Entender o ambiente auditivo da UTIN abre caminho
para intervenções que reduzem altos níveis de som adversos e aprimoram formas
positivas de exposição auditiva, como a linguagem
Os
bebês prematuros frequentemente passam as primeiras semanas de vida em unidades
de terapia intensiva neonatal (UTINs), onde, idealmente, estariam protegidos da
demasiada exposição a ruídos. No entanto, pesquisadores da Escola de Medicina
da Universidade de Washington, em St. Louis, descobriram que os prematuros
podem estar submetidos a níveis de ruído mais altos do que aqueles considerados
seguros pela Academia Americana de Pediatria, AAP.
Por
outro lado, os pesquisadores também descobriram que alguns prematuros podem não
receber exposição suficiente a sons benéficos, como linguagem e música, que
podem melhorar o seu desenvolvimento. Foi avaliado que, em salas privadas, que
são cada vez mais comuns na UTINs, os bebês se deparam com períodos muito mais
longos de silêncio do que em unidades onde vários berços estão na mesma sala.
Eles também observaram que muitos dos sons nas UTINs são de natureza mecânica e
muito diferentes dos sons benéficos da voz humana. O estudo foi publicado em 8 de fevereiro no The
Journal of Pediatrics.
Sabemos
que uma certa exposição ao som, mesmo entre os pré-adolescentes, pode ser
benéfica. “Mas os sons no ambiente das unidades de terapia intensiva neonatal
não ocorrem isoladamente, por exemplo, quando os pais falam com seus
recém-nascidos, eles também costumam segurar e acariciar seus bebês - tudo o
que ajuda a promover o desenvolvimento saudável”, afirma o pediatra e homeopata
Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
A importância dos sons
Os
pesquisadores decidiram se debruçar sobre o estudo do som nas UTINs porque uma
pesquisa anterior do mesmo grupo indicou que, em comparação com as crianças em
leitos abertos nos hospitais, os bebês internados nas salas privadas das UTINs
apresentaram desenvolvimento de linguagem mais pobre aos 2 anos de idade.
“Muitas
coisas podem influenciar o desenvolvimento de um bebê prematuro, mas os
pesquisadores acreditam que os quartos privados das UTINs podem ser tranquilos
demais, especialmente quando os pais são incapazes de visitar e de se envolver
no cuidado de seus bebês. A conclusão vem do uso de dispositivos digitais de
processamento de linguagem para capturar todos os sons nos ambientes dos prematuros”,
conta o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e
Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Os
aparelhos foram pendurados na cabeceira de 58 recém-nascidos prematuros na UTIN
do Hospital Infantil de St. Louis - 33 berços estavam em uma sala aberta e 25
em salas privadas. Os dispositivos foram colocados perto das cabeças dos bebês
para capturar os sons aos quais os bebês foram expostos.
Todos
os bebês nasceram com 28 semanas de gestação, ou antes, e as gravações foram
feitas dentro de duas semanas após o nascimento de cada prematuro; novamente às
30 semanas, às 34 semanas e depois em cerca de 40 semanas, quando os bebês são
considerados de termo.
Os
pesquisadores descobriram que o nível de ruído médio na UTIN foi pouco menos de
59 decibéis, com níveis de pico de ruído chegando a quase 87 decibéis. A
Academia Americana de Pediatria recomenda evitar níveis acima de 45 decibéis.
Muitas vezes, o ruído medido provinha de equipamentos médicos essenciais para a
sobrevivência do bebê. E estes equipamentos são usados nas unidades neonatais
ao redor do mundo.
Os
níveis de decibéis dos alarmes dos equipamentos nas UTINs foram reduzidos nos
últimos anos. Os alarmes alertam as enfermeiras quando um bebê precisa de
atenção, mas os alarmes não são tão altos quanto os modelos anteriores e alguns
até tocam uma canção de ninar para chamar a atenção.
Ventiladores,
no entanto, fazem muito barulho e são essenciais para alguns prematuros com
problemas respiratórios. Um ventilador (respirador artificial) é uma
intervenção necessária, que salva vidas, mas produz uma série de ruídos
não-naturais durante um período crítico para o desenvolvimento do sistema
auditivo.
Conclusões
“A
equipe de pesquisadores também descobriu que, à medida que os prematuros
aproximavam-se das datas em que deveriam ter nascido, os ruídos diminuíram, o
que pode ser explicado pelo fato de que muitos não precisam mais da
assistência de máquinas e outros equipamentos médicos. A exposição à fala
também aumentou ao longo do tempo, mas chamou atenção o fato de que havia, em
geral, muito pouca exposição à linguagem significativa, apenas 30-35 minutos
durante um período de 16 horas”, afirma Moises Chencinski.
Os
pesquisadores também observaram que os bebês, em salas privadas, tendem a ser
mais expostos a mais períodos de silêncio. Durante o período de 16 horas, no
qual os ruídos foram auferidos, esses bebês experimentaram, em média, quase
duas horas a mais de silêncio.
Foi
feito um estudo-piloto para avaliar sons e outros estímulos que poderiam ajudar
os bebês prematuros a se desenvolver enquanto lutam durante as primeiras
semanas de vida fora do útero.
“A
intervenção centra-se no envolvimento dos pais na prestação de exposições
sensoriais adequadas para os seus filhos, porque o envolvimento dos pais pode
ser uma poderosa ajuda para o desenvolvimento saudável. O estudo recente também
constatou que os bebês foram expostos a mais linguagem, quando seus pais
estavam presentes, sugerindo que os pais podem ter um grande impacto sobre o
meio ambiente da UTIN”, destaca o pediatra.
No
entanto, as intervenções para cada criança serão diferentes com base em quais
complicações médicas estão presentes, bem como em quão imaturo o bebê pode ser.
Se um bebê nasce 2 meses e meio antes de sua data de parto, por exemplo,
podemos recomendar o contato pele a pele e falar com o bebê. “Já quando a
criança se aproxima do que é considerado o nascimento a termo, o bebê também
pode se beneficiar do movimento e do balanço, além do fato de ser mantido no
colo, por longos períodos, da leitura, de conversas e de música, dentre outros
sons. Ensinar os pais a agir dessa forma não só fornecerá estímulos ao bebê,
mas também estabelecerá a criação de vínculos com ele, o que pode se traduzir
em melhor desenvolvimento a longo prazo”, defende o médico.
Moises
Chencinski
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