Estamos
nos aproximando do dia em que comemoramos a lembrança de nossos mortos, o dia
de finados. Quando pequena, não gostava muito desse dia porque tinha medo. Medo
de olhar para a possibilidade de morte. Incrível; mas mesmo sabendo que iremos
um dia morrer, não gostamos de nos lembrar disso; preferimos não ter
consciência dessa realidade. Cresci. Já não temo mais essa data. Observo ao
longe o comércio que se estabeleceu em torno do dia de finados. Ambulantes
vendem flores, lanches, refrigerantes, espetinhos... Visitar o cemitério virou
passeio. É fofoca daqui e de lá.
Coitados
dos mortos! Não podem descansar em paz no dia deles, tamanho o barulho e a
algazarra que por lá se faz. Tem gente que aproveita para paquerar enquanto
leva flores nas mãos. Visitar os defuntos virou passeio e entretenimento dos
bons!
É
certo que alguns choram demais. Lamentam a falta daqueles que não estão mais
presentes. Culpam-se por não ter-lhes dado mais atenção ou manifestado seu
amor. Guardaram palavras que nunca foram ditas e que agora não há mais para quem
dizer, pois a pessoa se foi. Isso realmente dói.
Deixar
de fazer, deixar de falar, deixar de amar... Sempre digo que o momento é hoje!
Faça. Fale. Ame. Não deixe para depois, pois o “depois”
pode
não chegar. Abrace o seu filho enquanto você ainda o tem. Desculpe-se com sua
mãe enquanto ela ainda está ao seu lado. Perdoe seu cônjuge enquanto vocês
ainda podem ser amigos. O tempo não volta atrás para que possamos reescrever
nossa história.
Agradeça
a Deus o tempo que teve ao lado do seu ente querido. Agradeça muito. Se você
tem saudades é porque valeu à pena desfrutar momentos ao lado dele; foi um
presente que o Pai lhe concedeu. Quanto mais amamos menos falta sentimos de
quem nos deixou, pois o sentimento de amor é abrangente e agrega ao invés de
afastar. O amor nos dá a certeza de que, em algum lugar, aquela pessoa percebe
o que sentimos por ela. Compactua com nossas vibrações, sejam elas positivas ou
negativas. Existe; pois como disse no passado Lavoisier: “na natureza, nada se
perde nada se cria, tudo de transforma”. A morte é uma transformação, não um
fim. Talvez, seja até um novo começo... Quem sabe?
Ame.
Ame muito. A vida tem valor pelos momentos que conseguimos vivenciar e
eternizar em nossa memória. Se você tem a lembrança de seu ente querido viva em
você, então, ele está contigo. Nós realmente nunca conseguimos nos apoderar do
outro, apenas partilhar momentos com ele. Basta ver que os apaixonados vivem
juntos mais em pensamentos que propriamente em ações.
Imagina-se
muito. As criações mentais nos trazem sensações por vezes mais fortes que a
própria realidade... Se é que a realidade existe (pra bom entendedor, meia
palavra basta).
Neste
“finados” não focalize a perda. Agradeça pelo tempo que passou junto de seu
ente querido. Recorde as coisas boas que fizeram juntos. Ria das brincadeiras
que tinham por costume partilhar. Encha seu momento de amor, de gratidão, de
paz... Finados vai ficar mais leve para você. E, com certeza, em algum lugar
alguém vai sorrir ao sentir uma vibração tão boa!
Maria
Regina Canhos – escritora
e.mail:
contato@mariaregina.com.br
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