Psiquiatra fundador do Programa Semente
explica como tratar do assunto de maneira sensível e consciente
A
campanha de conscientização e prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, começou
em 2015 e continua marcando presença nas discussões sobre o tema. Durante o
mês, diferentes iniciativas abrem diálogo sobre os transtornos que podem levar
ao suicídio, entre eles a depressão. Segundo pesquisa divulgada ontem (28) pela
Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos
(Abrata), 66% das pessoas conhecem alguém com depressão severa, e 41% afirmam
terem conhecido alguém que cometeu suicídio.
Dessa
forma, é imprescindível que, ao tratar de um assunto delicado, as pessoas
saibam a melhor forma de disseminar informações de maneira sensível e
responsável. Segundo Celso Lopes de Souza, psiquiatra, educador e fundador do
Programa Semente – programa estruturado de aprendizagem socioemocional –, o
primeiro erro com relação ao tema do suicídio é não falar sobre ele. O
psiquiatra aponta alguns pontos que precisam ser reforçados quando se aborda o
assunto. Confira cinco deles:
1.
Suicídio é coisa séria
A
Organização Mundial da Saúde aponta que o suicídio é a segunda causa de morte
que mais atinge os jovens de 15 a 29 anos no mundo. Além disso, só no Brasil,
uma pessoa comete suicídio a cada 45 minutos. “Pesquisas mostram que 9 a cada
10 pessoas que cometem suicídio tinham algum transtorno psiquiátrico”, afirma
Celso. Segundo ele, o
suicídio é uma realidade que não deve ser negada, e sim tratada
como um problema de
saúde pública.
2.
Não é preciso medo para falar sobre suicídio
“Já
está mais do que comprovado que falar sobre o assunto não agrava a situação,
muito pelo contrário, pode ajudar a tratar as pessoas que tenham essa
intenção”, diz. De acordo com o especialista, existem alguns pontos que devem
ser levados em consideração ao falar sobre o assunto. Para exemplificar, ele
cita a série 13 Reasons Why,
da Netflix. “A série tem o lado bom que é a promoção da discussão sobre o
assunto, mas há cuidados que precisam ser tomados na discussão sobre o tema que
ela aborda. Por exemplo, ela mostra a continuidade da personagem após a
morte por meio de um material que ela deixou. Isso gera a ilusão de que a
personagem continua interagindo com as pessoas que eram próximas, mas suicídio é morte. Isso
não invalida a arte, pelo contrário, discutir isso ajuda a falar do tema por
meio da reformulação das distorções que a série apresenta. ” (A série já está
em sua terceira temporada, disponível na plataforma de stream.)
3.
Pensamentos de morte
é uma coisa, ideação
suicida
é outra.
Celso
Lopes de Souza diferencia o pensamento de morte com a ideação de suicídio para
que as pessoas possam entender melhor a questão: “o pensamento de morte é mais
comum, a pessoa pensa ‘eu poderia morrer’, ou ‘eu queria morrer’. Já a ideação do suicídio é mais grave,
em que a pessoa pensa ‘eu quero me matar’”. Segundo o levantamento do Ibope, o
pensamento suicida não é levado a sério entre 28% dos homens e 32% das pessoas
acima de 55 anos. Celso explica que as pessoas que tem ideação suicida vivem os
3 “is”:
“sentem que a dor é impossível, insuportável e interminável, o que leva ao
desejo de querer tirar a própria vida. Elas claramente não conseguem perceber
sozinhas que esses "3i's" são distorções de percepção da realidade,
por isso precisam de ajuda”.
4.
É possível prevenir o suicídio
De
acordo com o especialista, falar sobre os sintomas que podem surgir antes e
durante uma intenção de suicídio é fundamental para que a pessoa busque ajuda.
“Sinais como isolamento,
corte de planejamentos futuros, uso de substâncias psicoativas e mensagens de
despedida são alguns pontos que devem ter atenção especializada”, diz. E também
há como prevenir os distúrbios psiquiátricos por meio da aprendizagem socioemocional,
em que crianças e adolescentes aprendem na escola sobre empatia, resiliência,
autoconhecimento e autocontrole, por exemplo. “Há farta evidência científica de
que a aprendizagem socioemocional é um fator de proteção para o surgimento de
transtornos psiquiátricos. No Programa Semente, nós oferecemos uma formação
socioemocional do Ensino Infantil ao Ensino Médio, e quanto mais isso for
exercitado, maiores as chances da diminuição de doenças como ansiedade e
depressão”, explica Celso. O levantamento do Ibope também mostra que 29% dos
jovens entre 18 e 24 anos não acreditam no tratamento bem-sucedido da
depressão, e segundo a OMS, pelo menos 30% da população mundial vai passar por
algum momento de depressão ao longo da vida.
5.
As campanhas de prevenção são fundamentais
O
Setembro Amarelo é uma oportunidade de conscientizar as pessoas e promover a
discussão sobre o tema do suicídio. Para Celso Lopes de Souza, as campanhas
“são muito importantes porque mostram que o suicídio e o pensamento suicida é
algo humano. E nelas deve haver as mensagens de que, primeiro, sempre há uma saída
e, segundo, tudo passa.”
Programa Semente
Parabéns pelo tema!
ResponderExcluirExcelente postagem!