Instabilidade emocional, desregulação afetiva
excessiva, sentimentos intensos e polarizados - do tipo "tudo ótimo e tudo
péssimo" ou "eu te adoro e eu te odeio" -, angústia, abandono...
A oscilação dos sentimentos são constantes e acontecem diversas vezes ao dia,
às vezes, no intervalo de uma hora.
Tais características são típicas de quem sofre do
Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), doença que afeta aproximadamente
6% da população mundial. No Brasil, estima-se que haja 3 milhões de pessoas com
esse distúrbio. Dentre as principais consequências do paciente border estão a
automutilação, o uso de drogas e álcool e tentativas sucessivas de suicídio,
sendo que até 10% deles chegam a se matar.
Infelizmente, há pouco material publicado sobre o
TPB no Brasil, sendo uma das áreas de pesquisa em psicologia e psiquiatria com
maior escassez de publicações científicas. Outro agravante é que, geralmente, a
doença é diagnosticada de forma errada, como bipolaridade, resultando em
medicação e tratamento ineficientes. Entre os pacientes com alguma forma de
transtorno da personalidade, 33% dos ambulatoriais e 63% dos internados parecem
preencher critérios para o TPB.
Uma das saídas para diagnosticar com mais
assertividade a doença é por meio da neuroimagem. Exames como a tomografia e a
ressonância magnética são capazes de reproduzir as propriedades do encéfalo,
ajudando a medir ondas cerebrais que nos dão orientações a respeito da
atividade elétrica de diferentes partes do encéfalo durante diversos estados
comportamentais. Estudos de neuroimagem no TPB encontraram alterações (quando
comparados a indivíduos sem o transtorno) nas áreas cerebrais associadas à cognição,
afeto, regulação da emoção e impulsividade.
O neurocientista Anthony Ruocco, pesquisador da
Universidade de Toronto (Canadá), integra a linha de pesquisadores que buscam
compreender a personalidade limítrofe, por meio da neurociência. No retrato
mais completo até agora do cérebro borderline, ele compilou 11 estudos de
imagem, concluindo que o paciente com TPB, além do acompanhamento psicológico e
psiquiátrico, necessita também de tratamento neurológico.
As imagens indicam que eles percebem as experiências
negativas de forma aumentada, o que pode explicar, por exemplo, as crises de
fúria por motivos aparentemente banais, ao mesmo tempo em que o centro de
regulação emocional trabalha em ritmo lento, dificultando o autocontrole.
A conclusão é que os detalhes trazidos por esses
estudos de neuroimagem podem ajudar a desenvolver tratamentos cada vez mais
eficazes e a cuidar melhor dos pacientes.
Beatriz Moura
- formada em Psicologia pelo Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação
(IBMR) e especialista em Transtorno de Personalidade Borderline
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