Pesquisar no Blog

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Esquizofrenia volta ao debate após caso na Paraíba, especialista alerta para sinais e cuidado contínuo

Transtorno afeta mais de 500 mil adultos no Brasil segundo estudo nacional

 

O país voltou a discutir saúde mental depois da repercussão do caso envolvendo um jovem de dezenove anos que entrou na área de uma leoa em um zoológico de João Pessoa e morreu após o ataque. O episódio reacendeu a necessidade de ampliar a compreensão sobre transtornos psiquiátricos graves e de fortalecer o acesso a tratamento contínuo, especialmente entre pessoas que enfrentam vulnerabilidades sociais e interrupções no cuidado.
 

O peso dos dados mais recentes

Um estudo realizado por pesquisadores da Unifesp, da USP e da UFPR, divulgado pela Uniad, identificou que cerca de 547 adultos brasileiros convivem com esquizofrenia, número que representa 0,34% da população.

A pesquisa analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 e mostrou maior prevalência entre homens de quarenta a cinquenta e nove anos, com baixa escolaridade e renda e residentes em áreas urbanas.

Para o Dr. Edson Kruger Batista, psiquiatra da ViV Saúde Mental e Emocional na unidade do Espírito Santo, os dados reforçam a complexidade do transtorno e a importância de observar o contexto em que o paciente está inserido.

O especialista afirma que a esquizofrenia é um transtorno que afeta a forma como a pessoa percebe e interpreta a realidade e explica que essa alteração interfere na consciência, na linguagem, nas emoções e no comportamento. Ele destaca que sintomas como alucinações auditivas, delírios, pensamento desorganizado e retraimento social podem variar conforme a fase da doença.
 

Bases biológicas e ambientais que influenciam o quadro

O médico explica que a esquizofrenia tem origem multifatorial. Segundo ele, há influência genética importante, mas fatores ambientais podem atuar como desencadeadores como, por exemplo, vivências traumáticas, uso de substâncias psicoativas, estresse crônico e ausência de suporte social, aumentando potencialmente o risco da manifestação da doença.

“É fundamental entender que a esquizofrenia não reflete apenas uma alteração cerebral isolada, ela envolve a história de vida da pessoa e as condições em que essa vida acontece. A combinação entre vulnerabilidade biológica e ambiente adverso aumenta o risco de crises e dificulta a recuperação” afirma o especialista da ViV.
 

Diagnóstico precoce e continuidade do tratamento favorecem estabilidade

De acordo com o psiquiatra, o acompanhamento contínuo é decisivo para o prognóstico. Ele explica que o tratamento inclui medicamentos antipsicóticos, psicoterapia e suporte psicossocial e que a regularidade do cuidado costuma ser determinante para prevenir recaídas.

“Quando o tratamento é iniciado de forma precoce e mantido ao longo do tempo, vemos uma melhora expressiva na estabilidade emocional e na funcionalidade. Muitos pacientes conseguem estudar, trabalhar e manter vínculos afetivos com autonomia” explica o médico.

O especialista comenta que existe indicação de internação em situações específicas. Ele afirma que quando há risco para o próprio paciente ou quando a desorganização mental impede a adesão ao cuidado ambulatorial, a internação pode oferecer um ambiente seguro para reorganizar o tratamento. Segundo ele, esse recurso deve ser entendido como parte do cuidado e não como punição ou isolamento.

Dr. Batista comenta que algumas pessoas têm dificuldade de seguir o tratamento com comprimidos todos os dias e que, nesses casos, os medicamentos de longa duração ajudam a manter a estabilidade. “Essa estratégia costuma ser muito útil para quem não tem uma rede de apoio próxima ou vive em condições sociais mais vulneráveis”, detalha.


Contexto social interfere na evolução da doença

O médico explica que a evolução do quadro costuma ser mais sensível em pessoas que enfrentam rupturas familiares, pobreza, isolamento social e pouca oferta de serviços de saúde. Ele afirma que esse conjunto de fatores compromete o reconhecimento dos primeiros sintomas e dificulta a continuidade do tratamento.

“Situações de vulnerabilidade aumentam muito o risco de descompensação. O caso divulgado na Paraíba chama atenção para essa realidade, já que a falta de acompanhamento constante deixa qualquer pessoa com esquizofrenia mais exposta. O principal risco recai sobre o próprio paciente, especialmente em momentos de desorganização mental” destaca Dr. Batista.


O que pode ajudar na proteção e na recuperação

Na visão do especialista, o fortalecimento das redes de cuidado é essencial para evitar desfechos graves e garantir dignidade às pessoas com transtornos psicóticos. Ele explica que políticas públicas que integrem saúde mental, assistência social e atenção primária ajudam a reduzir vulnerabilidades e facilitam o acesso ao tratamento.

“Quando o paciente tem acompanhamento regular e uma rede que o apoia, as chances de estabilidade e autonomia aumentam muito. A informação qualificada também faz diferença, porque reduz preconceitos e facilita o reconhecimento dos sinais de alerta” afirma o médico.

O especialista conclui que ampliar o debate público sobre esquizofrenia contribui para que mais pessoas recebam diagnóstico precoce e cuidado adequado.

“Aqui, o objetivo deve ser criar um ambiente de acolhimento e compreensão para que pacientes e famílias possam enfrentar a doença com segurança e perspectivas de vida mais estáveis”, finaliza.

  

ViV Saúde Mental e Emocional


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados