Especialistas
apontam mudanças de comportamento, aumento global de casos e riscos graves para
gestantes e bebês.
Neste Dezembro
Vermelho, mês dedicado à conscientização e ao combate às infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs), a sífilis continua avançando em todo o Brasil,
acompanhando a tendência global de crescimento que vem reacendendo o alerta das
autoridades de saúde. Segundo dados do último boletim, o cenário global
demonstra um agravamento da sífilis, com o registro de mais de 1 milhão de
casos, atingindo cerca de 8 milhões em todo o mundo. A Região das Américas,
conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), concentra a maior
incidência global, acumulando aproximadamente 3,37 milhões de registros de
novas infecções.
No cenário
nacional, a situação também inspira atenção. Entre 2010 e junho de 2025, o
Brasil notificou 1.902.301 casos de sífilis adquirida, com uma taxa de detecção
que se manteve em ascensão ao longo de quase toda a série. A única queda significativa
ocorreu em 2020, quando a pandemia de Covid-19 limitou o acesso da população
aos serviços de saúde e reduziu a capacidade de diagnóstico.
O infectologista
da Afya São João Del Rei, Dr Américo Calvazara Neto, esclarece que este aumento
está diretamente relacionado com a mudança de comportamento da população em
relação às infecções sexualmente transmissíveis, as chamadas IST´s ou DST´s. “O
que estamos vendo dentro dos ambulatórios de infectologia, é que as pessoas
pararam de se proteger em suas relações sexuais, ou seja, não estão usando mais
o preservativo. Isto, de certa forma, tem impactado significativamente este
aumento da incidência da doença. Essa ausência de preocupação torna as pessoas
vulneráveis às ISTs, principalmente aquelas pessoas que têm parcerias sexuais
múltiplas”.
Dr Américo
Calvazara destaca que os sintomas da sífilis variam conforme a fase da doença e
seu tempo de evolução. Na fase primária, o principal sinal é uma ferida na
região genital, o cancro duro, que é indolor, bem delimitado e sem secreção.
Como desaparece espontaneamente, muitas vezes passa despercebida pelas
pessoas.
“Depois disso, a
pessoa pode permanecer sem sintomas por um período, fase conhecida como sífilis
latente. Na sequência, podem surgir manchas avermelhadas pelo corpo, o exantema
sifilítico, que caracteriza a sífilis secundária. Nessa etapa também podem
ocorrer sintomas inespecíficos como fadiga, mal-estar, dores articulares, perda
de peso e dor de cabeça. Na fase terciária, a doença pode comprometer órgãos como
cérebro e coração, levando à neurossífilis ou cardiossífilis. Os quadros
neurológicos podem incluir demência, perda cognitiva acelerada e alterações de
visão decorrentes da inflamação da retina ou do nervo óptico”, esclarece o
infectologista da Afya São João Del Rei.
Em 2025, Minas
Gerais registrou um aumento de casos de sífilis adquirida e em gestantes, com
mais de 4 mil casos de sífilis em Belo Horizonte até outubro, e 76 casos de
sífilis gestacional em Uberlândia no primeiro semestre.
Sífilis
em gestantes
O Boletim
Epidemiológico Ministério ainda revelou que foram notificados 24.443 casos de
sífilis congênita e 183 óbitos de menores de 1 ano pela doença, resultando em
um coeficiente de mortalidade de 7,2 por 100.000 nativos vivos. Embora a
maioria das mães tenha realizado pré-natal (82,8%) e sido diagnosticada durante
a gestação (58,1%), a transmissão vertical não foi interrompida em 85,7% dos
casos devido a tratamento inadequado ou não realizado.
O professor de
ginecologia e obstetrícia da Afya Ipatinga, Dr Renilton Aires Lima, comenta que
a sífilis congênita ocorre quando a gestante tem sífilis e transmite a infecção
para o bebê durante a gravidez, o que pode acontecer em qualquer momento da
gestação, mesmo na ausência de sintomas.
“O Brasil possui
um protocolo definido para prevenir a sífilis congênita, que inclui a testagem
de todas as gestantes, o tratamento dos casos positivos e o acompanhamento
regular. Assim, a maioria dos casos ocorre quando a gestante não é testada de
forma adequada ou não completa o tratamento necessário.”
A sífilis não
tratada durante a gestação pode trazer consequências muito graves para o bebê,
tanto ainda na gravidez quanto após o nascimento. Segundo o Dr Renilton Aires a
infecção compromete o funcionamento da placenta e atinge diretamente o feto,
interferindo no crescimento e na formação dos órgãos. A infecção pode causar
aborto espontâneo, morte fetal, parto prematuro, baixo peso ao nascer e
importante comprometimento do desenvolvimento.
“Depois do parto, os sinais da sífilis congênita podem surgir nos primeiros dias ou semanas, como aumento do fígado e baço, icterícia, anemia, manchas ou bolhas na pele, dificuldade para respirar, inflamação óssea, rinite com secreção sanguinolenta e aumento de gânglios. Nos casos mais graves, a infecção pode atingir o sistema nervoso central e causar neurossífilis, que se manifesta com convulsões, alterações oculares, irritabilidade intensa ou paralisias”, conclui o professor da Afya Ipatinga.
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