Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta a
proibição da venda de dispositivos eletrônicos para fumar
Os vapes não devem ser usados nem como
terapia antitabagismo, alerta o presidente da Sociedade de Cardiologia do
Estado de São Paulo (Socesp), Dr. José Francisco Kerr Saraiva. Proibidos pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros
eletrônicos continuam sendo vendidos em lojas on-line e físicas, no entanto.
Por isso, o tema também merece destaque no Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29
de agosto.
De acordo com o Dr. Saraiva, os dois cigarros,
comum e eletrônico, contêm nicotina, substância que é altamente danosa ao
organismo: os sistemas respiratório e cardiovascular são os principais lesados.
"Estimulante da produção de dopamina e serotonina, hormônios ligados ao
prazer e bem-estar, o elemento contrai os vasos sanguíneos, aumentando a
pressão sanguínea e acelerando o coração, podendo ocasionar um infarto ou um Acidente
Vascular Cerebral", explica o cardiologista.
Mesmo as opções vendidas como sendo menos
prejudiciais, como os cigarros eletrônicos sem nicotina, não devem ser
consumidas. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Prevenção e Controle de
Doenças, nos Estados Unidos, em 2015, mostrou que o vapor gerado pelo aparelho
também pode causar inflamações pulmonares. Substâncias como a acroleína,
presente neste tipo de vape, são danosas às moléculas que mantêm as células
endoteliais unidas.
O "e-cigarro" é composto, normalmente,
por uma lâmpada de LED, bateria, microprocessador, sensor, atomizador e
cartucho de nicotina líquida. Esta última é aquecida por uma pequena
resistência, fazendo com que se torne vapor. "Existe uma falsa sensação de
segurança conferida ao fumante, conforme documento elaborado pela Anvisa em
2017. Por isso, é muito importante restringir esse tipo de aparelho",
afirma Dr. Márcio Sousa, especializado em Tabagismo e cardiologista da
Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).
Relatório da Convenção Quadro para o Controle do
Tabaco, da Organização Mundial da Saúde (OMS), pede para que os 181 países
participantes proíbam dispositivos eletrônicos para fumar. "Uma das
estratégias da indústria para driblar as restrições e atrair jovens é colocar
sabores no aparelho. É uma espécie de armadilha para fazer com que as pessoas
viciem-se em um produto muito lucrativo para um mercado ilegal", ressalta
Dr. Sousa.
Estima-se que 90% dos fumantes iniciaram a prática
antes dos 19 anos e o vaper pode ser um atrativo sedutor aos
adolescentes, induzindo a um novo vício. Embora o Brasil tenha se tornado a
segunda nação do mundo a adotar todas as recomendações da Organização Mundial
da Saúde (OMS) para o combate ao tabagismo, a dependência ainda mata cerca de 430
pessoas por dia, conforme dados do Instituto Nacional de câncer (Inca). Se o
hábito de fumar fosse abolido, mais de 156 mil vidas seriam poupadas anualmente
no País.
O tabaco agride o endotélio, a parede de células
que recobre os vasos sanguíneos, e interfere na produção de óxido nítrico,
tornando as artérias mais suscetíveis à formação de placas arteroscletróticas.
"O cigarro também acelera a oxidação do colesterol e, em associação à
pílula anticoncepcional, pode aumentar o risco de Acidente Vascular Cerebral
(AVC) em mulheres. Nenhuma quantidade de cigarros é segura. Apenas um já pode
causar diversos malefícios à saúde", destaca Dr. Sousa.
Em 2009, a Anvisa publicou a Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) 46/2009, que proibiu a comercialização, a importação e a
propaganda de cigarros eletrônicos. Desde 2016, a agência atualiza e levanta
novas informações sobre o tema, como a revisão técnica da publicação
"Cigarros eletrônicos: o que sabemos?", a inclusão do tema na Agenda
Regulatória, em 2017, e a realização do Painel Técnico para discussão desses
dispositivos, em 2018.
Combate ao tabagismo
Tratar de forma medicamentosa os fumantes, com
acompanhamento médico, é uma das maneiras mais eficazes para o abandono do
vício. Além disso, de acordo com o Dr. Saraiva, a adoção de leis que dificultem
o consumo do tabaco é outro modo de melhorar os índices de saúde brasileiros.
"Um avanço relevante foi a entrada em vigor,
há dez anos, da Lei Antifumo no Estado de São Paulo, que tem a maior população
do País", salienta o presidente da Socesp, afirmando: "devemos
comemorar esse importante aniversário, considerando que, nos primeiros oito
anos de vigência da norma, os consumidores de cigarros na capital paulista
diminuíram de 18,8% dos paulistanos, em 2009, para 14,2%". A lei, que
entrou em vigor no mês de agosto de 2009, proibiu fumar em lugares fechados.
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