Condenado em dois processos e respondendo acusações em outros três ou quatro, Lula está passando algumas semanas em Cuba a expensas da sociedade brasileira. Esse benefício desperta sentimento de repulsa, mas é escandalosamente legal. No Brasil, tais regalias são todas concedidas em lei. Os ex-presidentes da República não recebem pensão vitalícia, mas as compensações são muito mais vantajosas. Dilma, por exemplo, pode correr mundo, em 2019, pondo fogo onde houvesse fumaça contra o Brasil, com luxo, assessores e despesas pagas.
Pode isso? Pode, sim. Os
ex-presidentes têm direito a dois carros oficiais e oito servidores, entre
motoristas, seguranças e assessores cujos salários e despesas de viagem correm
por nossa inesgotável conta. Enquanto o presidente recebe R$ 0,37 milhão por
ano (R$ 30 mil/mês), em 2019 os ex-presidentes gastaram: valores entre R$ 0,490
milhão (Temer) e R$ 1,07 milhão (Dilma).
Lula, então, está em lua de
mel no Caribe. Para todos os efeitos, viajou com o intuito de conceder
entrevistas ao cineasta Oliver Stone que está gravando um documentário sobre a
América Latina. Espero que o cineasta aproveite aquela excelente base para
documentar, em imagens, o fracasso do comunismo cubano num paraíso caribenho
que era próspero até 1959 e parou no tempo desde então, malgrado seu pequeno
crescimento demográfico (45% em 60 anos) um dos menores do mundo ocidental.
Espero que ele tenha interesse
em visitar presos de consciência, condenados por pedirem liberdade, condenados
por terem sido acusados de conspiração contra o Estado por uma polícia política
e uma justiça afinada com esta e com o governo comunista da ilha. Seria uma
excelente matéria para o documentário e, para Lula, uma informação que talvez o
faça compreender o mal que ele os seus causaram ao povo cubano. Junto com Fidel
Castro, Lula criou o Foro de São em 1990 e, a partir de 2003, os governos de
seu partido financiaram aquela ditadura que ontem completou 62 anos.
Um olhar cuidadoso e responsável sobre as instituições da ilha mostraria uma
Assembleia Nacional cujos membros pertencem, todos, ao mesmo partido comunista
e que jamais, em seis décadas, rejeitou algo vindo do governo. Mostraria que os
juízes do Tribunal Superior Popular são escolhidos pelo Conselho de Estado (um
colegiado extraído da Assembleia Nacional) e submetido à mesma Assembleia
Nacional. É um esquema em que o totalitarismo se impõe num círculo fechado e no
qual tudo se opõe à democracia; em que tudo e por tudo carece de legitimidade.
Talvez deva Oliver Stone ler
as duas primeiras páginas da novíssima constituição cubana (2019), cujo art. 5º
define:
“O Partido Comunista de Cuba – único, martiano (de José Martí),
fidelista (de Fidel Castro), marxista, (de Karl Marx), leninista (de Vladimir
Lenin), vanguarda organizada da nação cubana, sustentado em seu caráter
democrático e na permanente vinculação com o povo é a força política
dirigente superior da sociedade e do Estado”.
Bestialógico tão hipócrita e contraditório só poderia nascer, em pleno século
XXI, entre mentalidades abusada e doentiamente totalitárias.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre,
é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais
(Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar
+.
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