Mais de dez estados
brasileiros já retomaram as aulas presenciais em 2021 e, a partir da próxima
segunda-feira (18), os alunos de escolas públicas e particulares do Estado de
São Paulo voltam, obrigatoriamente, para as escolas. O retorno em São Paulo
acontece 19 meses depois da suspensão completa de aulas no formato convencional
por conta da pandemia de COVID19. Mais do que voltar para a escola, em muitos
casos, os estudantes recomeçam os estudos presenciais após um período de
intensos desafios pessoais, que, em muitos casos, os afastaram da rota de
aprendizagem em que estavam inseridos.
Emoções na pandemia
Para Livia Ciacci,
neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro, os obstáculos para o
processo de aprendizagem durante as aulas remotas estão diretamente ligados à
emoção dos estudantes. Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais que
surgem quando o cérebro recebe um estímulo externo. No contexto da pandemia da
Covid-19, houve um predomínio de emoções negativas e um estado de alerta
constante, com risco à sobrevivência.
“Toda vez que o cérebro
julga o ambiente como ‘ameaçador’, uma área cerebral chamada amígdala vai
estimular outras regiões produzindo respostas de luta ou fuga. Quando está
neste momento, o cérebro foca apenas na reação, não se motiva a aprender e tem
dificuldade para socializar”, explicou a neurocientista do Método Supera –
Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.
Por outro lado, quando
alguém julga o ambiente como “seguro”, os mecanismos inibitórios que controlam
as respostas de luta-fuga se mantém ativos. “Nessa situação, as vias neurais
ativadas preparam o corpo para o contato social deixando os processos mentais
como atenção, raciocínio e concentração livres para funcionar. O desafio dos
educadores nesta retomada está em principalmente tornar o ambiente seguro para
todos os envolvidos, alunos e professores, o que vai impactar diretamente na
capacidade de assimilar novas informações”, detalhou a especialista.
Aluno validado e
aprendendo mais
Estudos recentes mostraram
que os processos cognitivos e emocionais estão profundamente ligados. A emoção
é parte integrante do processo de raciocínio e o auxilia em vez de
atrapalhá-lo, como se costumava pensar antes. “A emoção afeta o processo
de retenção das informações e a memória e é altamente dependente do significado
que atribuímos às coisas e acontecimentos. Comprovamos isso quando executamos
exercícios mentais (ábaco, jogos, enigmas etc.) para a atenção, raciocínio
lógico e memória - onde a prática leva ao prazer de melhorar as funções, e o
prazer motiva a tentar um desafio mais difícil, ou seja: tudo está ligado e por
isso é tão importante neste processo de retomada validar os sentimentos de
crianças e adolescentes”, lembrou a especialista, que completou “A motivação
atua no sistema de recompensa do cérebro. Quando um aluno é afetado
positivamente por algo, ele se interessa, e então ele entende e consegue
resolver um desafio novo. Ao conseguir superar o desafio o cérebro ativo os
centros de recompensa e gera a sensação de bem-estar que mobiliza a atenção da
pessoa e reforça o comportamento dela em relação ao assunto que a afetou”,
lembrou Livia Ciacci, Neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro.
Como ajudar as crianças a
retomar o interesse pela escola?
Ao longo da pandemia,
inúmeros levantamentos comprovaram os impactos psíquicos decorrentes do
isolamento social em diferentes faixas etárias. Em especial aos jovens a
pandemia levou ao uso excessivo de redes sociais e aumento dos sintomas de
ansiedade, estresse e tristeza. “Quando pensamos que os jovens são um público
que interage muito nas redes sociais, há uma tendência de eles voltarem à
convivência presencial ainda “viciados” nas checagens constantes e dificuldade
de concentração. Os estudantes ainda podem voltar trazendo emoções acumuladas
nas tensões familiares e das experiências vividas no ensino remoto. Não há uma
receita para o acolhimento perfeito, mas a maior preocupação daqui em diante
deve ser a de criar um clima de segurança afetiva, só assim as emoções vão
abrir caminho para o aspecto intelectual.
Validando sentimentos
Sabendo que os sentimentos
positivos ou negativos interferem nos processos mentais mais complexos, como a
tomada de decisão e o controle dos comportamentos, o foco da escola, segundo a
especialista, deve ser na aceitação das diferenças e limitações de cada um, sem
ignorar os impactos da pandemia em diferentes realidades
sociais. “Estratégias personalizadas para que os alunos se autoavaliem e
participem ativamente das metas que eles buscarão atingir podem ajudar na
motivação. É hora de plantar a esperança, cada aluno deve sentir que ali é um
lugar onde ele pode sentir o prazer de conseguir - seja qual for o seu
interesse”, concluiu Livia Ciacci.
Confira algumas dicas que
podem ajudar neste processo:
· Melhore as conexões
emocionais com as matérias a serem aprendidas, levando em conta as referências
que fazem sentido para a geração;
· Criar avaliações
colaborativas, favorecendo mais a discussão e construção de conceitos do que as
respostas certas;
· Inclua a possibilidade de
cometer erros e aprender com eles, usando estratégias que valorizem o erro;
· Não é hora de “marcar
provas” coletivas ou de comparar desempenhos, aliás, qualquer rotina escolar
que dê margem para o clima de ameaça, opressão, vexame ou de desvalorização do
esforço pessoal, vai fazer o sistema límbico, situado no meio do cérebro,
bloqueie o funcionamento das funções cognitivas de integração que permitem a
resolução de problemas;
· O estudante, com seu
repertório pessoal de vivências, deve avaliar o ambiente escolar e dar o
colorido afetivo instantâneo, esse julgamento vai orientá-lo subjetivamente
para tomar decisões. Se o objetivo é ter crianças e adolescentes motivados, as
equipes escolares precisam oferecer uma recepção que favoreça os sentimentos
positivos;
· Tarefas muito difíceis ou
muito fáceis não ativam o sistema de recompensa, como resultado, desmotivam e
deixam o cérebro frustrado. Por isso são abandonadas ou evitadas. Qualquer
receita para uma capacidade de aprender deve incluir: Um ambiente seguro para
tentar e errar a vontade, pessoas dispostas a tornar os temas interessantes,
níveis de dificuldade que propiciem o prazer de conseguir.
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