Pesquisa do Instituto Semesp revela preferência pelo presencial e expansão do semipresencial como tendência, em um cenário marcado pela falta de recursos e percepção positiva sobre o uso da inteligência artificial
A 2ª edição da
Pesquisa de Intenção de Ingresso no Ensino Superior, realizada pelo Instituto
Semesp, centro de inteligência analítica dedicado à produção de dados e estudos
estatísticos sobre o ensino superior, revela que o interesse dos brasileiros em
cursar uma graduação permanece alto: 78% dos respondentes afirmaram que
pretendem ingressar no ensino superior.
O estudo indica, contudo, que as condições econômicas ainda são o principal
entrave para os jovens que ainda não ingressaram. A pesquisa também mostra uma
percepção positiva sobre o impacto da inteligência artificial (IA) no
aprendizado e no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que aponta preocupação
com a influência das apostas online (bets) sobre as decisões educacionais. No
anexo, a pesquisa na íntegra.
Amostra e
metodologia
O levantamento,
foi realizado pelo Instituto Semesp entre 15 e 30 de outubro de 2025, com 2.019
respondentes de todas as regiões do país. O público pesquisado tem entre 16 e
45 anos, ensino médio completo ou incompleto que ainda não ingressou no ensino
superior.
A pesquisa apresenta nível de confiança de 95% e margem de erro de 2,2 pontos
percentuais.
Perfil dos
respondentes
Quase metade dos participantes (48,1%) tem entre 16 e 24 anos. A maioria (79,1%) exerce alguma atividade remunerada e 67,1% possuem renda familiar de até R$ 5 mil.
Entre todos os entrevistados, 89,2% já concluíram o ensino médio, 80,2%
concluíram em escola pública; e o desejo de continuar os estudos é
predominante: 78% manifestaram intenção de ingressar no ensino superior a curto
prazo.
Intenção de
ingresso e barreiras
O levantamento mostra que o interesse é mais forte entre os mais jovens: 87,5% dos respondentes com até 24 anos pretendem iniciar uma graduação, contra 74,1% entre os maiores de 25 anos que também manifestaram interesse de ingressar em curso de graduação.
Entre os entrevistados que não pretendem ingressar, apenas 3,9% com até 24
anos, e 11,3% com 25 anos ou mais, os motivos mais apontados foram necessidade
de trabalhar, falta de recursos financeiros e falta de tempo.
Principais
dificuldades para ingressar no ensino superior
Entre os
entrevistados que manifestaram intenção de cursar uma graduação, a falta de
dinheiro aparece como o maior obstáculo, mencionada por 65%
dos respondentes. Em seguida, 41,5% apontaram a falta de
tempo, divididos entre trabalho, família e outras
responsabilidades, como barreira significativa para dar continuidade aos
estudos.
Outros desafios
mencionados incluem dúvidas sobre qual curso escolher
(20,3%), escassez de informações sobre opções e bolsas (18,9%), falta de
motivação ou interesse (16,3%) e dificuldade
de acesso físico, especialmente em cidades pequenas ou com
oferta limitada de transporte (16%). Um grupo menor indicou incerteza
sobre o retorno do investimento (“não sei se vale a pena”), com
5,3%, enquanto apenas 1% assinalou
outros motivos.
Segundo o Instituto Semesp, os resultados mostram que as condições
financeiras e a conciliação com o trabalho continuam sendo os
principais entraves para o ingresso no ensino superior, mas fatores ligados à orientação
vocacional e informação sobre oportunidades também pesam na
decisão.
Preferência
por instituições privadas e públicas
Entre os jovens
que pretendem ingressar no ensino superior, 55,8%
afirmaram que desejam estudar em uma instituição privada ou pública no Brasil,
demonstrando não fazer distinção entres as duas redes de ensino. Outros 25,1%
declararam preferência exclusiva por instituições públicas, enquanto 16,2%
optariam apenas por instituições privadas nacionais. Um
grupo menor (2,9%) manifestou interesse em cursar uma graduação fora do
país.
De acordo com o
Instituto Semesp, os dados evidenciam que, apesar da valorização das
universidades públicas, a rede privada continua sendo o principal caminho
para a democratização do ensino superior no país, sobretudo em
um cenário em que o desejo de cursar uma graduação é elevado, mas as restrições
financeiras ainda limitam as possibilidades de escolha.
Por faixa
etária
A análise etária
revela nuances importantes no comportamento dos futuros estudantes. Entre os jovens de
até 24 anos, 57,3% pretendem ingressar em uma
instituição privada ou pública no Brasil, e 27,9%
manifestam preferência exclusiva por universidades públicas. Já 11,4%
escolheriam apenas instituições privadas nacionais,
enquanto 3,4% demonstraram interesse em estudar no exterior.
Entre os
entrevistados com 25 anos ou mais, a tendência se mantém próxima, mas
com ligeira redução na intenção geral de ingresso: 55%
pretendem estudar em uma instituição privada ou pública no Brasil, 21,3%
optariam exclusivamente por instituições públicas e 21,4%
por privadas. Apenas 2,2% projetam estudar fora do país.
Os dados reforçam
que o desejo de cursar o ensino superior é mais intenso entre os mais jovens,
especialmente no início da vida profissional, enquanto os adultos demonstram
maior seletividade e preocupação com custo, tempo e retorno financeiro da
formação.
Preferências
de curso e modalidade
A maioria (50,4%) prefere cursos presenciais, com destaque para os mais jovens (57,6% até 24 anos). O formato semipresencial aparece como segunda opção, seguido pelo EAD.
Entre os interessados, 42,3% afirmaram estar praticamente decididos quanto ao curso, e os mais citados incluem áreas como Administração, Enfermagem, Direito e Psicologia.
Quando questionados sobre o grau acadêmico, predominou o interesse por
graduação bacharelado, seguida de tecnólogos e licenciaturas.
O turno preferido
é o diurno (45–50%), especialmente entre os estudantes mais jovens e de São
Paulo.
Escolha da
instituição
Os fatores mais valorizados na escolha da instituição de ensino superior foram qualidade do ensino, reputação, localização, preço acessível e empregabilidade após a formação.
Em relação ao investimento, a maioria declarou estar disposta a pagar até R$
1.000 por mês em um curso superior. O pagamento das mensalidades é
majoritariamente planejado com recursos próprios ou apoio familiar, embora uma
parcela ainda indefinida mencione o interesse em financiamentos ou bolsas.
Motivações
para cursar o ensino superior
Entre os
principais motivos que levam os jovens a quererem ingressar estão:
- Garantir
melhores oportunidades profissionais e aumento de renda;
- Realização
pessoal e conquista de independência;
- Desejo
de empreender ou gerenciar o próprio negócio;
- Busca
por estabilidade e ascensão social.
Inteligência
Artificial e o futuro do aprendizado
A pesquisa revela uma percepção amplamente positiva sobre a Inteligência Artificial (IA): a maioria acredita que ela melhora o aprendizado e torna o estudo mais eficiente.
Os respondentes enxergam a IA como aliada no processo educacional, capaz de
facilitar o acesso ao conhecimento, personalizar o aprendizado e apoiar o
desempenho acadêmico — chegando a descrevê-la como um “professor 24 horas
disponível”.
Ao mesmo tempo,
surgem alertas sobre dependência excessiva, preguiça intelectual e perda de
pensamento crítico. No campo profissional, muitos acreditam que a IA ampliará
oportunidades e criará novas profissões, mas também poderá eliminar ocupações
repetitivas, exigindo adaptação e requalificação constante.
Apostas
online e influência no ingresso
O estudo também investigou o impacto das apostas e jogos online (bets) sobre o comportamento educacional.
Embora a maioria não tenha sido diretamente afetada, parte dos entrevistados
reconhece que as apostas podem prejudicar o planejamento financeiro e
dificultar o ingresso no ensino superior. As principais formas de impacto
citadas foram endividamento, distração e priorização de gastos não essenciais.
Para Rodrigo
Capelato, diretor executivo do Semesp, o resultado reforça que o interesse pela
educação superior continua elevado, mas a questão econômica ainda é o maior
obstáculo. “Os jovens querem estudar, reconhecem o valor da graduação, mas
enfrentam limitações financeiras e de tempo. As instituições precisam entender
esse cenário e oferecer alternativas acessíveis, flexíveis e conectadas às
novas tecnologias, como a IA”, destaca Capelato. Ele também observa que o uso
da IA “tende a ser um diferencial competitivo tanto no aprendizado quanto na
inserção profissional”, mas requer formação crítica e ética para seu uso
responsável.
Sobre o
Instituto Semesp
O Instituto Semesp
é um centro de inteligência analítica dedicado à produção de dados e estudos
estatísticos sobre o ensino superior, integrado por especialistas com sólida
experiência na análise do setor. Seu objetivo é fornecer informações relevantes
e confiáveis para pesquisadores, educadores, gestores públicos e privados,
jornalistas e a sociedade em geral, contribuindo para decisões estratégicas e
formulação de políticas públicas. Responsável por estudos como o Mapa do Ensino
Superior no Brasil, a Pesquisa de Empregabilidade e a Pesquisa de
Inadimplência, o Instituto é referência na análise de tendências e indicadores
educacionais do país.
Pesquisa na íntegra
anexo 1.pdf
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