Entre o hospital e a cadeia, presidenciáveis que
derretem ou decolam, radicalismos nada disfarçados e até mesmo candidatos que
acusam o adversário de gordo ou de baixinho, há uma eleição que segue quase
imperceptível, descolada das discussões acaloradas que separam corações e
mentes: as eleições para a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Se, por um lado, a eleição para a Câmara Federal
ainda chama alguma atenção para si, menos por conta das propostas e mais pelas
bizarrices das subcelebridades que as disputam, o fato que é, para a
representação no Legislativo do Estado, o debate lembra uma pregação no
deserto. Não deveria ser assim.
Para lembrar como custa caro não refletir sobre que
tipo de representante a sociedade deseja na Assembleia, dou dois exemplos.
O maior orçamento do Estado é o da Secretaria da
Educação: R$ 40 bilhões. O segundo maior é o da pasta da Segurança, R$ 22
bilhões, pouco acima do da Saúde, R$ 21 bilhões. E o quarto maior orçamento?
O quarto maior orçamento do Estado, no valor de R$
20 bilhões, é destinado a um penduricalho que tomei a liberdade de chamar de
Secretaria das Desonerações Fiscais. É isso mesmo: anualmente, o Estado de São
Paulo concede benefícios fiscais a empresas, uma renúncia ao recebimento de
recursos públicos quase empatando com os gastos na Saúde ou na Segurança.
Quem são essas empresas? A sociedade não sabe. O
Governo do Estado, alegando que precisa proteger o sigilo fiscal de quem recebe
esse favor (feito com dinheiro público, diga-se de passagem), não divulga
publicamente essa informação. Pergunta-se: qual parlamentar está disposto a
enfrentar essa luta pela transparência? Quanto essa omissão já está custando à
população?
Outro exemplo. Muito se fala na Educação como a
chave transformadora da realidade social dos mais carentes – e 11 entre 10
candidatos a qualquer cargo concordam com isso. Porém, no Estado de São Paulo,
em que 80% das crianças e adolescentes frequentam a rede pública, dois
professores a cada três dias relatam terem sido vítimas de agressão. Agressão
física.
Após décadas de um mesmo governo, a população
paulista precisará se conformar com escolas em que professores precisam levar
papel higiênico de casa e cujo ambiente lembra mais o de um presídio abandonado
do que uma instituição de Educação? E o que esperar do futuro de jovens que não
conseguem fazer uma regra de três, como é o caso de metade dos estudantes do
Ensino Médio das escolas estaduais ? Quais os parlamentares dispostos a serem
combativos com relação a essa tragédia?
Deputados estaduais não são despachantes de luxo
para fazer pontes ou remendos em estradas numa determinada região. Há problemas
bem mais urgentes para serem resolvidos, sobre os quais pouco se fala e muito
menos se ouve dos pretensos candidatos.
A eleição à Assembleia Estadual não pode seguir
camuflada em meio às demais, como se fosse uma peça de decoração – ou uma
burocracia chata. O anonimato, aqui, já nos cobra um preço muito caro e a conta
ainda poderá piorar muito.
Paulo Leme Filho - advogado, palestrante e escritor. Dependente químico
em abstinência há mais de 21 anos, é fundador da ONG Movimento Vale a Pena, que
trata da conscientização sobre dependência química a jovens. É também integrante
do Elo Movimento, coletivo que tem por objetivo monitorar a atuação de
autoridades públicas, sendo autor de várias ações judiciais contra o Poder
Público. É candidato a deputado estadual em São Paulo (Rede).
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