Há um número
significativo de pessoas para as quais a causa da pobreza no Brasil é a
concentração da riqueza "nas mãos de uns poucos". Ou, em outras
palavras, que os pobres são pobres porque os ricos são ricos. Ou ainda, numa
perspectiva instrumental, que para acabar com a pobreza é preciso dividir a
riqueza (a palavra mais usada é "partilhar").
Mensagens
assim são disparadas cotidianamente desde várias fontes, nos meios de
comunicação, nas redes sociais, nas salas de aula, nos sindicatos, nas igrejas,
nas conversas de bar e nos ambientes culturais. Sob tal bombardeio de
inverdades seria impossível que o conceito não derrubasse as resistências que a
razão pudesse propor, fazendo de toda riqueza um mal e de todo rico um sujeito
perigoso.
Andaríamos
mais rapidamente e melhor na direção certa se entendêssemos o quanto é
enganadora essa leitura ideológica, a partir da qual a utopia socialista é
receitada como remédio no teclado do micro, na folha do livro, na coluna do
jornal e na sala de aula.
Existem
explicações muito mais racionais para a pobreza de tantos brasileiros e para a
pobreza do país. O Estado brasileiro se agigantou e engole mais de 40% do PIB
nacional, gerando uma brutal concentração de renda em torno de si mesmo e
obrigando os cidadãos a trabalharem de 1º de janeiro até 31 de maio para pagar
impostos. Tais impostos são pagos para um retorno em serviços que, ou não são
prestados, ou não têm a qualidade que se deveria esperar.
A corrupção
e os corporativismos atacam, simultaneamente, o bolso dos cidadãos gerando uma
apropriação privada de recursos que, em tese, deveriam estar a serviço de
todos, produzindo desenvolvimento econômico e social. Os dois fatores espantam
investidores externos e tornam o país pouco atrativo a quem tenha destinos mais
seguros para seus recursos.
Nosso modelo
institucional é causa de permanente instabilidade política e de crises que se
sucedem umas às outras, somando-se aos fatores de risco do país. A
irracionalidade do presidencialismo dito de "coalizão" transforma o
voto parlamentar em commodity com preço no mercado dos interesses em jogo,
levando a corrupção para dentro do parlamento.
Por mais que
pareça lugar comum, a afirmação segundo a qual a maior riqueza de um país é
representada pelo seu povo, não pode ser negligenciada ao avaliarmos os motivos
da existência de tantos pobres e de tão evidentes sinais de pobreza no Brasil.
Uma rápida busca no Google evidenciará que algo entre 60 e 82% dos postos de
trabalho abertos no país não são providos por falta de capacitação dos
pretendentes. É reprodutor de miséria e causa de baixo desenvolvimento social
um sistema de ensino de pouca qualidade. Todo ano, em proporções demográficas,
apresentam-se ao mercado de trabalho jovens egressos do ensino médio que não
conseguem montar uma regra de três, não sabem interpretar o que leem e não se
expressam de modo adequado no idioma nacional.
Onde encontrar o bom emprego e o salário digno? Ademais, há uma razoável possibilidade de que
parcela significativa de tais jovens tenha recebido, em sala de aula, a lição
freireana de que é oprimida pelo capitalismo opressor...
Por incrível
que pareça, é dentro desse cenário que a grande mentira encontra seu público,
disperso em todas as classes sociais. Chega a ser criminoso atribuir à empresa
privada, ao investidor, ao empregador, ao gerador de riqueza as culpas pela
pobreza visível no país e, ao mesmo tempo, perversamente, inocentar os
verdadeiros responsáveis: o Estado e a carga tributária, a corrupção e os
corporativismos, a irracionalidade do modelo institucional, a instabilidade
política e a má qualidade da Educação.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras,
é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário