Verdadeiras ou não,
frequentemente suspeitíssimas, as pesquisas seguem balizando a cena eleitoral.
A análise que farei aqui pressupõe que elas não devam ser lidas de cabeça para
baixo, ou seja, imagino que acertem ao menos quando apontam para a existência
de um bloco dianteiro crescendo, um bloco intermediário dessorando e uma turma
do rodapé variando entre o pouco significativo e o insignificante.
No grupo intermediário se situa o
candidato Geraldo Alckmin, com o expressivo apoio de uma legião de partidos
cujas bancadas de deputados federais arregimentam mais da metade da Câmara dos
Deputados. Mais da metade! Mesmo assim, as manifestações de desânimo de alguns
líderes tucanos e a falta de eco aos apelos de um patético Fernando Henrique,
evidenciam que a carta desse centrão saiu do baralho.
A explicação do fenômeno é identificável
a olho nu. O quadro partidário nacional se converteu num aglomerado quase
indiscernível de siglas partidárias cujos programas ninguém conhece e cujas
condutas, salvo alguma excepcionalidade, nada revelam sobre si mesmas. Mais
grave ainda: detentores de mandato legislativo, que são a parte mais numerosa e
representativa da elite partidária, como regra, resumem sua atividade dita
“política” em zelar pela própria reeleição e em atender demandas de interesse
pessoal, coletivo ou regional. Uns tantos, ainda, ocupam-se com proteger a
retaguarda e apagar suas digitais onde as mãos tenham andado. Isso é o bastante
para uma atividade política com expressão em pleito nacional? São essas as
lideranças que têm a apresentar à nação?
Quando observamos os dois dianteiros da
eleição presidencial, o que se torna nítido é o trabalho de convencimento. O PT
sempre fez o seu. Ele é enganoso, despido de qualquer relação com a realidade e
com a verdade. O partido constrói versão para tudo que o compromete e é perito
em jogar sobre os demais as culpas e as consequências de seus piores atos. Lideranças e militantes fazem política full time e repetem incessantemente, por
todos os cotovelos, aquilo que lhes interessa.
Nos últimos dois anos, Bolsonaro foi um
solitário e operoso comunicador de suas convicções. Faltaram-lhe orientação
técnica e cuidados de forma e conteúdo, mas não lhe faltaram entusiasmo nem
identificação com importantes anseios nacionais. A sociedade quer proteger a
infância e a instituição familiar; quer que professores ensinem e estudantes
estudem; quer que a criminalidade, a violência e a corrupção sejam combatidas;
quer a Lava Jato preservada, polícias valorizadas, bandidos presos e penas
cumpridas. Candidato do minúsculo PSL, sem dinheiro nem tempo de TV,
arregimentou multidões e lidera a disputa sucessória a despeito da carga
cerrada que lhe fazem a Globo, a Folha, o Estadão e a maior parte do mundo
cultural e estatal sob influência petista.
Nada é mais insosso do que um projeto de
poder pelo poder. O país seria bem menos sujeito a grandes instabilidades se os
partidos esgrimissem ideias, se operassem no sentido de formar opinião e criar
bons consensos. Se eles não servem para o diálogo com a nação sobre seus
problemas, se não recrutam lideranças qualificadas, se seus líderes marcam o
próprio território e cuidam de si mesmos, se não se importam com as pautas das
ruas, se não resistem à propagação das teses mais absurdas, se não as
confrontam com outras superiores, tornam-se entes inservíveis e desprezáveis.
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