Um estudo encomendado pela Tetra Pak apontou que 38% das crianças consumiram mais doces durante a pandemia. Intitulada “O Universo da Lancheira”, e realizada pela Play Pesquisa, a empresa ouviu 720 crianças de 3 a 2 anos, e 1200 adultos de São Paulo, Recife, Fortaleza, Goiânia e Porto Alegre, entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021.
Passando mais tempo em casa, da mesma forma que os
pais admitiram que as crianças estavam consumindo alimentos mais saudáveis, por
outro, também aumentaram o consumo de doces e guloseimas. O problema é que o
aumento do consumo de doces desde o início da pandemia, quando todos estavam
isolados em casa, podem ter consequências agora, quase dois anos depois. Isso
porque com o hábito de comer doces já instalado, difícil é tirar da criança
essa vontade de comer um docinho no dia a dia.
Para a odontopediatra Helenice Biancalana, Mestre
em saúde da criança e do adolescente pela Faculdade de Ciências Médicas, da
UNICAMP, especialista em Odontopediatria e Ortopedia Funcional dos maxilares,
vice-presidente da Associação Paulista de Odontopediatria APO/ABOPED e
professora de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da APCD – FAO, os
hábitos alimentares da família são responsáveis pela qualidade e quantidade dos
alimentos que a criança ingere. “Se os pais tiverem uma dieta rica em açúcar,
carboidratos, sódio (sal), lipídios (gordura), muito provavelmente os filhos
também terão. O problema é que o açúcar quando consumido em excesso é
considerado um dos vilões para o desequilíbrio da saúde bucal. Isso sem contar
os riscos de obesidade e doenças crônicas como as cardiovasculares, diabetes e
hipertensão”, afirma.
Segundo a especialista, os efeitos nutricionais
responsáveis pelo início da formação dos dentes e do sistema estomatognático
(face), requerem energia e nutrientes específicos para a sua fisiologia.
“Dessa forma, períodos de desnutrição prolongados durante a infância
também podem levar a limitação do desenvolvimento de órgãos como o cérebro e as
glândulas salivares, provocando diminuição do fluxo salivar, além de atraso no
nascimento dos dentes de leite”, alerta.
Sem doces e guloseimas até os dois anos de vida
Para promover uma saúde dentária desde o nascimento
até a crianças maiores, a especialista orienta que nos primeiros 1.000 dias de
vida do bebê (período que compreende os 270 dias da gestação até o segundo ano
de vida), é de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento
infantil, que os pequenos não consumam doces e nem alimentos industrializados.
É importante frisar que a alimentação que a mãe
recebe durante a gestação possuem elementos que ajudam a constituir o
desenvolvimento do paladar infantil. “Durante a amamentação no seio materno, a
criança também entra em contato com essas referências em seus hábitos
alimentares, além de receber nutrientes”, afirma. Por isso é tão recomendado
que a criança não consuma açúcar nesse período. “Frutas e bebidas não devem ser
adoçadas. Também não devem ser oferecidas preparações que tenham o ingrediente,
como bolos, biscoitos, doces e geleias”, justifica.
Açúcar escondido
A especialista lembra que o açúcar também está
presente em grande parte dos alimentos ultraprocessados, achocolatados, bebidas
açucaradas, cereais matinais, gelatina em pó com sabor, mingaus instantâneos
preparados com farinhas, guloseimas como balas, chicletes, pirulitos e
chocolates, além de biscoitos e bolachas doces. “Alimentos ricos em açúcar,
seja o de adição ou o que está presente nos ultraprocessados, apresentam uma
composição nutricional desbalanceada e um maior teor energético, caracterizando
um padrão alimentar de baixa qualidade nutricional”, alerta. “Como
consequência, esse tipo de alimento pode levar ao ganho de peso excessivo,
surgimento de placa bacteriana e cárie nos dentes, além de outras doenças
associadas”, endossa. Por último, mas não menos importante, a especialista
lembra que a presença dos sabores doces na infância contribui para a
constituição do paladar que pede mais açúcar depois.
Dicas para uma dentição sadia entre as crianças:
- A rotina dentro de casa deve ser estabelecida
pela família, com a alimentação e higienização bucal, lembrando que o bebê deve
ter os seus dentinhos escovados pelos pais, desde o primeiro dente que
erupciona (nasce), com escova infantil, indicada para a idade e creme dental
com flúor, no mínimo com 1100 ppm, com quantidade equivalente a um grão de
arroz.
- O bebê alimentado exclusivamente no seio materno
(sem nenhum outro líquido) até os seis meses de idade, não tem a necessidade de
higienizar a boca com gaze umedecida em água filtrada, mas é recomendável que a
boca faça parte dos cuidados diários, com um olhar para a língua, bochechas,
mucosas, identificando a normalidade (rósea), e se necessário, passar a gaze
umedecida em água filtrada.
-. A partir de 3 anos, identificando que a criança
consegue cuspir o excesso de creme dental que fica na boca, a quantidade de
creme dental pode aumentar para o equivalente a um grão de ervilha. Sempre
lembrando que não é a escova lotada de creme dental que dá a eficiência à
escovação, e sim os movimentos que a escova faz para a remoção dos restos de
alimentos sobre os dentes.
- O uso da escova de dentes para adultos é
recomendado após a erupção de todos os dentes permanentes, por volta dos 14
anos de idade. E o creme dental com flúor deve ter a concentração de 1450ppm.
- O hábito de usar o fio dental deve ser
incorporado à higiene bucal do bebê desde cedo, complementando à escovação.
Assim que os dentes de leite já permitirem o uso, o fio dental já pode ser
utilizado.
- O enxaguante é importante para complementar a
higienização bucal, principalmente à noite. Mas a recomendação é que somente a
partir dos 12 anos ele seja utilizado pelas crianças. Abaixo dessa idade, a
criança tem o risco de engolir o produto, que em excesso poderá acarretar
efeitos indesejados.
- A visita ao dentista deve começar durante a
gestação, quando a futura mamãe deve também fazer o pré-natal odontológico,
cuidando da sua saúde bucal e recebendo todas as orientações sobre os cuidados
necessários com o bebê que irá nascer.
- Da mesma forma que a criança é levada ao médico
pediatra, tão logo nasça, também deve levá-lo à odontopediatra. As consultas
devem ser feitas, de preferência a cada seis meses.
- Lembre-se, a família constrói os hábitos
saudáveis, servindo de exemplo para os filhos também seguirem o mesmo caminho.
Fora de casa, quando maiores, as crianças podem até ter o acesso, mas é no
cuidado domiciliar que se atinge o equilíbrio.
Fonte: Helenice Biancalana, odontopediatra, Mestre em
saúde da criança e do adolescente pela Faculdade de Ciências Médicas, da
UNICAMP, especialista em Odontopediatria e Ortopedia Funcional dos maxilares,
vice-presidente da Associação Paulista de Odontopediatria APO/ABOPED e
professora de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da APCD – FAO.
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