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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Brasil avança no cuidado do sono com diretrizes inéditas para o desmame das drogas Z

Novo consenso da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) orienta manejo do abuso, dependência e retirada de zolpidem, trazodona é opção auxiliar em casos selecionados


O Brasil passa a contar com o primeiro consenso nacional que reúne evidências sobre o uso, riscos e estratégias de descontinuação das chamadas “drogas Z”, classe de hipnóticos prescritos principalmente para o tratamento da insônia. A motivação desta publicação, deve-se especialmente a um decreto, publicado em agosto de 2024, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que implementou um controle mais rígido sobre a prescrição dos medicamentos Z, dado o uso irregular e abusivo desta classe, especialmente do zolpidem. Elaborado por especialistas da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), com base em revisão sistemática da literatura e método Delphi, o documento tem apoio exclusivo da indústria farmacêutica 100% nacional, Apsen.

O material responde à crescente preocupação clínica com quadros de abuso, dependência e eventos adversos relacionados a esses medicamentos, tema que será um dos destaques do XXI Congresso Brasileiro do Sono, de 3 a 5 de dezembro, em Salvador (BA).

Dados indicam uma mudança significativa no padrão de sono da população brasileira desde a COVID-19. Os números apontam um aumento de até 113% na procura de tratamento para insônia, ansiedade e depressão, em comparação aos seis meses anteriores à pandemia, sendo o zolpidem um dos principais responsáveis por elevar esse índice1.

O novo consenso destaca que, embora as drogas Z sejam indicadas para o manejo da insônia, elas apresentam risco de dependência, podendo induzir comportamentos complexos durante o sono e causar sintomas graves na retirada, como agitação, delírio e, em casos mais graves, convulsões. Por isso, a interrupção abrupta não é recomendada, especialmente entre pessoas que fazem uso de zolpidem e apresentam maior probabilidade de reações intensas durante o processo de descontinuação.

Conforme os especialistas, o manejo adequado exige uma avaliação clínica completa, incluindo histórico psiquiátrico, comorbidades, uso de outras substâncias e padrões de consumo. A diretriz recomenda que a descontinuação seja realizada de forma gradual, com ajuste individualizado das doses e acompanhamento contínuo.

“Com a publicação, a ABN busca oferecer um norte científico para profissionais de diferentes especialidades, padronizar práticas, reduzir riscos e qualificar o cuidado em torno do uso dessas medicações no país. O consenso se estabelece como referência nacional para um tema que, cada vez mais, exige atenção técnica, protocolos claros e acompanhamento estruturado por parte da comunidade médica, com o objetivo de preservar a saúde e o bem-estar dos pacientes”, explica Andrea Bacelar, neurologista, médica do sono e uma das coordenadoras do novo consenso da ABN.

O documento também reconhece que, mesmo com um plano estruturado de descontinuação, parte dos pacientes pode apresentar sintomas que dificultam o processo. Para esses casos, o uso de trazodona é apontada como adjuvante possível — no papel de terapia auxiliar de suporte — aplicado de forma criteriosa em situações específicas. A alternativa pode ser considerada quando o desmame desencadeia insônia rebote, ansiedade, irritabilidade ou outros desconfortos que comprometem a continuidade do tratamento.

Por não atuar por meio da potencialização do GABA — neurotransmissor que reduz a atividade cerebral e facilita o sono—, a trazodona pode contribuir para maior estabilidade em fases mais sensíveis da retirada. Porém, o uso deve ser entendido como apoio complementar e não como substituto da estratégia principal, baseada na redução gradual das doses e em intervenções comportamentais.

O consenso indica que para casos mais complexos, como presença de comorbidades de grande impacto, histórico de sintomas intensos na retirada ou uso em doses muito elevadas, a publicação orienta que a descontinuação seja conduzida com supervisão especializada mais próxima, podendo incluir ambientes assistenciais com monitoramento contínuo.

“A Apsen é uma empresa 100% nacional e tem orgulho de contribuir para iniciativas que fortalecem o cuidado em saúde no país. Participar deste consenso é uma forma de reforçar nosso compromisso com práticas responsáveis e sustentáveis. O sono é um pilar para o equilíbrio físico e emocional, e apoiar um material que orienta o uso mais seguro dessas terapias reflete nossa dedicação a uma jornada de cuidado mais humana e contínua”, afirma Márcio Castanha, Vice-Presidente Comercial da Apsen.

 

O cenário da insônia no Brasil

A rotina acelerada, o estresse e a dificuldade em desacelerar têm feito do sono um dos grandes termômetros da saúde. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 70% da população apresenta algum tipo de alteração no sono2. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, só em 2020, ano marcado pelo início da pandemia, os casos de depressão e ansiedade aumentaram 25%, evidenciando o vínculo entre o sono e o equilíbrio emocional3.


Apsen
Saiba mais em: Link


Referências:

  1. DOS SANTOS JUNIOR, C. M.; DE SOUZA, J. I.; VIANA MACHADO, K.; DAVID FERRAZ, L.; PEREIRA ROCHA, M. ZOLPIDEM: AUMENTO DO SEU USO ASSOCIADO AO CENÁRIO PANDÊMICO DA COVID-19. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences , [S. l.], v. 5, n. 3, p. 955–982, 2023. DOI: 10.36557/2674-8169.2023v5n3p955-982. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/333. Acesso em: 2 dez. 2025.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Sono. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/marco/voce-ja-teve-insonia-saiba-que-72-dos-brasileiros-sofrem-com-alteracoes-no-sono. Acesso em: dez. 2025.
  3. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em. Acesso em: dez. 2025.

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