Dados
da OMS apontam que a cada três segundos ocorre uma tentativa de suicídio no mundo,
e a cada 40 segundos um suicídio é cometido. Setembro Amarelo propõe o debate
sobre formas de mudar essa realidade
A Bahia registrou cerca de 400
suicídios em 2017, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda segundo as
estatísticas do Ministério, entre 2011 e 2015, 2.685 pessoas tiraram a própria
vida no nosso Estado. Estas vidas poderiam ser salvas com o tratamento
adequado, visto que praticamente 100% das pessoas que se matam sofrem com algum
transtorno mental. Justamente para promover a consciência de que sintomas como
sofrimento, ansiedade, angústia e tantos outros precisam de assistência
especializada, a Holiste Psiquiatria participa mais uma vez da campanha do
Setembro Amarelo, com o intuito de auxiliar o trabalho de conscientização e
prevenção do suicídio.
“Nos últimos anos, a
campanha do Setembro Amarelo vem ganhando visibilidade e força no Brasil. O
conhecimento da natureza do suicídio é relevante por ser uma das principais
causas de morte e lesões físicas entre jovens. A campanha de prevenção, em
diversos países, ajudou pessoas com pensamentos suicidas a serem acolhidas com
maior facilidade e teve impacto na redução das mortes juvenis”, pontua o
psiquiatra Victor Pablo da Silveira.
Embora seja uma das principais causas
de morte em todo o mundo - segundo dados da OMS aproximadamente 800 mil pessoas
tiram a própria vida a cada ano – o tema não recebe o investimento necessário
para campanhas de conscientização ou pesquisas, sendo tratado em sociedade como
um “tabu”.
Falar sobre o suicídio e sobre os
sinais de adoecimento psíquico que podem levar a esse ato extremo é a melhor
forma de esclarecer os riscos e auxiliar pacientes e famílias que convivem com
o problema, além de contribuir para que novos casos possam ser prevenidos, afirmam
os especialistas.
Sofrimento silencioso
Na maior parte dos casos,
o suicídio não expressa um desejo de morte, mas uma tentativa de alívio para um
sofrimento insuportável ou um pedido de socorro desesperado, ressalta o
psiquiatra Victor Pablo da Silveira. “Em momentos de maior serenidade há
perplexidade na mente das pessoas com comportamento suicida, porque
racionalmente não anseiam realmente morrer. Estão ávidas para falar com alguém
a respeito do que sentem e obter um acolhimento desprovido de julgamentos”,
alerta, destacando que, ao receber esse acolhimento e o devido tratamento, o
suicídio pode ser evitado.
Victor aponta que os comportamentos suicidas envolvem fenômenos
como a contemplação passageira da possibilidade de se matar, o que pode evoluir
para planejamentos vacilantes ou mais decididos, chegando às tentativas
desesperadas ou letais. Mais de 80% dos
casos ocorre em pessoas que têm sintomas de depressão
maior, mas também podem ocorrer em pessoas com temperamento explosivo/
impulsivo ou com problemas de uso e abuso de substâncias psicoativas, como
álcool e cocaína.
“O cotidiano de uma pessoa com potencial suicida pode ou não estar
associado a gestos de negligência com a própria saúde, queda da produtividade,
isolamento social, exposição a situações de risco e precariedade na qualidade
de vida. Muitas vezes a ocorrência de alguma adversidade ou mudança de vida
pode funcionar como gatilho para o impulso”, completa o psiquiatra da Holiste.
A dor de quem fica
O suicídio é um problema que se estende e atinge não apenas o
suicida, mas também todas as pessoas que
estão à sua volta. Quem convive com o suicídio ou com
a iminência dele, como familiares, amigos e
todos aqueles que de alguma forma estão diretamente envolvidos com
alguém que já tentou ou que pensa nessa
possibilidade, também pode apresentar adoecimento psíquico. Isso se agrava
quando se convive com o ato efetivado. Por isso, é importante estender o olhar
e perceber que estas pessoas também precisam de ajuda especializada.
“Aparentemente esse tipo de desfecho traz um peso maior do que
qualquer outro, pois deixa nas costas dos que ficaram a culpa por não ter
evitado ou não ter estado próximo o suficiente do ente querido para
salvá-lo desse destino fatal. Além disso, essas pessoas têm que conviver com os
riscos de um novo episódio na família, tendo em vista que muitos dos
motivadores do suicídio são psicopatologias de ordem hereditária, como a
depressão, e por isso podem reincidir, elevando o risco de novos episódios de
suicídio. Essas pessoas vivem atormentadas por um fantasma, o que pode levar ao
adoecimento psíquico, como transtornos de ansiedade e estresse”, afirma o
psicólogo da Holiste, Cláudio Melo.
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