Ex-ministro da
Previdência está otimista com relação à recuperação da economia brasileira, mas
avalia que muitas mudanças ainda precisam ser feitas pelo governo
Na última quinta-feira (28), aconteceu o 30º CEO
Insights sobre “Cenários Econômicos para o Brasil 2020-2022”
com a participação de Roberto Brant (professor e advogado, ex-ministro da
Previdência e Assistência Social, no governo Fernando Henrique Cardoso e
deputado federal por cinco mandatos), Paulo Brant (vice-governador de Minas
Gerais) e Tiago Ulisses (deputado estadual em Minas Gerais). O evento reuniu
mais de cem empresários e representantes políticos de várias cidades e estados
brasileiros, especialmente da Região Metropolitana de Campinas, no auditório da
IBE Conveniada FGV, em Campinas.
Roberto Brant iniciou o painel afirmando que, para
pensar no futuro da economia brasileira, é preciso primeiro fazer uma reflexão
crítica sobre os últimos 40 anos. “Nas últimas décadas, no auge do
desenvolvimento econômico, o Brasil deixou der ser um dos países mais pobres do
mundo. A renda por habitante praticamente dobrou. Isso é inquestionável”,
disse.
Porém, o advogado ressaltou que o peso do governo
brasileiro ainda é excessivo na economia e isso precisa ser modificado com
urgência. “Os gastos públicos representam 40% do PIB e o poder regulador do
Estado também é muito grande. Isso não é cenário de um país emergente.”
Além do tamanho do Estado, a economia fechada
também segurou o crescimento do Brasil nas últimas décadas. “A indústria ficou
defasada e cresceu muito menos do que as outras que se beneficiaram da abertura
da economia”, enfatizou Roberto. “E, ainda hoje, a abertura é mais retórica do
que real.”
Ele lembrou que até 1998, o Brasil tinha pouca
capacidade para ampliar suas importações, com inflação alta e várias crises
cambiais. “Tínhamos uma taxa de juros tão alta que não é possível imaginar, e
que quase quebrou até o real. Hoje, com taxa de juros normal e estabilizada,
não sabemos o que vai acontecer”, disse.
O cenário atual
Roberto destacou tudo o que acha positivo,
atualmente, para traçar cenários futuros. “Temos uma inflação baixa e isso é
duradouro. A inflação caiu no mundo inteiro e daqui a 3 ou 4 anos estará do mesmo
jeito. Pela primeira vez em nossa história, temos juros normais. Isso vai
provocar uma migração de ativos financeiros e haverá uma corrida de
investimentos nos setores produtivos. No primeiro trimestre do ano que vem, as
pessoas vão parar de só olhar e esperar e vão começar a investir.”
Ele classificou a recente Reforma da Previdência
como positiva e audaciosa. No entanto, ele destacou que não se pode esquecer
das milhares de pessoas que não têm previdência no país. Além disso, o mercado
de trabalho e as formas de contratação estão mudando rapidamente e isso afeta a
Previdência. “Hoje, a arrecadação da Previdência baseia-se na relação
empregador e empregado, na qual o empregador contribui com 30% e o empregado
com 70%. Mas hoje há muita informalidade, além de 13 milhões de desempregados e
outros tipos de relação de trabalho. Ainda não temos solução para isso.”
O palestrante classificou como promissoras duas
promessas do governo atual: a abertura comercial e a redução de subsídios. “Num
primeiro momento, o Estado precisa abrir espaço para a economia crescer. Porém,
no futuro, ele deve voltar a crescer para mediar, por exemplo, as relações de
trabalho. O mercado de trabalho está mudando muito rápido e a tecnologia causa
mudanças e rupturas. Além disso, temos uma sociedade com 10% de ricos e 90% de
pobres. Se o governo não interferir, a sociedade vai ficar muito quebrada”.
Agenda política ultrapassada
O palestrante enfatizou que a agenda política do
atual governo é ultrapassada porque separa as pessoas. “Hoje há muita
polarização política no Brasil. As pessoas estão presas a ideias conservadoras,
defendendo-as sem pensar no que é realmente importante. Isso é negativo, porque
a realidade atual é disruptiva e precisamos nos adaptar às mudanças
constantemente. Além disso, estão dando atenção excessiva para coisas que podem
ser mudadas ao longo do tempo.”
Futuro
Apesar de demonstrar otimismo com o cenário
econômico brasileiro atual, com taxa de juros normal e inflação baixa, Roberto
afirmou que é preciso gerar emprego em ritmo mais acelerado, ou a economia vai
se arrastar por muito tempo e permanecer estagnada. “O Brasil vai crescer de 1
a 2% ao ano até 2022. Isso representa 0,3% de recuperação da renda per capita
da população. Isso é insuficiente para melhorar a vida do brasileiro”,
destacou.
Sugestão para impulsionar a economia
“Nos próximos anos, o governo precisa puxar o
investimento em infraestrutura, como habitação e construção civil. Se isso não
acontecer, a economia não vai deslanchar. É preciso que seja feito um
investimento inicial para que seja gerada demanda para o setor produtivo”,
avaliou Roberto.
Painel
Depois da palestra de Roberto Brant, ele participou
de um painel com Paulo Brant e Tiago Ulisses, que responderam às perguntas dos
empresários.
Paulo Brant disse que a queda de juros atual é
sustentável e natural. “Esse é um fenômeno semelhante ao plano real e nos deixa
muito otimistas. O governo precisa acompanhar a economia 4.0, além de prestar
menos atenção na turbulência e procurar se adaptar”, afirmou.
Já Tiago Ulisses focou sua fala na necessidade de
uma boa Reforma Administrativa. “A Reforma Administrativa tem um peso muito
grande nos Estados. É preciso administrar melhor os gastos em saúde, educação e
segurança. Os gastos públicos precisam ser repensados de forma urgente”,
destacou.
Lançamento de livro
No final do encontro, foi lançado o livro
“Organizações Transgênero – O futuro das organizações e as organizações do
futuro”, escrito por João Delpino, Carlos Pessoa e Paulo Vasconcellos Filho.
Todos os participantes ganharam um exemplar.
Delpino explicou que o livro encoraja as
organizações a se adaptarem ao mundo em constante transformação. “As empresas
precisam aprender a assumirem mais riscos. Antigamente era fácil planejar o
futuro, mas hoje isso acabou. Temos que aprender a viver em eterna mudança”,
disse o coautor do livro.
O que é o CEO Insights
Criado em 2013 por ex-alunos do programa CEO FGV, é
uma ação que reúne CEOs e altos executivos, cujo propósito é estimular o debate
de interesses comuns entre os tomadores de decisão das principais empresas e
organizações no Brasil. Com um intenso networking e troca de experiências, os
encontros promovidos pelo grupo trazem temáticas em evidência no universo
corporativo, pensadas para contribuir com a evolução do seu ecossistema.
IBE
Conveniada FGV
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