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sábado, 30 de outubro de 2021

NOSSAS NOTAS CULTURAIS


Estado de civilização. O estado de uma civilização é um emaranhado de muitas coisas com cada uma delas influenciando e recebendo influência das outras. Definição do dicionário: “conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade” (Houaiss).


Esse conjunto de aspectos é enredo intrincado, não simples justaposição. A quadra de que saímos e a que vivemos: punitivismo penal, rancores contra gêneros “não convencionais”, corrupção que era e que é, milicianos na política, religiosos controlando comissões do Parlamento e o próprio Executivo. É a triste música nascida das nossas notas culturais.


Distintas partituras culturais registram distintos sons sociais: “Segundo o site The Greenest Post, a Holanda [seguindo a Suécia] recentemente fechou 19 presídios por ausência de ocupantes! Desde 2009 o Ministro da Justiça holandês tem destacado a redução no índice de criminalidade no país.


Outro ponto importante é que, para as infrações leves, foi implementado o sistema de monitoramento eletrônico em substituição ao cumprimento de pena em prisões, uma vez que tal medida possibilita que essas pessoas continuem trabalhando e colaborando para a economia do país” (
http://migre.me/rHLLb).


Creio que as notas culturais gerais pela Europa são outras: a Inglaterra “fecha cerca de 20 igrejas por ano. Cerca de 200 igrejas dinamarquesas foram consideradas inviáveis ou subutilizadas em 2014. Na Alemanha, 515 igrejas católicas fecharam nos últimos 10 anos.


Na Holanda a tendência parece ser a mais avançada. É estimado que 700 igrejas protestantes fechem as portas nos próximos quatro anos naquele país, conhecido pelo forte ateísmo e pelo respeito à agenda política homossexual, à eutanásia, ao aborto e às drogas” (
http://migre.me/rHNbl).


Este último site é religioso; a matéria é expressão de pesar. Confirma, todavia, a minha hipótese: não por acaso temos situação inversa à europeia: presidente religioso, deputados religiosos, magistrados religiosos, agressões a homossexuais, proibição da eutanásia, aborto na ilegalidade e guerra às drogas. Isso compõe o todo da nossa música social.


Nós temos outras características invertidas com relação a esses países que vivem um “ateísmo materialista” e “toleram o pecado”: considerando educação, saúde, distribuição de renda, igualdade entre sexos, violência, transportes etc., a Holanda está entre os primeiros países do mundo; o Brasil, em tudo isso, entre os últimos.


Há dois caminhos que se dirigem para lugares diferentes e que levam as pessoas a conviverem em mais ou menos harmonia social. Um é o do estudo: para a cultura geral, bibliotecas e o do hábito de frequentá-las: o Brasil tem uma biblioteca para cada 33 mil habitantes. Desconfio da qualidade dessas bibliotecas e estou seguro da baixa frequência. Para uma melhor formação geral, ensino primário; para desempenho intelectual, universidades.


Porém, a “educação brasileira está em último lugar em ranking de competitividade. Um estudo elaborado pelo IMD World Competitiveness Center comparou a prosperidade e a competitividade de 64 nações. No eixo que avalia a educação, o Brasil teve a pior avaliação entre as nações analisadas, alcançando a 64ª posição (Rodrigo Maia, Thais Herédia e Larissa Coelho, CNNBrasil, 17jun21editado).


Ademais, “entre os brasileiros de 25 a 34 anos, apenas 21% concluíram um curso universitário. Taxa inferior à de países da região como a Colômbia (30%), Chile (34%) e Argentina (40%). Nações campeãs: Coréia do Sul (70%), Canadá (63%), Rússia e Japão (ambos com 62%). Fala-se de quantidade. Se introduzirmos a questão da qualidade na equação, a situação do Brasil é ainda pior” (FSP, 18ago21, editado).


O outro caminho é o nosso predileto: o das igrejas. “Evangélicos abrem 14 mil igrejas por ano.


A nossa partitura de História: escravatura, coronelismo, hierarquia social, corrupção. Ademais disso, religião. Por sobre tudo isso, a causa das outras causas: somos ignorantes. Não surpreende, pois: enquanto europeus fecham presídios e igrejas, nós elegemos donos de templos, que pedem mais prisões. E ninguém pede biblioteca.

 

Léo Rosa de Andrade

Doutor em Direito pela UFSC.

Psicanalista e Jornalista.


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