Transtorno afeta mais de 500 mil adultos no Brasil
segundo estudo nacional
O país voltou a
discutir saúde mental depois da repercussão do caso envolvendo um jovem de
dezenove anos que entrou na área de uma leoa em um zoológico de João Pessoa e
morreu após o ataque. O episódio reacendeu a necessidade de ampliar a
compreensão sobre transtornos psiquiátricos graves e de fortalecer o acesso a
tratamento contínuo, especialmente entre pessoas que enfrentam vulnerabilidades
sociais e interrupções no cuidado.
O peso dos
dados mais recentes
Um estudo
realizado por pesquisadores da Unifesp, da USP e da UFPR, divulgado pela Uniad,
identificou que cerca de 547 adultos brasileiros convivem com esquizofrenia, número
que representa 0,34% da população.
A pesquisa
analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 e mostrou maior
prevalência entre homens de quarenta a cinquenta e nove anos, com baixa
escolaridade e renda e residentes em áreas urbanas.
Para o Dr. Edson
Kruger Batista, psiquiatra da ViV Saúde Mental e Emocional na unidade do
Espírito Santo, os dados reforçam a complexidade do transtorno e a importância
de observar o contexto em que o paciente está inserido.
O especialista
afirma que a esquizofrenia é um transtorno que afeta a forma como a pessoa
percebe e interpreta a realidade e explica que essa alteração interfere na
consciência, na linguagem, nas emoções e no comportamento. Ele destaca que
sintomas como alucinações auditivas, delírios, pensamento desorganizado e
retraimento social podem variar conforme a fase da doença.
Bases
biológicas e ambientais que influenciam o quadro
O médico explica
que a esquizofrenia tem origem multifatorial. Segundo ele, há influência
genética importante, mas fatores ambientais podem atuar como desencadeadores
como, por exemplo, vivências traumáticas, uso de substâncias psicoativas,
estresse crônico e ausência de suporte social, aumentando potencialmente o
risco da manifestação da doença.
“É fundamental
entender que a esquizofrenia não reflete apenas uma alteração cerebral isolada,
ela envolve a história de vida da pessoa e as condições em que essa vida
acontece. A combinação entre vulnerabilidade biológica e ambiente adverso aumenta
o risco de crises e dificulta a recuperação” afirma o especialista da ViV.
Diagnóstico
precoce e continuidade do tratamento favorecem estabilidade
De acordo com o
psiquiatra, o acompanhamento contínuo é decisivo para o prognóstico. Ele
explica que o tratamento inclui medicamentos antipsicóticos, psicoterapia e
suporte psicossocial e que a regularidade do cuidado costuma ser determinante
para prevenir recaídas.
“Quando o
tratamento é iniciado de forma precoce e mantido ao longo do tempo, vemos uma
melhora expressiva na estabilidade emocional e na funcionalidade. Muitos
pacientes conseguem estudar, trabalhar e manter vínculos afetivos com
autonomia” explica o médico.
O especialista
comenta que existe indicação de internação em situações específicas. Ele afirma
que quando há risco para o próprio paciente ou quando a desorganização mental
impede a adesão ao cuidado ambulatorial, a internação pode oferecer um ambiente
seguro para reorganizar o tratamento. Segundo ele, esse recurso deve ser
entendido como parte do cuidado e não como punição ou isolamento.
Dr. Batista
comenta que algumas pessoas têm dificuldade de seguir o tratamento com
comprimidos todos os dias e que, nesses casos, os medicamentos de longa duração
ajudam a manter a estabilidade. “Essa estratégia costuma ser muito útil para
quem não tem uma rede de apoio próxima ou vive em condições sociais mais
vulneráveis”, detalha.
Contexto
social interfere na evolução da doença
O médico explica
que a evolução do quadro costuma ser mais sensível em pessoas que enfrentam
rupturas familiares, pobreza, isolamento social e pouca oferta de serviços de
saúde. Ele afirma que esse conjunto de fatores compromete o reconhecimento dos
primeiros sintomas e dificulta a continuidade do tratamento.
“Situações de
vulnerabilidade aumentam muito o risco de descompensação. O caso divulgado na
Paraíba chama atenção para essa realidade, já que a falta de acompanhamento
constante deixa qualquer pessoa com esquizofrenia mais exposta. O principal
risco recai sobre o próprio paciente, especialmente em momentos de
desorganização mental” destaca Dr. Batista.
O que pode
ajudar na proteção e na recuperação
Na visão do
especialista, o fortalecimento das redes de cuidado é essencial para evitar
desfechos graves e garantir dignidade às pessoas com transtornos psicóticos.
Ele explica que políticas públicas que integrem saúde mental, assistência
social e atenção primária ajudam a reduzir vulnerabilidades e facilitam o
acesso ao tratamento.
“Quando o paciente
tem acompanhamento regular e uma rede que o apoia, as chances de estabilidade e
autonomia aumentam muito. A informação qualificada também faz diferença, porque
reduz preconceitos e facilita o reconhecimento dos sinais de alerta” afirma o
médico.
O especialista
conclui que ampliar o debate público sobre esquizofrenia contribui para que
mais pessoas recebam diagnóstico precoce e cuidado adequado.
“Aqui, o objetivo
deve ser criar um ambiente de acolhimento e compreensão para que pacientes e
famílias possam enfrentar a doença com segurança e perspectivas de vida mais
estáveis”, finaliza.
ViV
Saúde Mental e Emocional
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