Abordagens
diferentes em busca do mesmo objetivo
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é
comemorado em 2 de abril e essa data simboliza uma luta diária por inclusão e
maior divulgação de informações corretas sobre o transtorno, que é uma
realidade para mais de 70 milhões de pessoas em todo mundo.
O transtorno relacionado ao desenvolvimento
neurológico – Transtorno do Espectro Autista (TEA)
–, popularmente conhecido como autismo, se caracteriza por sinais e sintomas
que se manifestam na dificuldade em se comunicar, em interagir socialmente e
por movimentos ou interesses repetitivos. O TEA apresenta uma grande variedade
quanto à severidade dos sintomas e os graus da doença são diferenciados de
acordo com o nível de dependência e necessidade de suporte de cada
indivíduo.
“A Odontologia é a mesma para todos”, essa é a
definição da presidente da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com
Necessidades Especiais e cirurgiã-dentista, Adriana Zink, quando o assunto é o
uso de aparelhos ortodônticos por pessoas com TEA. Ela esclarece que a
ortodontia e a ortopedia caminham juntas e visam uma harmonia de forma e função
no sistema estomatognático (conjunto de estruturas bucais que consiste de
constante participação da mandíbula). Com isso, o resultado que se espera
no tratamento dos autistas é o mesmo que dos demais pacientes.
A necessidade de tratamento ortodôntico na
comunidade autista se equivale ao restante da população, mas é importante levar
em consideração que pessoas com TEA têm muitas alterações sensoriais e, por
conta disso, encontram dificuldades ao lidar com texturas, cheiros,
toques: “Muitas vezes, o tamanho da escova, o sabor do creme dental, a força que
a mãe aplica na escovação, a proximidade da mão da mãe ao escovar, entre outros
fatores, podem provocar incômodo no paciente autista”, explica a
profissional.
Os autistas também costumam ser muito visuais e
essa característica deve ser considerada ao explicar para uma criança com TEA
que ela irá usar um aparelho ortodôntico. Para isso, uma boa alternativa é usar
materiais estruturados com pistas visuais.
Adriana explica que pessoas com TEA são realmente
únicas e, por isso, requerem atenção especial, mas o ideal é não impor limites
a ninguém e trabalhar as potencialidades de cada um: “É possível tentar qualquer
tratamento em pessoas com TEA. Temos que condicionar o paciente para minimizar
o estresse durante as consultas e tornar o tratamento previsível".
De acordo com a cirurgiã-dentista, infelizmente não
há como prometer o sucesso dos procedimentos. "Devemos dividir com os pais as
possíveis formas de tratamento, expor as dificuldades e juntos decidir a melhor
alternativa”. Para exemplificar, Adriana supõe que, no caso de
gêmeos com TEA, um pode aceitar bem o tratamento ortodôntico, enquanto o outro
não.
Quanto à escolha do tipo de aparelho a ser usado,
ela deve ser personalizada: “Já tive pacientes que se adaptaram bem aos
aparelhos móveis e outros ao fixo. Como também, tive aqueles que jogaram o
aparelho móvel pela janela do apartamento e outros que quase arrancaram o dente
tentando remover o fixo. Temos que ter muita
responsabilidade nestas indicações e estar atento às alterações comportamentais
para evitar acidentes”, alerta.
Adriana reforça a importância de acompanhar de
perto cada caso. “Já aconteceu de o paciente usar o aparelho fixo por 6 meses e
de repente querer retirar. Nesse caso não temos o que argumentar, devemos
remover o aparelho antes que ele tente retirar sozinho”.
Um outro caso mais complexo envolveu um paciente
que precisou ser internado após um surto e a equipe médica solicitou que o
aparelho fosse removido, pois ele estava mutilando as mãos com mordidas.
"Fiz uma avaliação na clínica e, junto com a família, resolvemos que a
remoção seria realmente a melhor opção”.
Há três níveis de autismo (do mais leve ao mais
severo), mas isso não caracteriza o nível de aprendizado. Por isso,
segundo a profissional, é essencial que não se rotule ninguém pelo diagnóstico
mas que se individualize o paciente. “Podemos
ter um autista nível 3 que aceite o tratamento ortodôntico e um nível 1 que não
aceite”, afirma Adriana Zink, que recebe frequentemente pessoas com
os três níveis de autismo em seu consultório – com uma prevalência de pacientes
meninos no nível 2 (moderado).
Pandemia trouxe novos desafios aos tratamentos
Há mais de um ano afetados pela pandemia de
Covid-19, a cirurgiã-dentista relata como estão os tratamentos dos seus
pacientes com TEA. “Muitos pacientes ficaram sem terapias e isso
desorganizou os tratamentos. Percebi que muitos diminuíram o número de
escovações e aumentaram a ingestão de carboidratos. Alguns tiveram um
agravante com a compulsão alimentar e observei um aumento de cárie e doenças
gengivais".
Para amenizar a situação, ela explica que todos os
seus pacientes têm materiais para trabalhar a higiene bucal em casa por meio de
orientação com o cirurgião-dentista, aplicativos, pistas visuais e vídeos. "Esse
material auxilia os pais a manterem a atividade da ida ao dentista na rotina da
criança e isso favorece o retorno", garante.
Para a cirurgiã-dentista todos estão tendo que se
adaptar às novas rotinas e hábitos impostos pela pandemia. "Estamos
tentando reorganizar tudo isso. Por conta das alterações sensoriais, os
pacientes com TEA têm dificuldade de aceitar o uso de máscaras (direito
adquirido na justiça para o não uso), e estão mais expostos à contaminação pela
Covid-19. Isso também aumenta o risco do profissional de se contaminar,
exigindo ainda mais cuidados".
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
(CROSP)
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