A
COP 26 - - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas -, que
acontece a partir do próximo domingo (31/10), em Glasgow, Escócia, será sem
dúvida um marco global no que se refere à adoção de medidas mais ambiciosas (e
tão necessárias) dos líderes globais em relação ao clima. Além de sua
importância fundamental para o futuro de todo o planeta, o encontro terá
especial relevância para o Brasil, que precisa assumir durante a COP 26 um
papel de liderança na viabilização de soluções efetivas para os impactos e as
ameaças da mudança do clima, essenciais à retomada verde da economia.
Para
viabilizar esse protagonismo global, é importante ressaltar que o Brasil conta
com aliados de peso dentro e fora do país. É o caso da Britcham – Câmara
Britânica de Comércio e Indústria no Brasil, uma associação centenária que
congrega empresas e entidades britânicas e brasileiras com o interesse comum de
promover relações bilaterais entre o Brasil e o Reino Unido. A Britcham,
pautada no consenso científico, apoia a adoção de medidas céleres de mitigação
e adaptação e espera que o País não só reconheça o atual quadro de emergência
climática, mas paute suas decisões a partir deste fato, dentro de uma estrutura
de governança sólida, que assegure ampla transparência e participação popular.
A
partir dessa premissa, a Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil tem
promovido iniciativas de sustentabilidade e meio ambiente para engajar seus
associados e parceiros, buscando fomentar a discussão e o compartilhamento de
melhores práticas no tema. Entre as várias iniciativas nessa direção, um
exemplo dessa atuação acontece em São Paulo, onde associados Britcham estão
envolvidos com o Acordo Ambiental São Paulo, um acordo
voluntário que tem como objetivo incentivar empresas, associações e municípios
a assumirem compromissos voluntários de redução de emissão de gases de efeito
estufa, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 1,5º.
Acreditamos
que promover o diálogo para tratar sobre melhorias e soluções para o meio
ambiente é essencial para unirmos forças e superarmos os desafios existentes.
Dentre nossas ações, realizamos também uma reunião com associados em todo o
Brasil sobre o Programa Race to Zero, campanha global que tem mobilizado
empresas, cidades, governos, pessoas e instituições,
com objetivo de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2050. O
programa visa intensificar ações de descarbonização, atração de investimentos
para negócios sustentáveis e para a criação de oportunidades de negócios
voltadas a economia verde.
Temos
40% das florestas tropicais do mundo, número que nos leva à oportunidade de -
conforme a gestora global Schroders – crescimento de nossa economia em 6% a 7%
ao ano se o Brasil atingir seu potencial de certificação de 1,5 bilhão de
créditos de carbono ao ano. Vendido ao preço atual europeu de US$
60, esse valor seria de US$ 90 bilhões de exportações. Para se ter uma ideia
temos mais de 50% do carbono do mundo e, conservando nossas florestas,
geraríamos milhões de créditos de carbono.
Esse
é um tema que será destaque na COP26, na qual se buscará regulamentar a
execução do artigo 6º do Acordo de Paris, notadamente seu Mecanismo de
Desenvolvimento Sustentável deste mercado de carbono. É crucial que o Brasil
envide seus melhores esforços durante as negociações para viabilizar, de modo
cooperativo, a efetiva implementação deste dispositivo, encorajando, inclusive,
a adoção de ajustes correspondentes que evitem a dupla contagem de emissões ou
créditos transacionados e, assim, confiram maior credibilidade ao mecanismo a
ser empregado.
Essas
ações serão fundamentais para fortalecer a postura de toda a sociedade por um
planeta mais sustentável. Por isso a COP 26 é aguardada com grande expectativa
em todo o mundo e será fundamental para que se consolide uma realidade cada vez
mais presente no nosso dia a dia: o crescente número de ações em prol da
sustentabilidade e a consciência de que é preciso agir sem demora, para evitar
que a situação se agrave e comprometa o futuro.
Nesse
sentido, é essencial, entre outras medidas, o combate efetivo ao desmatamento
ilegal, sobretudo na região da Amazônia Legal. A perda do patrimônio florestal
do país, além de afetar a credibilidade do Brasil nas negociações
internacionais, repercute negativamente no mercado nacional e internacional,
afetando negócios e investimentos. Assim, para ser bem-sucedido e se beneficiar
das vantagens competitivas do Brasil quanto à promoção de soluções baseadas na
natureza, qualquer plano de recuperação econômica deve contemplar, além de
medidas de comando e controle relativas ao desmatamento, incentivos para a
exploração sustentável da biodiversidade, com o desenvolvimento de uma
bioeconomia inclusiva, que beneficie o próprio país e respeite povos indígenas
e comunidades tradicionais.
Essa
retomada, além dos desafios impostos pela pandemia da Covid-19, deve considerar
a atual emergência climática global, já reconhecida pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Em relatório lançado em
agosto, cientistas do IPCC alertaram para o fato de que as mudanças no clima
provocadas por ações antrópicas já influenciam eventos extremos por todo o
planeta, causando graves impactos ambientais, sociais e econômicos. Caso não
sejam tomadas medidas efetivas para uma redução imediata, rápida e em larga
escala na emissão de gases de efeito estufa, não será possível limitar o
aquecimento global em 1,5°C ou mesmo em 2°C acima dos níveis pré-industriais,
como pretendido pelo Acordo de Paris.
A
Britcham reconhece os desafios inerentes a uma retomada econômica sustentável
no contexto de uma crise climática que requer ações imediatas. Mas, ao mesmo
tempo, acredita nas oportunidades que o Brasil tem à sua frente para não apenas
promover uma economia inovadora e pujante, com ganhos socioambientais, mas
também para reassumir um papel de liderança climática global. Para isso, é
preciso que todos façam sua parte, incluindo o debate de assuntos prioritários
que serão discutidos na conferência do clima da ONU.
A
boa notícia é que, como observamos aqui na Câmara Britânica, onde realizamos
uma série de webinars e reuniões com especialistas sobre o tema, há entusiasmo
e envolvimento de Secretários de Estado, Governadores, Ministros, entre outras
partes interessadas, em temas envolvendo discussões setoriais sobre petróleo e
gás, mudanças climáticas, mercado de carbono, sustentabilidade, entre outros.
Assim,
a Britcham está segura de que, tanto para o enfrentamento de desafios quanto
para a viabilização de oportunidades, o Brasil terá o Reino Unido como um
aliado estratégico, com o qual divide o interesse comum de assegurar às
gerações do presente e do futuro o direito à estabilidade climática. O desafio
global é enorme e exige envolvimento de todos. A COP 26 dará novo impulso a
essa postura proativa e propositiva, e é fundamental que aproveitemos as lições
do evento para trabalhar de maneira cada vez mais ativa em favor de soluções
que nos ajudem a ter um mundo melhor.
A
Britcham, confiante na longa e duradoura parceria entre os dois países, faz
votos para que o Brasil, junto com o anfitrião do evento, assuma o papel de
liderança que lhe cabe neste que é o tema vital para a sobrevivência da
Terra.
Ana Paula Vitelli - presidente da Câmara Britânica de
Comércio e Indústria no Brasil.
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