A busca da sustentabilidade dos oceanos depende
fortemente de conhecimento científico sólido e abrangente. Entretanto, a
capacidade de geração de informações e a produção científica para os oceanos é
bastante variável entre os países.
O Relatório Mundial sobre a Ciência Oceânica
publicado em 2017 revelou que o Brasil apresentou um importante crescimento
recente na produção de conhecimento sobre ciências marinhas, consolidando um
papel de destaque na América Latina e no Atlântico Sul. Na escala mundial, o
Brasil figura como o 11º país com maior número de artigos científicos
publicados. A pesquisa oceânica é prioridade pública, mas ainda padece do baixo
nível de internacionalização e da escassez e oscilações de fontes de
financiamento.
Embora o Brasil seja entendido como país emergente
nesse contexto, muito ainda há que ser feito para compreendermos e gerenciarmos
os oceanos de forma sustentável. Além do avanço nas pesquisas, é necessário
ampliar o conhecimento da sociedade sobre os oceanos e, em especial, o uso do
conhecimento científico na tomada de decisão.
Surge nesse contexto a Década da Ciência Oceânica
para o Desenvolvimento Sustentável. A Década foi proposta pela Organização das
Nações Unidas entre os anos de 2021 e 2030 e visa produzir “a ciência que
precisamos para o oceano que queremos”. Esse objetivo está alinhado fortemente
ao documento “O Futuro que Queremos”, resultante da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, realizada em 2012 no Rio
de Janeiro.
Para superar esse desafio uma nova forma de pensar
e fazer ciência deve ser estimulada no País. A Cátedra UNESCO para
Sustentabilidade dos Oceanos foi criada junto ao Instituto Oceanográfico e ao
Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo como uma ação
catalizadora dessas frentes. A Cátedra UNESCO pretende integrar esforços em
rede, estimulando a pesquisa interdisciplinar e integrada, promovendo a cultura
oceânica (do inglês Ocean Literacy) e ampliando o diálogo
entre as ciências do mar, a sociedade e as políticas públicas. Em conjunto com
diversas outras iniciativas que têm emergido no país, a Cátedra pretende
fortalecer a participação e o controle social com vistas à busca da
sustentabilidade dos oceanos.
Como exemplo das sinergias que estão sendo
promovidas para esse fim, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO), a Cátedra e a Fundação Grupo Boticário produziram
e estão disseminando a versão em português do material de divulgação da Década
no Brasil. Com isso espera-se que não somente a comunidade científica, mas toda
a sociedade possa se envolver e contribuir para elevarmos o oceano à prioridade
que ele deve ter dada sua importância e as agressões que vem sofrendo. O
lançamento dessa publicação, no dia 3 de setembro de 2019, no evento “Conexão
Oceano. Comunicar. Engajar. Proteger”, realizado pela Fundação Grupo Boticário,
UNESCO e Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, marca essa nova fase dos oceanos
no Brasil.
Alexander Turra - Cátedra
UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, professor do Instituto de Estudos
Avançados e Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e membro
da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
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