Pesquisa nacional realizada pelo IBOPE
Conecta aponta que tabus sobre a doença persistem sobretudo entre os mais novos
e os homens, afastando muitos pacientes do tratamento
Os
jovens brasileiros sabem pouco sobre a depressão, sentem vergonha de falar
sobre o assunto e não estão convencidos sobre a importância do tratamento.
Essas são algumas das conclusões da pesquisa Depressão, suicídio e tabu
no Brasil: um novo olhar sobre a Saúde Mental, aplicada pelo
IBOPE Conecta a 2 mil brasileiros, a partir dos 13 anos de idade, em diferentes
regiões metropolitanas do País: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul, Distrito Federal e Fortaleza. Em São Paulo, a amostra de entrevistados foi
colhida na capital.
O
levantamento faz parte de uma ampla investigação sobre o cenário da depressão
no Brasil. E a resposta a essa realidade, permeada por mitos e desinformação
sobre a doença, é o lançamento da campanha "Na Direção da Vida –
Depressão sem Tabu", conduzida pela Upjohn – divisão
focada em doenças crônicas não-transmissíveis – e pela área de Medicina Interna
da Pfizer. A iniciativa tem o apoio da Associação Brasileira de Familiares,
Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) e conta com a participação
do Centro de Valorização da Vida (CVV).
"Verificar
o quanto existe de desconhecimento e vergonha sobre a depressão entre os jovens
brasileiros é muito preocupante porque a doença representa um dos diagnósticos
mais frequentes entre as pessoas que tiram a própria vida. E temos visto, nos
últimos anos, o quanto as taxas de suicídio estão aumentando justamente na
população mais jovem", afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Márjori
Dulcine.
Os
mitos associados à origem da depressão são, de fato, muito mais evidentes nas
faixas etárias mais jovens contempladas pela pesquisa. Mais de um a cada quatro
entrevistados do grupo de 18 a 24 anos (26%) considera, por exemplo, que se
trata de uma "doença da alma". Por outro lado, a porcentagem de
pessoas que compartilham dessa percepção cai para 15% entre aqueles com 55 anos
ou mais de idade.
Apesar
de entenderem que a depressão tem tratamento (71%), a faixa etária dos 18 aos
24 anos é a que expressa a menor confiança. Quase um terço desses jovens (29%)
não está totalmente convencido de que a depressão é uma doença como qualquer
outra, que pode ser tratada com sucesso. Já entre os entrevistados mais velhos,
com 55 anos ou mais, esse porcentual cai para 18%. O dado de São Paulo também
chama a atenção: 26% dos internautas paulistanos têm dúvidas ou desacreditam na
chance de tratar a doença com sucesso.
Quando
se analisa o panorama entre os entrevistados ainda mais jovens, de 13 a 17
anos, a situação também é preocupante. Mais de um a cada cinco (23%) acredita,
por exemplo, que não existem sintomas físicos na depressão porque ela seria
"apenas um momento de tristeza" e não uma doença. "Essa
percepção equivocada reforça a importância de um amplo trabalho de
conscientização no Brasil. Posicionar a depressão como doença, para a qual
existe tratamento, é importante porque ajuda a encorajar o paciente e legitima
a sua busca por ajuda", explica Elizabeth Bilevicius, líder médica da
Upjohn, divisão da Pfizer focada em doenças crônicas não transmissíveis.
Jovens: vergonha e silêncio
A
desinformação sobre a depressão alimenta o estigma e a vergonha que o paciente
sente. Não por acaso, os jovens demonstram constrangimento para falar do
assunto na escola ou trabalho e, até mesmo, com pessoas do convívio próximo:
39% dos adolescentes de 13 a 17 anos dizem que não se sentiriam à vontade para
dividir o problema com a família caso recebessem um diagnóstico de depressão,
um porcentual bastante acima da taxa média verificada na amostra total de
entrevistados, que foi de 22%, como indica a tabela abaixo:
Se você recebesse um diagnóstico de depressão,
se sentiria à vontade para falar sobre isso com a sua família? |
||||||
IDADE
|
||||||
TOTAL
|
13-17
|
18-24
|
25-34
|
35-54
|
55 OU MAIS
|
|
Sim |
78%
|
61%
|
75%
|
70%
|
85%
|
89%
|
Não |
22%
|
39%
|
25%
|
30%
|
15%
|
11%
|
Entre
os jovens de 18 a 24 anos, o silêncio sobre a depressão também é uma defesa
para a falta de confiança que eles sentem em seu entorno social: a maioria dos
entrevistados dessa faixa etária, ou 56% do grupo, declara que também não se
sentiria à vontade para contar sobre um diagnóstico de depressão no trabalho ou
na escola, um porcentual que cai para 28% entre a população de 55 anos ou mais
de idade. Considerando a amostra total da pesquisa, 44% dos entrevistados
expressam esse mesmo comportamento.
Se você recebesse um diagnóstico de depressão,
você se sentiria à vontade para falar sobre isso no seu trabalho e/ou escola? |
||||||
IDADE
|
||||||
TOTAL
|
13-17
|
18-24
|
25-34
|
35-54
|
55 OU MAIS
|
|
Sim |
56%
|
51%
|
44%
|
51%
|
60%
|
72%
|
Não |
44%
|
49%
|
56%
|
49%
|
40%
|
28%
|
O
principal motivo que levaria o grupo de 18 a 24 anos a esconder a doença no
ambiente profissional seria a percepção de que seus colegas não costumam levar
a depressão a sério e, portanto, poderiam não acreditar que a pessoa está
realmente doente. Já em São Paulo, 40% dos entrevistados dizem que a principal
motivação para essa omissão seria o fato de sentirem vergonha de admitir um eventual
diagnóstico de depressão.
Ainda
em relação aos entrevistados de São Paulo, mais de um em cada cinco (23%)
afirma que, caso tivesse de visitar um psiquiatra, iria à consulta sem contar a
ninguém. Esse porcentual chega a 25% entre aqueles de 25 a 34 anos. Além disso,
12% dos entrevistados do grupo mais jovem, de 13 a 17 anos, dizem que não iriam
ao psiquiatra nem mesmo se recebessem o encaminhamento de um outro médico. No
grupo de 25 a 34 anos, 31% daqueles que não iriam ao psiquiatra mesmo com uma
recomendação acreditam que esse profissional trata doenças mais graves e que a
depressão não seria algo tão sério.
Se você respondeu que não iria ao psiquiatra
mesmo com um encaminhamento médico qual seria o motivo para essa decisão? |
||||||
IDADE
|
||||||
TOTAL
|
13-17
|
18-24
|
25-34
|
35-54
|
55 OU +
|
|
Prefiro tentar outros tipos de apoio, como
falar com meus amigos |
40%
|
70%
|
21%
|
38%
|
39%
|
47%
|
Tenho receio que o médico me receite remédios
fortes |
21%
|
-
|
26%
|
15%
|
29%
|
11%
|
Acho que o psiquiatra trata doenças mentais
mais graves e depressão não é algo tão sério |
21%
|
-
|
16%
|
31%
|
21%
|
26%
|
Não quero ser vista como uma pessoa
desequilibrada |
15%
|
-
|
16%
|
15%
|
20%
|
5%
|
Tenho vergonha |
6%
|
-
|
21%
|
-
|
5%
|
-
|
Nenhuma das anteriores |
31%
|
30%
|
47%
|
23%
|
25%
|
37%
|
Os
adolescentes de 13 a 17 anos também são os que se mostram mais resistentes
diante do tratamento para a depressão: 34% desses entrevistados dizem que não
tomariam antidepressivos mesmo que o médico as prescrevesse.
E 23% dos
participantes de 18 a 24 anos teriam essa mesma atitude. "Essa resistência
está associada a um profundo desconhecimento sobre os antidepressivos mais
modernos. Vale lembrar que estamos falando de uma doença de elevado potencial
incapacitante, que pode ser associada a um desfecho trágico, que é o suicídio,
mas que pode e deve ser tratada", destaca Márjori.
Homens: tabus e
desinformação
Se
entre os jovens ouvidos pela pesquisa a vergonha diante da depressão se
destaca, os homens formam um outro público que merece mais atenção porque,
entre eles, os tabus ligados à doença ganham força. Quando perguntados sobre a
relação da depressão com a falta de fé, por exemplo, 30% dos homens ou indicam
que essa associação é verdadeira ou afirmam que não sabem avaliar sua
veracidade. Entre as mulheres, por outro lado, esse porcentual cai para 17%.
Esse mito, em particular, também se destaca entre os entrevistados mais velhos,
assim como é mais evidente entre os participantes de Fortaleza.
A
maioria dos homens também não está convencida de que ter uma atitude positiva e
alegria de viver não são suficientes para vencer a depressão. Questionados
sobre isso, 55% dos entrevistados do sexo masculino ou acreditam que essas
atitudes bastam ou não sabem opinar. Menos da metade, ou 46% da amostra, tem a
informação de que se trata de um mito. Além disso, para quase um terço desses
entrevistados não está claro que a depressão não é mero sinal de fraqueza ou
pouca força de vontade: 29% deles ou acreditam nesse mito ou, pelo menos, estão
em dúvida sobre essa afirmação.
Assim
como as mulheres, os homens também acreditam que é possível superar a
depressão. Mas o suporte médico é menos valorizado por eles: quando perguntados
sobre as formas mais importantes de vencer a doença, o acompanhamento médico
aparece em terceiro lugar, ao passo que essa estratégia surge na segunda posição
para o público feminino. Para ambos, o acompanhamento psicológico é o fator
mais citado e, entre os homens, a prática regular de exercícios físicos se
destaca também, em segundo lugar.
Questionados
especificamente sobre o tratamento medicamentoso, os homens também se mostram
mais resistentes do que as entrevistadas. Pelo menos um a cada cinco (21% da
amostra) diz que não tomaria antidepressivos mesmo que o médico prescrevesse,
um porcentual que cai para 16% entre as mulheres. "Esse é um sinal de alerta
muito importante se considerarmos que os homens compreendem a maior parte dos
casos de suicídio e a maioria dessas vítimas sofria de transtornos mentais,
como a depressão", reforça Márjori.
Antidepressivos: um amplo
desconhecimento
Mais
do que indicar a presença de muitos mitos associados à depressão no Brasil, a
pesquisa revela um forte desconhecimento a respeito dos antidepressivos. Só 29%
dos jovens de 18 a 24 anos discordam, por exemplo, da falsa afirmação de que os
medicamentos mais modernos seriam menos eficazes, uma vez que tendem a provocar
menos efeitos colaterais. A maioria, ou 61% desse grupo, não sabe opinar sobre
esse assunto.
Entre
os adolescentes de 13 a 17 anos, grande parte também não está convencida da
eficácia dos antidepressivos. Metade deles fica em dúvida quando está diante da
seguinte sentença falsa: "a maioria dos antidepressivos não
funciona". Os mais velhos estão melhor informados sobre essa questão e 58%
das pessoas do grupo de 55 anos ou mais discordam dessa frase.
Ainda
em relação aos atributos dos antidepressivos, um em cada quatro entrevistados
está convencido de que esses medicamentos poderiam "viciar o
organismo". Apenas 41% das pessoas da amostra geral da pesquisa discordam
dessa informação. Em São Paulo, 59% dos participantes ou acreditam que essa
afirmação é verdadeira ou não sabem responder.
Outros
mitos populares, como a ideia de que todos os antidepressivos provocam ganho de
peso, também aparecem no levantamento. Considerando a amostra total de
entrevistados, 55% das pessoas ou concordam com essa afirmação ou não sabem
avaliar se ela é verdadeira. Da mesma forma, para 61% dos participantes não
está claro se todos os medicamentos usados no tratamento da depressão podem
provocar a queda da libido. Só 14% dos ouvidos discordam da ideia de que os
antidepressivos poderiam atrapalhar a concentração.
"Na
verdade, tanto a falta de concentração como a queda da libido podem ser
sintomas do próprio quadro depressivo. Assim, ajustar a medicação adequada para
o perfil de cada pessoa é um caminho importante para auxiliar a restabelecer a
funcionalidade desse paciente", destaca Elizabeth.
Suicídio e o papel do
psiquiatra
Os
resultados da pesquisa indicam que a figura do psiquiatra começa a ganhar força
nas faixas etárias mais maduras, acima de 35 anos. O público mais velho também
tende a ter mais informações sobre os antidepressivos. Entre as pessoas com 55
anos ou mais, buscar um psiquiatra seria a primeira medida a tomar diante de um
quadro de depressão grave, incapacitante. Em todas as outras faixas etárias,
porém, é o auxílio psicológico que aparece em primeiro lugar. Em São Paulo,
contudo, as pessoas disseram que inicialmente conversariam com um familiar: o
psiquiatra aparece em terceira posição, depois do psicólogo.
Quando
a pergunta é sobre o profissional mais indicado para tratar a depressão, mais
uma vez a figura do psicólogo aparece, mencionado por 57% da amostra geral e
por 80% dos jovens de 13 a 17 anos. Na comparação entre as regiões pesquisadas,
apenas em Porto Alegre (RS) a menção ao psiquiatra prevalece. "As pessoas
tendem a subestimar a depressão, como se ela fosse menos importante ou grave
que outros transtornos mentais. Por isso, existe naturalmente uma resistência e
um estigma associado à consulta com o psiquiatra", comenta Márjori.
"Certamente o psicólogo tem um papel muito importante no acompanhamento do
paciente com depressão, mas o psiquiatra é o profissional habilitado a
estabelecer o diagnóstico e tratamento medicamentoso adequados".
Entre
os participantes mais velhos, porém, o psiquiatra é destaque quando os
entrevistados são convidados a pensar sobre como agiriam diante de alguém que
estivesse convencido de que a vida não vale a pena e pensasse na morte como uma
solução. Buscar o suporte desse profissional especializado seria a primeira
recomendação do grupo com 55 anos ou mais para essa pessoa. A maioria da
amostra, contudo, responde que se oferecia para conversar sem julgar. Por outro
lado, 28% dos homens diriam para o indivíduo "não pensar em
bobagens". Em Fortaleza, quase uma a cada quatro (23%)recomendaria que a
pessoa buscasse uma religião.
A
dificuldade em lidar com a temática do suicídio também se evidencia em
diferentes pontos da pesquisa. Para 22% dos entrevistados, o assunto ainda é um
tabu no Brasil e as pessoas deveriam falar mais abertamente sobre essa questão.
Mais de 4 a cada 10 participantes afirmam que já conheceram alguém que tirou a
própria vida e o porcentual chega a 51% em Belo Horizonte. "Esses dados
apontam o quanto ainda existe espaço para fortalecer essa discussão junto à
população, como forma de estimular uma conversa franca sobre a saúde mental com
toda a sociedade", completa Márjori.
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