Deepfakes, vozes clonadas e 6,4 milhões de tentativas de fraude: perito em crimes digitais explica o que realmente deve preocupar os brasileiros em 2026.
Em 2025, os golpes digitais deixaram definitivamente de ser amadores. Deepfakes que imitam vozes de familiares, clonagem de documentos gerada por IA e links fraudulentos quase indistinguíveis dos originais transformaram a internet no ambiente mais arriscado já registrado no país. Segundo o Serasa, foram mais de 6,4 milhões de tentativas de fraude entre janeiro e junho de 2025 no Brasil, o que corresponde a uma tentativa de fraude a cada 2,4 segundos.
Para 2026, o cenário é ainda mais desafiador. Segundo o perito internacional em crimes digitais Wanderson Castilho, CEO da EnetSec, o Brasil vive uma “tempestade perfeita” de desinformação, excesso de exposição e poucos hábitos de segurança digital. “A tecnologia avançou dez anos em dois; já a percepção de risco do brasileiro continua parada no mesmo lugar. Hoje, não é preciso ser hacker. As ferramentas de inteligência artificial fazem o trabalho pesado e colocam qualquer pessoa com má intenção em posição de ataque”, resume.
Ele ainda reforça que o problema não está apenas na sofisticação dos golpes, mas na repetição dos erros cotidianos. “Estamos entrando em 2026 com os mesmos hábitos frágeis que facilitaram os golpes em 2025. E isso é tudo o que o criminoso precisa”, diz. “Golpista não mira o aparelho, mira o comportamento. Não importa se o celular é novo ou se a senha é forte, se a pessoa clica sem pensar ou envia documento pelo WhatsApp, ela vira alvo.”
Para te ajudar, o especialista destacou quais os cinco piores hábitos de segurança digital que colocam as pessoas em risco, confira:
Clicar em links sem checar a origem: Golpistas dominam engenharia social.
Mensagens com tom de urgência “sua conta será bloqueada”, “último aviso”,
“pedido entregue” continuam sendo o principal gatilho para roubo de dados.
Esses links levam a páginas falsas quase idênticas às originais e facilitam
ataques de phishing, que seguem sendo a fraude mais comum no país. Castilho
reforça que geralmente, o golpe começa num clique, e se existe dúvida, a
recomendação é não clicar, e nunca compartilhar o link com outras pessoas
Enviar documentos e dados pessoais pelo WhatsApp: Um erro que parece inocente, mas é um dos
maiores catalisadores de golpes. Selfies de confirmação, RG, comprovantes,
prints de cartão, tudo circula por grupos e conversas sem qualquer proteção.
Criminosos usam esse material para abrir contas falsas, fazer compras,
solicitar crédito e até simular vídeos usando IA com o rosto da vítima.
“Documento não é figurinha. Uma vez que circula, perde o controle. É a
senha-mestra para vários tipos de fraude”, diz.
Reutilizar a mesma senha em vários serviços: É um hábito nacional, e extremamente
arriscado. Quando uma única plataforma sofre vazamento, todas as outras contas
do usuário ficam vulneráveis, do e-mail ao banco. Mesmo assim, pesquisas
mostram que boa parte dos brasileiros ainda repete senhas “para não esquecer”.
“Usar a mesma senha é como trancar a casa, o carro e o escritório com a mesma
chave. Se uma cópia vaza, tudo está aberto”, explica o especialista. A
recomendação são senhas únicas + autenticação em dois fatores.
Confiar em perfis que parecem oficiais: Criminosos se profissionalizaram e
hoje replicam fotos, logos, linguagem de atendimento e até anúncios falsos para
simular perfis de bancos, varejistas e empresas de tecnologia. Muitas vítimas
relatam que “o perfil parecia real”, justamente porque esses perfis falsos são
produzidos com alto nível de detalhamento visual. Segundo Castilho, golpistas
exploram a confiança do brasileiro no aspecto estético dos canais digitais. O
que valida um perfil não é o layout, é a verificação da origem. A recomendação
é sempre confirmar a autenticidade por meio do site oficial ou canais validados
pela empresa antes de interagir.
Resolver tudo com pressa, e sem verificar: A pressa segue como um dos principais
motores das fraudes digitais. Situações que envolvem PIX “urgente”, cadastros
“necessários para liberar acesso”, códigos enviados “para confirmar identidade”
e atendimentos falsos que exigem ação imediata fazem parte da estratégia psicológica
usada pelos golpistas. Wanderson Castilho explica que, sob estresse ou pressão,
o usuário tende a desligar o senso crítico. O golpista cria a pressa justamente
para impedir a verificação. Por isso, qualquer pedido urgente deve ser tratado
com desconfiança redobrada.
O que esperar de 2026?
Para o especialista, 2026 será um ponto de virada no cenário da segurança digital. A sofisticação dos golpes tende a crescer rapidamente, não pela habilidade dos criminosos, mas pela facilidade de acesso a ferramentas de inteligência artificial capazes de criar mensagens, áudios e interações praticamente idênticas às reais.
“Estamos caminhando para um ano em que cada pessoa receberá golpes moldados exatamente ao seu perfil. A IA vai permitir fraudes altamente personalizadas, que conhecem seus hábitos, sua linguagem e até seus horários. Mas, paradoxalmente, nunca tivemos tantas ferramentas de proteção disponíveis. A diferença não está apenas na tecnologia, está no comportamento”, afirma Castilho.
Segundo ele, o fator humano continuará sendo o elo mais vulnerável
da cadeia digital em 2026. “Não existe blindagem absoluta. O que existe é a
prevenção inteligente. E ela começa no básico: desconfiar do que parece urgente
demais, verificar antes de agir e entender que segurança digital é um
hábito", conclui.

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