O otorrinolaringologista Dr Guilherme Scheibel revela quais as chances desse procedimento não trazer o resultado esperado e explica como funciona a rinoplastia de revisão
Não é de hoje que o brasileiro recorre às cirurgias plásticas para melhorar sua aparência ou para corrigir algum problema respiratório. Em 2020, o Brasil se tornou o país que mais realiza esse tipo de procedimento no mundo, desbancando os Estados Unidos e diversos países da Europa, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS).
A rinoplastia, voltada para a estética do nariz, é uma das mais procuradas. Mas o que começa como um sonho para muitos pacientes que decidem realizar a cirurgia, se transforma em verdadeiro pesadelo quando o procedimento não traz o resultado esperado. O Dr Guilherme Scheibel explica quais as chances de uma rinoplastia dar errado – em alguns casos, que acabam ganhando repercussão na internet, o procedimento chega a deformar o nariz e dificultar a respiração.
"Existem muitos fatores que influenciam o resultado de uma rinoplastia, sejam eles ruins ou bons. A escolha do cirurgião é parte importante disso. Há muitas técnicas que podem proporcionar resultados diferentes, além disso, cada médico tem um senso estético e, na hora de escolher o profissional, é importante levar tudo isso em consideração.
De nada adianta você desejar um tipo de nariz que o médico que vai fazer não costuma alcançar em seus resultados. E infelizmente, muitos cirurgiões não levam em consideração os traços naturais do rosto de cada paciente, além de utilizarem técnicas ultrapassadas, chegando a um resultado nada harmônico e que pode provocar queixas de insatisfação de difícil correção".
Além da ação dos profissionais, as expectativas irreais dos pacientes também podem levar a possíveis frustrações.
"A expectativa do paciente deve ser muito bem avaliada e o preparo emocional direciona esse processo. Hoje em dia, filtros e aplicativos de correção de fotos tem gerado uma expectativa irreal e disso pode vir muitas frustrações, pois o nariz gerado artificialmente muitas vezes não pode ser alcançado com nenhuma cirurgia. Por isso, se faz tão importante a presença de um psicólogo na equipe para ajudar a identificar esses fatores que podem causar insatisfações futuras e alinhar as expectativas com a realidade".
Outro fator que interfere bastante, segundo o Dr Guilherme Scheibel, é o nível de comprometimento do paciente com o pós-operatório.
“Muita gente não respeita as orientações médicas, mas elas são primordiais. Cada médico tem seu protocolo de cuidados para o pós-operatório e seguir a risca faz toda a diferença. Os cuidados são simples e dentre eles, o uso do gelo, altura da cabeceira da cama, lavagem nasal, uso do curativo, tempo de repouso e retorno às atividades, além de hábitos de vida saudáveis com uma alimentação equilibrada são fundamentais para uma boa recuperação e cicatrização ideal", lista. "Um paciente comprometido com todos os cuidados orientados têm mais sucesso com o resultado a longo prazo".
Mas infelizmente, nem todo mundo se compromete em se cuidar. Além disso, outros fatores do próprio organismo de cada um ou ainda questões relacionadas a técnicas cirúrgicas impróprias acabam acarretando na necessidade de uma nova intervenção para reverter um resultado mal sucedido. As chamadas rinoplastias revisionais. Elas costumam ser mais caras, trabalhosas e requerem dos cirurgiões uma atuação muito mais complexa.
“Na cirurgia primária, já temos uma noção da anatomia do nariz e o que vamos encontrar durante a operação no interior das narinas. Quando é revisional, focada no reparo de uma cirurgia anterior, a anatomia já foi alterada, portanto não sabemos ao que vamos nos deparar. O desafio se torna bem maior e, provavelmente, mais demorado”, observa o otorrino. "Além disso, nesses casos, acaba sendo necessário o uso de enxertos extras, como os de cartilagem de costela, por exemplo. Costumo comparar a estruturação do nariz à construção de um prédio. Precisa estar com alicerce firme e para isso é necessário material adequado. No nariz esse material é a cartilagem. Nas cirurgias primárias utilizamos a cartilagem do septo, mas em revisionais, na grande maioria das vezes, o septo já foi mexido não restando para uma nova cirurgia. Por isso se faz necessário uma nova área doadora", explica.
No fim, a decisão de fazer a rinoplastia ou qualquer cirurgia plástica precisa ser pensada com cautela e deve ser tomada após muita pesquisa e informação. Para o Dr Guilherme, o momento ideal para investir no procedimento tem três elementos principais: “Quando a pessoa tem motivações adequadas, está preparada para a mudança e encontrou um profissional em quem tenha segurança”, completa.
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