Estudo revela que
pacientes com Miastenia Gravis têm 6 vezes mais chances de desenvolver doenças
autoimunes reumatológicas
Aproximadamente 5% da população mundial é afetada
por uma ou mais doenças autoimunes, sendo que a prevalência é mais alta em
mulheres do que nos homens. Pacientes com um distúrbio autoimune têm maior
risco de desenvolver um segundo transtorno, como é o caso da Miastenia Gravis
(MG).
A MG é uma doença autoimune neuromuscular que afeta
a junção muscular, causando fraqueza em diversos grupos musculares do corpo e
dificultando - ou até impedindo - que a pessoa execute movimentos de forma
voluntária. “Ela está diretamente associada a doenças reumáticas autoimunes
incidentes, com risco maior de Artrite Reumatoide (AR), Síndrome de Sjogren
primária (SSp) e Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), entre outras comorbidades”,
reforça o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da
Abrami (Associação Brasileira de Miastenia).
O estudo denominado “Thymectomy in patients with
myasthenia gravis increases the risk of autoimmune rheumatic diseases: a
nationwide cohort study”, traduzido para o português como “A
timectomia em pacientes com Miastenia Gravis aumenta o risco de doenças
reumáticas autoimunes: um estudo de corte nacional” e publicado em janeiro de 2019
na Revista Rheumatology, da Oxford Academy, apontou que o risco de doenças
reumáticas foi 6,34 vezes maior em pacientes com Miastenia Gravis se comparados
a outros sem a comorbidade.
A pesquisa foi feita a partir da identificação de
pessoas com Miastenia Gravis na base de dados “Registro de Doenças
Catastróficas” de médicos de Taiwan, que foi comparada com todos os dados da
população geral do National Health Insurance Research Database
e segmentada por sexo, idade e data de índice. A amostra reuniu 6.478 pacientes
com Miastenia Gravis (58,3% mulheres com idade entre 50 e 55 anos) e 25.912 sem
Miastenia Gravis (58,3% mulheres com idade entre 50 e 52 anos).
Os resultados mostraram que as mulheres miastênicas
apresentaram risco significativamente maior de desenvolver Síndrome Sjogren
primária (15,84%), Lúpus Eritematoso Sistêmico – LES (11,32%) e outros tipos de
doenças reumáticas autoimunes (4,07%). Além disso, pacientes com Miastenia
Gravis submetidos à timectomia (cirurgia para retirada do timo) apresentaram
riscos ainda maior para essas doenças.
Muito comum em miastênicos, a timectomia é uma
cirurgia para a remoção do timo, glândula localizada entre os pulmões e à
frente do coração. Se ele não funciona bem, aumenta o risco de infecções e de
doenças autoimunes, como a MG.
Cerca de 10% dos miastênicos têm tumor de timo
(timoma) e esses pacientes produzem anticorpos para combater o tumor, que
acabam também reconhecendo o receptor de acetilcolina erroneamente como um
“invasor”. A cirurgia de timo, entretanto, também pode ser indicada para
pacientes sem tumor. Segundo o especialista, “a cirurgia só é indicada
para pacientes com diagnóstico positivo para os anticorpos, que têm a doença há
poucos anos e com idade não muito avançada”.
Doenças Reumatológicas Autoimunes
Artrite Reumatoide (AR)
Doença inflamatória crônica, autoimune, que afeta
as membranas sinoviais (fina camada de tecido conjuntivo) das articulações -
mãos, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos, pés, ombros e coluna cervical. Em
pacientes geneticamente predispostos, pode afetar também os órgãos internos,
como pulmões, coração e rins. Sintomas como rigidez matinal (regredindo durante
o dia) e inchaço nas juntas são comuns, sendo que progressão da doença está
associada a deformidades e alterações das articulações, que podem comprometer
os movimentos.
Mulheres entre 50 e 70 anos têm duas vezes mais
chances de desenvolver a AR do que os homens da mesma faixa etária, embora
possa se manifestar em qualquer idade e em ambos os sexos.
Síndrome de Sjogren primária (SSp)
Doença reumática autoimune caracterizada pela
secura excessiva dos olhos, boca e outras membranas e mucosas. Considerada a
mais frequente entre as doenças raras, a SSp afeta 2% da população mundial e
tem duas formas de apresentação: a primária, que ocorre de forma isolada e sem
nenhuma relação com outras inferminades do tecido conjuntivo, e a secundária,
quando outras doenças reumatológicas se manifestam simultaneamente, como
artrite reumatoide, lupus eritematoso sistêmico, vasculite e tireoidite de
Hashimoto.
Entre os principais sintomas estão pele seca, dor
nas articulações, secura vaginal, alergias, alterações no intestino, rim e
pulmões, dormência ou formigamento nas mãos e pés e fadiga extrema.
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)
O lúpus é uma doença inflamatória autoimune
desencadeada por um desequilíbrio no sistema imunológico, que pode se
manifestar sob a forma cutânea (atinge apenas a pele) ou ser generalizado.
Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos
no aparecimento das crises de lúpus. Entre as causas externas estão
exposição ao sol, uso de determinados medicamentos e ação de alguns vírus e
bactérias. O estrógeno (hormônio sexual feminino) também está entre os fatores,
o que pode justificar a prevalência maior nas mulheres em idade fértil.
“Ainda não há estudos conclusivos para traduzir as
opções terapêuticas clínicas para as doenças reumáticas associadas à Miastenia
Gravis. A recomendação é procurar um neurologista, preferencialmente
especializado em Miastenia que, com base na história de cada paciente e nos
resultados de exames neurológicos e laboratoriais, poderá definir o tratamento
mais adequado, além de identificar fatores determinantes à evolução da doença
ao longo da vida”, finaliza o médico.