Especialistas alertam para atualização histórica e mostram como ela já começou a ser aplicada no Brasil
As recomendações internacionais sobre como agir em casos de engasgo — prática popularmente associada à tradicional Manobra de Heimlich — acabam de passar por sua maior atualização em décadas. Divulgadas por instituições de referência global, as diretrizes mudam pontos essenciais do atendimento de emergência e vêm chamando a atenção de especialistas, sobretudo pela relevância do tema: só em 2023, mais de 2 mil brasileiros morreram por obstrução das vias aéreas, segundo dados do Ministério da Saúde.
Para o
otorrinolaringologista Dr. Gilberto Pizarro, do Hospital Paulista, as mudanças
representam um avanço importante na forma de abordar situações que evoluem em
questão de segundos.
“Por muitos anos, a manobra de Heimlich foi tratada como ‘o passo principal’.
Agora, a recomendação é mais abrangente e dá prioridade a uma sequência que
aumenta a segurança tanto da vítima quanto de quem presta socorro”, explica.
O que mudou,
afinal?
Entre os principais ajustes do novo protocolo, estão:
• Uso mais
criterioso do Heimlich
A manobra de
Heimlich deixa de ser o primeiro recurso universal e passa a ser indicada
apenas quando as pancadas nas costas não forem eficazes, ou quando houver
sinais claros de obstrução total persistente. O novo protocolo estimula uma
avaliação rápida da situação antes de partir diretamente para as compressões
abdominais.
• Pancadas
nas costas com técnica específica para cada faixa etária
O protocolo reforça a importância das pancadas interescapulares, porém com
técnicas distintas para adultos e crianças.
– Adultos:
socorrista fica atrás da vítima, inclina levemente o tronco para frente e
aplica cinco pancadas vigorosas na região entre as escápulas.
– Crianças
pequenas: a criança é posicionada de bruços sobre o antebraço do socorrista,
com a cabeça levemente mais baixa que o tronco; então são dadas cinco pancadas
firmes, porém controladas, na mesma região.
• Novas
orientações específicas para crianças pequenas
As diretrizes
reforçam que bebês e crianças pequenas têm riscos anatômicos diferentes e
exigem técnicas próprias, evitando compressões abdominais em menores de um ano.
• Ênfase no
reconhecimento rápido da obstrução total ou parcial
A atualização
destaca sinais como incapacidade de falar, tosse ineficaz, cianose e ausência
de entrada de ar — fundamentais para definir qual manobra deve ser adotada.
• Instruções
mais claras para vítimas que estão sozinhas
O protocolo atual detalha formas seguras de tentar desobstruir as vias aéreas sem ajuda, incluindo o uso do encosto de uma cadeira ou da borda de uma superfície rígida para aplicar pressão controlada na região superior do abdômen — técnica já incorporada ao manual emergencial.
Segundo o Dr.
Pizarro, essas mudanças tornam o atendimento mais seguro e reduzem riscos
associados à aplicação inadequada da manobra. “A atualização traz um protocolo
mais didático e, ao mesmo tempo, mais eficaz. É um passo essencial para que
leigos e profissionais possam agir com precisão”, afirma.
Ação voluntária
Em novembro, o Hospital Paulista aplicou pela primeira vez o novo protocolo em um treinamento oferecido a aproximadamente 60 colaboradores do Hilton São Paulo Morumbi, abrangendo equipes de cozinha, restaurante, recepção, segurança, RH e áreas administrativas.
O treinamento, conduzido pelos médicos Dr. Gilberto Pizarro e Dra. Luciana Fernandes, incluiu simulações práticas em manequins adulto e infantil, demonstração das técnicas atualizadas de desengasgo e orientações de prevenção — especialmente para crianças e idosos, que concentram a maior parte dos casos no país.
Segundo Pizarro,
essa aproximação com equipes que lidam diariamente com o público amplia de
forma real o impacto da atualização. “De nada adianta um novo protocolo se ele
não chega a quem está na linha de frente. Ver profissionais de hotelaria
aprendendo a agir diante de um engasgo é, de fato, salvar vidas antes que a
emergência aconteça”, destaca.
Hospital Paulista
de Otorrinolaringologia

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