Demografia Médica do Estado de São Paulo apresenta raio X da Medicina e desigualdades regionais
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo (SES-SP) anunciam o estudo “Demografia Médica do Estado de
São Paulo” 2026 (DMSP), um recorte estadual inédito e detalhado que traça as
características, cenários e tendências da população de médicos nos 17
Departamentos Regionais de Saúde (DRS).
“A Demografia Médica de São Paulo surge com o
propósito de fornecer evidências científicas para orientar políticas públicas.
Com isso, busca aproximar os médicos das necessidades da população e dos
serviços existentes, considerando as características sociais, econômicas e
sanitárias singulares de cada região do estado”, explica o coordenador do
estudo e docente do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, Prof. Dr.
Mário Scheffer.
OFERTA E PROJEÇÃO DE MÉDICOS
Ao final de 2025, o estado de São Paulo contará com
aproximadamente 197 mil médicos. O levantamento projeta um aumento expressivo
da oferta nos próximos anos, quando o número de profissionais poderá
ultrapassar 235 mil em 2030, chegando à marca de 340 mil profissionais ao final
da década.
Esse crescimento acelerado fará com que a razão de
médicos por habitantes suba de quatro por mil habitantes em 2025 para sete por
mil em 2035. Apesar do aumento geral, a distribuição permanecerá desigual.
Enquanto em 2025 a região de Ribeirão Preto dispõe de 5,2 médicos por mil
habitantes, a de Registro tem 2,1.
“Ter acesso a dados tão importantes e confiáveis é
fundamental para nortear nossas ações e seguir no caminho da qualidade, tomando
decisões baseadas em informações concretas e objetivas, com condições de
estabelecer uma política de saúde pública competente”, destaca o secretário de
Estado da Saúde de São Paulo, Dr. Eleuses Vieira de Paiva.
ESPECIALISTAS X GENERALISTAS
O estudo aponta que 60% dos médicos em São Paulo (aproximadamente
117,7 mil) são especialistas, confirmando o papel do estado como centro
formador e empregador. Ainda mais concentrados do que os médicos em geral, 57%
dos especialistas estão na Grande São Paulo e outros 10% na região de Campinas.
Já o grupo de médicos generalistas (sem título de
especialista) cresce em ritmo muito maior que o de especialistas. Atualmente,
são cerca de 80 mil profissionais nessa condição, correspondendo a 40% do
total, um salto significativo em comparação ao ano 2000, quando representavam
menos de 25%.
EXPANSÃO E PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO
O fenômeno do crescimento do número de médicos
generalistas está relacionado, dentre outros fatores, à expansão do ensino
privado e à insuficiência de vagas de Residência Médica (RM) para todos os
egressos. Nos últimos dez anos, foram abertos 40 novos cursos de Medicina em
São Paulo, totalizando 87 escolas médicas em 2025. A expansão consolidou a
privatização do ensino: hoje, 92% do total de vagas são oferecidas por escolas
médicas privadas, enquanto menos de 10% estão em instituições públicas.
Embora tenha havido descentralização, a Grande São
Paulo ainda detém mais de 40% das vagas de graduação. A oferta de residência,
apesar de ter aumentado, não acompanhou o mesmo ritmo e ainda atrai muitos
candidatos de outros estados.
“A abertura indiscriminada de cursos de Medicina e o
crescimento acelerado do número de médicos generalistas, uma vez que não há
vagas de Residência Médica para todos, são uma grande preocupação da APM e de
todo o movimento associativo”, afirma o presidente da Associação Paulista de
Medicina, Antonio José Gonçalves.
MULHERES E JOVENS REDEFINEM A PROFISSÃO
O perfil dos médicos em São Paulo vem apresentando
mudanças. As mulheres consolidaram-se como maioria e, em 2025, passaram a
representar 52% do total de médicos. A tendência de feminização é contundente:
a projeção é de que elas passem a representar 70% da população de médicos na
próxima década.
Atualmente, as médicas predominam em 22 das 55
especialidades, sendo maioria expressiva (mais de 60%) em áreas como Pediatria,
Ginecologia e Obstetrícia, e Medicina de Família e Comunidade. Além de mais
feminina, a profissão rejuvenesceu: mais de um terço dos médicos no estado tem
35 anos ou menos.
“A feminização da medicina brasileira é uma conquista
irreversível. Esse fato reflete o momento de transformação que vivemos, mas
também impõe novos compromissos. Precisamos garantir que essa superioridade
numérica venha acompanhada de equidade real em cargos de chefia, remuneração e
condições de trabalho compatíveis com a realidade da mulher contemporânea”,
analisa a diretora da FMUSP, Profa. Dra. Eloisa Bonfá.
CONCENTRAÇÃO NO SETOR PRIVADO: O CASO DOS CIRURGIÕES
Um dos destaques do levantamento é a análise sobre a
atuação dos cirurgiões paulistas, que evidencia a forte atração exercida pelo
setor privado, considerando que, no estado, 40% das pessoas têm planos de
saúde.
Os dados revelam que a "dupla prática",
quando o profissional atua simultaneamente nos setores público e privado, é a
modalidade de trabalho de quase 70% desses especialistas. Já aqueles que atuam
exclusivamente na rede privada somam 26%, enquanto menos de 7% se dedicam
apenas à rede pública.
Para os pesquisadores, esse cenário reduz a
disponibilidade de profissionais para a parcela da população que depende
exclusivamente do SUS.
SOBRE A DEMOGRAFIA MÉDICA
A publicação “Demografia Médica do Estado de São
Paulo” (DMSP) é um recorte estadual da pesquisa nacional “Demografia Médica no
Brasil”, realizada há 15 anos pelo Departamento de Medicina Preventiva da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). A pesquisa tem o
propósito de traçar características, cenários e tendências da população de
médicos no estado, além de apresentar dados referentes aos 17 Departamentos
Regionais de Saúde (DRS).
O trabalho é apoiado pelo Programa de Pesquisa em
Políticas Públicas (PPPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp) e contou com a parceria da Associação Paulista de Medicina (APM)
e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP).
ACESSE A ÍNTEGRA DO ESTUDO.
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP

Nenhum comentário:
Postar um comentário