Novo consenso da Academia Brasileira de Neurologia
(ABN) orienta manejo do abuso, dependência e retirada de zolpidem, trazodona é
opção auxiliar em casos selecionados
O Brasil passa a contar com o primeiro consenso nacional que reúne evidências
sobre o uso, riscos e estratégias de descontinuação das chamadas “drogas Z”,
classe de hipnóticos prescritos principalmente para o tratamento da insônia. A
motivação desta publicação, deve-se especialmente a um decreto, publicado em
agosto de 2024, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que
implementou um controle mais rígido sobre a prescrição dos medicamentos Z, dado
o uso irregular e abusivo desta classe, especialmente do zolpidem. Elaborado
por especialistas da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), com base em
revisão sistemática da literatura e método Delphi, o documento tem apoio
exclusivo da indústria farmacêutica 100% nacional, Apsen.
O material responde à crescente preocupação clínica com quadros de abuso,
dependência e eventos adversos relacionados a esses medicamentos, tema que será
um dos destaques do XXI Congresso Brasileiro do Sono, de 3 a 5 de dezembro, em
Salvador (BA).
Dados indicam uma mudança significativa no padrão de sono da população brasileira desde a COVID-19. Os números apontam um aumento de até 113% na procura de tratamento para insônia, ansiedade e depressão, em comparação aos seis meses anteriores à pandemia, sendo o zolpidem um dos principais responsáveis por elevar esse índice1.
O novo consenso destaca que, embora as drogas Z sejam indicadas para o manejo
da insônia, elas apresentam risco de dependência, podendo induzir
comportamentos complexos durante o sono e causar sintomas graves na retirada,
como agitação, delírio e, em casos mais graves, convulsões. Por isso, a
interrupção abrupta não é recomendada, especialmente entre pessoas que fazem
uso de zolpidem e apresentam maior probabilidade de reações intensas durante o
processo de descontinuação.
Conforme os especialistas, o manejo adequado exige uma avaliação clínica completa, incluindo histórico psiquiátrico, comorbidades, uso de outras substâncias e padrões de consumo. A diretriz recomenda que a descontinuação seja realizada de forma gradual, com ajuste individualizado das doses e acompanhamento contínuo.
“Com a publicação, a ABN busca oferecer um norte científico para profissionais de diferentes especialidades, padronizar práticas, reduzir riscos e qualificar o cuidado em torno do uso dessas medicações no país. O consenso se estabelece como referência nacional para um tema que, cada vez mais, exige atenção técnica, protocolos claros e acompanhamento estruturado por parte da comunidade médica, com o objetivo de preservar a saúde e o bem-estar dos pacientes”, explica Andrea Bacelar, neurologista, médica do sono e uma das coordenadoras do novo consenso da ABN.
O documento também reconhece que, mesmo com um plano estruturado de
descontinuação, parte dos pacientes pode apresentar sintomas que dificultam o
processo. Para esses casos, o uso de trazodona é apontada como adjuvante
possível — no papel de terapia auxiliar de suporte — aplicado de forma
criteriosa em situações específicas. A alternativa pode ser considerada quando
o desmame desencadeia insônia rebote, ansiedade, irritabilidade ou outros
desconfortos que comprometem a continuidade do tratamento.
Por não atuar por meio da potencialização do GABA — neurotransmissor que reduz a atividade cerebral e facilita o sono—, a trazodona pode contribuir para maior estabilidade em fases mais sensíveis da retirada. Porém, o uso deve ser entendido como apoio complementar e não como substituto da estratégia principal, baseada na redução gradual das doses e em intervenções comportamentais.
O consenso indica que para casos mais complexos, como presença de comorbidades de grande impacto, histórico de sintomas intensos na retirada ou uso em doses muito elevadas, a publicação orienta que a descontinuação seja conduzida com supervisão especializada mais próxima, podendo incluir ambientes assistenciais com monitoramento contínuo.
“A Apsen é uma empresa 100% nacional e tem orgulho de contribuir para
iniciativas que fortalecem o cuidado em saúde no país. Participar deste
consenso é uma forma de reforçar nosso compromisso com práticas responsáveis e
sustentáveis. O sono é um pilar para o equilíbrio físico e emocional, e apoiar
um material que orienta o uso mais seguro dessas terapias reflete nossa
dedicação a uma jornada de cuidado mais humana e contínua”, afirma Márcio
Castanha, Vice-Presidente Comercial da Apsen.
O cenário da insônia no Brasil
A
rotina acelerada, o estresse e a dificuldade em desacelerar têm feito do sono
um dos grandes termômetros da saúde. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 70%
da população apresenta algum tipo de alteração no sono2. Dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS) mostram que, só em 2020, ano marcado pelo início da
pandemia, os casos de depressão e ansiedade aumentaram 25%, evidenciando o
vínculo entre o sono e o equilíbrio emocional3.
Saiba mais em: Link
Referências:
- DOS
SANTOS JUNIOR, C. M.; DE SOUZA, J. I.; VIANA MACHADO, K.; DAVID FERRAZ,
L.; PEREIRA ROCHA, M. ZOLPIDEM: AUMENTO DO SEU USO ASSOCIADO AO CENÁRIO
PANDÊMICO DA COVID-19. Brazilian Journal of Implantology and Health
Sciences , [S. l.], v. 5, n. 3, p. 955–982, 2023. DOI:
10.36557/2674-8169.2023v5n3p955-982. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/333.
Acesso em: 2 dez. 2025.
- BRASIL.
Ministério da Saúde. Sono. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/marco/voce-ja-teve-insonia-saiba-que-72-dos-brasileiros-sofrem-com-alteracoes-no-sono.
Acesso em: dez. 2025.
- ORGANIZAÇÃO
PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na
prevalência de ansiedade e depressão. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em.
Acesso em: dez. 2025.
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