Difícil entender a conduta de muitos
brasileiros. A parcela mais significativa do eleitorado é, historicamente,
sensível às mais demagógicas promessas populistas. A biografia de muitos que
entraram para nossa história como líderes benquistos e o catálogo de suas
principais realizações não resiste ao crivo da relação benefício-custo e ao
escrutínio de suas consequências. O Brasil anda devagar e o futuro é um horizonte
que se afasta. De Getúlio para cá, incluindo o próprio, o populismo nos
presenteou pela urna Juscelino, Jânio, Collor, Lula e Dilma. Não era outro o
ânimo dos vices Jango e Sarney. Escaparam-se, em tempos recentes, o saudoso
Itamar Franco e FHC em sua primeira eleição como cavalo do comissário de um
governo bem sucedido. Já não se diga o mesmo dele em 1998, pois a reeleição
enviou às favas os critérios do primeiro mandato.
Recordista mundial em número de
sindicatos, o Brasil cria 250 novas organizações desse tipo por ano. Segundo a
revista Veja, em outubro do ano passado, havia 16.293 deles, prontos para
servir de sinecura a dirigentes e de complicador às relações de trabalho. O
motivo pelo qual os temos em tal quantidade (125 vezes mais do que os Estados
Unidos e 180 vezes mais do que a Argentina) é o mesmo pelo qual são tantos os
nossos partidos políticos. Há muito dinheiro fácil para uns e outros.
"Nenhum direito a menos!",
lia-se em faixa de passeata ocorrida há dois dias em Porto Alegre. "Queremos
mais direitos e não menos!" proclamava outra, no mesmo evento. Ora, quem
disse que muitos direitos são vantajosos ao trabalhador? Fosse assim, Portugal
e Espanha estariam recebendo trabalhadores alemães e ingleses. No entanto, o
que acontece é o contrário. Recursos humanos de países super-regulamentados
migram para países onde as relações são mais livres. Aqueles têm as economias
mais travadas e pagam salários mais baixos; estes são mais ágeis, prósperos e
pagam salários mais altos. Li outro dia que na Venezuela, onde a lei proíbe a
demissão de quem ganha salário mínimo, os trabalhadores, por motivos óbvios,
têm medo de ser promovidos.
Então, o Brasil preserva instituições
irracionais, verdadeiras usinas de crises que promovem cíclica instabilidade da
vida social e econômica. Cultua leis incompatíveis com o tempo presente como se
fossem preciosidades jurídicas e esplêndidas realizações da generosidade
política. Mas ai de quem propuser alteração em estatutos anacrônicos como os da
previdência social e das relações de trabalho! Mas e o Brasil, deputado? Ora, o
Brasil! Empregado tem nome e CPF. A empregabilidade não rende votos e o
desempregado não tem sindicato.
A infeliz combinação de populismo,
corrupção e leis erradas produziu a recessão, gerou 12,5 milhões de
desempregados e derrubou a renda real dos brasileiros. Essa queda, porém, foi
muito assimétrica, proporcionalmente maior para que ganha menos, chegando a
100% para o universo dos desempregados. Isso está muito errado!
Sim, mas não mexe, parecem dizer as
próprias vítimas do perverso populismo e os eternos incendiários do circo
alheio. Assim, o mero futuro já é uma utopia.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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