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terça-feira, 27 de agosto de 2019

Anticoncepção em mulheres com epilepsia, câncer, obesidade, depressão e alterações de humor, e que passaram por cirurgia bariátrica e transplante


Para abordar o tema Manejo da anticoncepção em situações não habituais, o diretor de Comunicações da Associação Paulista de Medicina, Everaldo Porto Cunha, coordenou mesa de debates sobre o assunto no segundo dia (23 de agosto) da 24ª edição do Congresso da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), com a participação de quase mil pessoas.   

“Quando prescrevemos um medicamento, neste caso específico a pílula anticoncepcional, temos de nos atentar aos aspectos da eficácia e segurança, sobretudo quando se envolve pacientes com depressão, alterações do humor, transplante, câncer ou risco aumentado para outros tipos de cânceres, obesidade ou que tenha feito uma cirurgia bariátrica, entre outros casos de risco, situações conhecidas como não habituais. Isso atrai um grupo grande de profissionais”, esclarece Cunha. 

Na primeira aula, Anticoncepção em mulheres com epilepsia, a palestrante Carolina Sales Vieira Macedo afirma que, além da gravidez não planejada em muitas ocorrências, há uma taxa considerável de má formação embrionária em razão do uso de drogas anticonvulsivantes. “No nosso País, onde a mulher não tem acesso à interrupção de gravidez, temos de ter muita responsabilidade para não se permitir o uso de anticonvulsivante durante a gestação.” 

Segundo a especialista, quanto ao efeito das drogas anticonvulsivante sobre o contraceptivo, nas mulheres epiléticas o ponto-chave é não haver interação com a droga anticonvulsivante. “É fundamental avaliar se há interação de anticonvulsivante e contraceptivo e escolher o mais seguro nesses casos. Em epilepsia catamenial (crises como manifestação pré-menstrual), é necessário usar contraceptivos que bloqueiem a ovulação”, disse a ginecologista. 

Nessa linha, o especialista Luciano de Melo Pompei, que ministrou a aula Anticoncepção na depressão e alterações de humor, acredita que há uma limitação de informação a respeito de doenças psicológicas, inclusive à prescrição de anticoncepcionais. “As informações que temos até hoje é que não há interferência nos antidepressivos propriamente ditos. Pelos dados, os anticoncepcionais têm um impacto muito pequeno sob o ponto de vista clínico na questão da depressão e das alterações de humor, frente ao benefício da anticoncepção”, explica.  

Já sobre a temática Anticoncepção e câncer, o palestrante Rogério Bonassi Machado afirma que contraceptivos orais reduzem o risco de cânceres de endométrio e de ovário. “Também não há evidências do aumento do risco dessas neoplasias com o uso de métodos intrauterinos. Existe discreto aumento no risco de câncer de mama com o uso dos contraceptivos hormonais, mas o impacto clínico dos achados epidemiológicos ainda não é conclusivo”, acrescenta.  

Obesidade, cirurgia bariátrica e transplantes  
“Obesas têm maior risco de complicações gestacionais em casos de hipertensão, diabetes, pré-eclâmpsia, hemorragia pós-parto, macrossomia fetal e restrição de crescimento”, informou a ginecologista Arícia Helena Galvão Giribela na aula Anticoncepção na mulher obesa e pós-cirurgia bariátrica. 

De acordo com a especialista, a obesidade isoladamente aumenta no mínimo duas vezes o risco de tromboembolismo venoso, apresenta maior risco de doença cardiovascular e metabólica e reduz a fertilidade (anovulação). Arícia destaca que a maioria das pesquisas não mostra associação em mulheres acima de 70 quilogramas e índice de massa corporal (IMC) maior do que 30. “Os estudos mostram associação de perda contraceptiva pequena e há uma crítica relacionada à maior atividade ovariana na pausa. Uma das sugestões que se tem hoje para que a dúvida seja esclarecida é usar o menor intervalo livre de hormônio ou ainda a contracepção contínua em mulheres obesas.” 

Em relação a mulheres pós-cirurgia bariátrica, os níveis de eficácia são comparativos em obesas e não obesas, mas nos primeiros seis meses observa-se um nível menor, o que ainda não é considerado como perda de eficácia. “Após a cirurgia, é fundamental evitar a gestação por um intervalo de 12 a 24 meses, principalmente porque há uma deficiência nutricional e aumento de risco de parto prematuro. Após um ano ou estabilidade do peso, 70% dessas mulheres voltam a ter fertilidade normal e acabam com a obesidade muitas vezes. A falha contraceptiva, muitas vezes, é considerada só para aquelas pacientes que têm absorção inadequada após cirurgia”, explica a ginecologista. 

Por fim, em Anticoncepção em mulheres transplantadas, a especialista Cristina Aparecida Falbo Guazzelli rememora que o Brasil está em segundo lugar na posição de transplantes mundiais, com quase 6 mil por ano. No grupo feminino, nos últimos 10 anos, cerca de 90% das mulheres que tiveram transplantes sobreviveram. “Isso quer dizer que cada vez mais teremos pacientes transplantadas em toda a idade reprodutiva e precisamos nos preocupar em orientá-las quanto à escolha do método contraceptivo”, alerta. 

No entanto, estudo publicado em 2008 mostra que 90% das pacientes engravidaram pós-transplante sem planejamento. “Esses dados são semelhantes a outros levantamentos mundiais, como da China. Isso faz com que as pacientes engravidem em um momento inadequado. No entanto, desse público, menos de 50% delas receberam orientações anticonceptivas”, crítica a especialista.

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