O
fim do imposto sindical foi uma das questões mais debatidas na Reforma
Trabalhista aprovada em novembro do ano passado, tendo em vista a volumosa
fonte de recursos criada durante o governo de Getúlio Vargas nos anos 40, que
era defendida por sustentar milhares de sindicatos responsáveis por representar
melhorias nas condições de trabalho dos trabalhadores (tanto sindicatos de
empresas como de empregados). Por outro lado, também criticada por criar uma
posição confortável para boa parte das entidades, que fez com que ao longo do
tempo não precisassem atuar verdadeiramente para dar voz à classe trabalhista,
uma espécie de acomodação com a percepção dos elevados valores recebidos por
esse sistema impositivo de custeio dos sindicatos.
Esse
debate não se restringia apenas ao patronato, mas também à própria esquerda
política. Confederações e centrais sindicais, em parte incomodadas com o
sindicalismo não atuante em prol dos trabalhadores, se dividiam ao apoiar o fim
da contribuição obrigatória, mesmo que isso diminuísse drasticamente sua fonte
de recursos. A crítica prevaleceu no Congresso Nacional e atualmente parte do
sindicalismo e de outros atores políticos da sociedade ainda defendem o retorno
da contribuição obrigatória por parte dos trabalhadores aos sindicatos.
O
que ocorre é que, se depender do próximo ou da próxima presidente da República,
é provável que a defesa da contribuição sindical talvez seja em vão.
Levantamento
divulgado pelo Portal G1 na última semana expõe o que as cinco principais
candidaturas mais bem colocadas atualmente nas pesquisas defendem em relação às
mudanças na legislação trabalhista. O levantamento foi feito com base em
entrevistas dos respectivos assessores econômicos e programas de governo.
Nenhum dos candidatos defende o retorno da contribuição obrigatória.
As
candidaturas de Marina Silva (REDE), Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin
afirmam ser a favor do fim do imposto sindical. Já os assessores de Fernando
Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) também se posicionam contrários, mas afirmam que
o tema ainda está em discussão. Curiosamente, são as duas candidaturas tidas
como as mais alinhadas à esquerda no espectro político e, portanto, com maior
dificuldade de discutir o tema junto à suas respectivas bases sociais.
Guilherme
Mello, assessor de Fernando Haddad, classifica como uma “loucura” o antigo
modelo em que avalia não valer a pena para o trabalhador se filiar aos
sindicatos, ao ficar responsável sozinho por uma contribuição que beneficia
mesmo aos não sindicalizados. Já Nelson Marconi, assessor de Ciro Gomes, diz
que o modelo era “ultrapassado” e que é preciso agora pensar em uma nova fonte
de receitas para as entidades sindicais.
Marco
Bonomo, assessor de Marina Silva, fala na antiga reivindicação do fim da
contribuição obrigatória por conta do “aparelhamento” dos sindicatos que ameaça
a representatividade das categorias. A candidatura de Jair Bolsonaro defende,
por meio do seu programa de governo, a necessidade de “convencer o trabalhador
a voluntariamente se filiar, através de bons serviços prestados à categoria”.
Por fim, Pérsio Arida, assessor de Geraldo Alckmin, coloca-se contra a
contribuição obrigatória ao defender a escolha individual do trabalhador sem a
imposição do Estado.
O
levantamento ainda trouxe as posições dos candidatos em relação à
revogação/manutenção da Reforma Trabalhista como um todo e sobre a
possibilidade de novas mudanças na legislação.
É
compreensível e esperado que as candidaturas alinhadas à esquerda (Fernando
Haddad e Ciro Gomes) defendam a revogação. Já os assessores de Marina Silva e
Geraldo Alckmin se colocam favoráveis à manutenção, enquanto a candidatura de
Jair Bolsonaro não se posiciona. Todos os assessores econômicos defendem novas
alterações, com exceção da candidatura de Geraldo Alckmin que afirma que ainda
é preciso mais tempo para avaliar os efeitos das mudanças já realizadas.
É
também possível perceber por meio do levantamento que, assim como a reforma
segue sendo pauta no cotidiano das empresas, da Justiça do Trabalho e de toda a
sociedade, é provável que novas mudanças ainda surjam e gerem discussão após o
início do novo governo eleito em 2019. É provável que o retorno do imposto
sindical não seja uma delas.
Somada
ao fim da contribuição obrigatória, a liberação recente no STF da possibilidade
de terceirização de todas as atividades pelas empresas deve cada vez mais
reduzir as receitas das entidades sindicais.
Afinal,
o que esperar de um próximo governo e do futuro dos sindicatos?
A liberdade
sindical somente alcançará sua completude, e por consequência a verdadeira
representatividade de empregadores e empregados enquanto verdadeira “voz
atuante”, quando a relação entre empregados e sindicatos profissionais e
empregadores e sindicatos das empresas seja livre no real sentido da palavra.
Pontue-se que essa liberdade atinge inclusive as paredes internas dos
sindicatos, pois, existindo maior número de associados, ocorrerá o próprio
arejamento da direção do sindicato nos rumos que os trabalhadores querem
através do exercício do voto, pois hoje os sindicatos acabam por ficar em
grande parte no domínio de “seletos grupos”.
O
primeiro passo foi dado, no sentido de inviabilizar o custeio sem
contrapartida, mas há outros que devem ser ainda objeto de avaliação, como a
extensão de aplicabilidade dos instrumentos coletivos firmados (só aos
associados ou a toda categoria indistintamente), e por fim, a tão esperada
pluralidade sindical, que pode ser viabilizada por Emenda Constitucional ou
ratificação de Convenção Internacional da OIT.
É
muito importante que toda sociedade observe o que os presidenciáveis têm
defendido sobre o futuro das relações trabalhistas, considerando esse novo
paradigma da existência sindical e sua atuação no Brasil, pois o discurso pobre
e raso do “nós e eles” impropriamente sedimentado e nada edificante precisa
ceder espaço a análise detida dos projetos.
Ricardo Pereira de
Freitas Guimarães - doutor, mestre e especialista em Direito do Trabalho pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professor da
pós-graduação da PUC-SP, eleito para ocupar a cadeira 81 da Academia Brasileira
de Direito do Trabalho e sócio fundador do escritório Freitas Guimarães
Advogados Associados.
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