o tratamento. O estudo inédito é de um grupo de
cientistas brasileiros liderado pela pesquisadora Cristiane Rickli, da Divisão
de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de Ponta Grossa –
UEPG, Ponta Grossa (PR). Confira o estudo completo aqui.
E por que é
tão importante acompanhar a variação da pressão intracraniana desses pacientes? Cristiane informa que apesar da hemodiálise ser a terapia de
substituição das funções renais predominante no mundo, ela está associada a
diversos efeitos colaterais. Durante a hemodiálise pode acontecer hipotensão e
caibras musculares e depois do procedimento é comum os pacientes apresentarem
queixas de dor de cabeça, fadiga e incapacidade de concentração. “São
sintomas que podem estar relacionados à perda excessiva de líquidos (água,
sangue e eletrólitos) na hemodiálise ou à síndrome do desequilíbrio
da hemodiálise”, diz. A síndrome do desequilíbrio
da hemodiálise é um evento grave, ainda pouco estudado. Sabe-se que está
ligada ao comprometimento neurológico do paciente, mas na maioria dos
casos quando chega a ser diagnosticada já está em estágio adiantado e o
paciente não sobrevive.
O que difere um paciente que
está sofrendo efeitos comuns da hemodiálise daquele que está com síndrome do
desequilíbrio da hemodiálise é a presença de edema cerebral e aumento da
pressão intracraniana. Assim, a possibilidade de monitorar de maneira não
invasiva esses pacientes pode levar o médico a considerar a hipótese de uma
síndrome do desequilíbrio da hemodiálise em fase inicial e tomar medidas
mais eficientes de manejo do paciente, que podem salvar sua vida.
Na literatura científica já
existem artigos que trabalham com a hipótese de que dor de cabeça, fadiga e
incapacidade de concentração, mesmo que leves, em pacientes submetidos à
hemodiálise podem ser sinais de síndrome do desequilíbrio da hemodiálise.
“Ocorre que até o momento, as alternativas para diagnóstico eram invasivas, por
exemplo, inserir um cateter por meio de cirurgia no cérebro para obter o valor
da pressão intracraniana”, diz. O método invasivo, de acordo com a
pesquisadora, além de inviabilizar o diagnóstico também limitou os estudos
sobre a síndrome do desequilíbrio da hemodiálise.
Entenda
como acontece o monitoramento não invasivo
O interior do crânio é composto
de três elementos: tecido cerebral, sangue e líquor. A pressão intracraniana é
o resultado das interações entre os volumes desses elementos e seu equilíbrio é
fundamental para a saúde, é o que chamamos de complacência intracraniana. Com a
tecnologia brain4care, utilizada pelos pesquisadores, um sensor encostado
na cabeça do paciente, com ajuda de uma faixa, capta movimentos sutis por meio
de um dispositivo (computador, tablet ou celular) com acesso à internet e os
envia à nuvem. Um algoritmo transforma os dados em curvas que refletem o estado
da complacência do cérebro, tudo em tempo real, para interpretação e
acompanhamento da equipe médica.
Os pesquisadores
acompanharam 42 pacientes com doença renal terminal em
hemodiálise por seis meses. No total, 4881 pontos de dados foram coletados
durante o período do estudo.
brain4care
(*) The global burden of neurological disorders - The
Lancet Neurology
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