Primeiro: o Espaço Público não é propriamente um lugar, mas uma função fundamental em toda sociedade democrática. Funciona como campo de falar e ouvir, produzindo ideias coletivas e tomando posições a partir delas. No Espaço Público, todos são iguais no direito de falar e ouvir e todos têm a liberdade de se manifestar, respeitando o propósito da fala e a dignidade do ouvinte.
Segundo: essa função de produzir
decisões democráticas para o conjunto da sociedade foi uma das mais inventivas
e ousadas criações dos gregos. Mas seu vigor dependia da preparação dos
cidadãos para as tarefas a eles dirigidas - daí a necessária busca por
conhecimento e pelo desenvolvimento de habilidades que permitissem a maior
desenvoltura frente aos demais, com o propósito de aparecer e singularizar-se,
não para se tornar um diferente entre iguais, mas um igual a ser lembrado pelos
iguais.
Terceiro: a modernidade atrofiou o
Espaço Público e reduziu a relação entre as pessoas basicamente a um circuito
de bens, no qual tudo passa a ter preço e, portanto, quase nada tem
valor.
Quarto: a sociedade de consumo
erigiu a economia ao posto de totem maior e o mercado tornou-se o seu sacerdote
sem rosto. Os propósitos, os horizontes, principalmente dos jovens,
reduziram-se a uma busca desenfreada pelas filas dos smartphones ou (e, às
vezes, ao mesmo tempo) pelas filas do subemprego. E a importância da igualdade,
da liberdade, da construção de uma voz comum, cívica, política, deixou de ter
importância. Para alguns, aliás, tornou-se até motivo de escárnio e de raiva,
como se fosse sua presença a responsável pela falta de mais bens disponíveis
para atender à sede impossível de saciar do consumo desenfreado.
Conclusão: recuperar a função do Espaço
Público, principalmente entre os jovens de 16 a 18 anos, é tarefa primordial
para quem quer um futuro como invenção e não como repetição. Hannah Arendt já
dizia que a ação, atividade humana própria da política, é a única capaz de
criar o novo, e dessa natividade dependemos nós para inventarmos um país
democrático, resgatando a possibilidade de construir regras de funcionamento
orgânico, vitais e que recuperem a saúde do nosso país e da nossa
sociedade.
Não há saída fora disso. Ou compreendemos isso
urgentemente ou não adianta arranjar culpados na horda que nos assedia. Cabe a
nós enfrentá-los e vencê-los.
Daniel
Medeiros - doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
daniemedeiros.articulista@gmail.com
@profdanielmedeiros
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