Neste Texto Adan e Lara te
convidam a mergulhar para dentro de si mesmo e repensar algumas escolhas.
Eu tenho um quarto que eu protejo. Um “lugar” em
minha mente de onde tenho medo de sair. Mantenho a porta fechada para me sentir
seguro.
Parece que tem um senhor que mora comigo. A todo
instante ele bate à porta, toca a campainha incessantemente até que eu abra a
porta e o convide para entrar. Se ele insiste tanto para entrar, deve ser
porque tenho que deixá-lo entrar. É como se ele me trouxesse as respostas para
me sentir bem, estando sozinha neste casarão. Nem sempre dá certo, quase nunca
na verdade, mas ele realmente conhece minha solidão.
Porém, assim que faço o favor de deixá-lo entrar,
ele me exige um banquete para matar sua fome e me sinto obrigada a servi-lo. Às
vezes, ele deixa eu comer o resto da comida, às vezes tenho que me esforçar e
me sacrificar para merecê-la.
Eu não faço ideia de porque estou neste quarto, não
tenho noção de quem sou. A única coisa de que me lembro é que este senhor me dá
de comer e, assim, sigo existindo.
Até que eu canso de existir sem saber quem sou e o
que faço aqui. Então, cansada e rendida a não querer mais existir e disposta a
dizer ao senhor que não mais o servirei, eu abro a porta e me surpreendo com o
que vejo. Por trás do senhor Barulhento havia outro senhor que não falava, que
somente me mirava com um leve sorriso.
De repente, me dou conta de que ele sempre esteve
ali, mas nunca senti vontade de convidá-lo porque sempre tive a certeza de que
deveria convidar o senhor Falastrão que toda vez queria entrar, e que de alguma
maneira me ressoava desde ali.
Neste instante, o olhar deste outro senhor
Silencioso me pareceu tão familiar. E, enquanto mirava diretamente em seus
olhos, fui tão profundamente em seu silêncio, que o barulho do velho senhor
parecia que estava tão longe, tão longe que mal compreendia o que dizia.
Vagarosamente, saí da frente da porta e
imediatamente o senhor Silencioso deu seus passos para entrar. Não precisei
dizer uma palavra para que soubesse que havia aberto o espaço para que ele
passasse. De alguma maneira ele sabia o que eu queria, o que eu necessitava.
Ele deixou a porta aberta, não fechou como o outro
senhor sempre faz. Sempre acreditei que havia algo a temer lá fora, exatamente
por manter a porta fechada. Este “novo” senhor estava me ensinando que não
havia nada de que ter medo. E o mais incrível é que começou a me ensinar isso
sem dizer uma palavra, sem fazer um barulho.
Aquilo tudo era muito estranho para mim. Fiquei
meio sem saber o que fazer porque parecia que eu não tinha que fazer nada e
isso, surpreendentemente, me incomodava. Quantas vezes eu estive cansada e pedi
para o outro senhor para ficar quieta e em paz, mas ele sempre dizia que eu
tinha que fazer por merecer.
Que confusão no meu quarto!
Neste quarto que sempre protegi para me sentir
segura. Mas que, agora, este senhor me mostrava que este quarto era mesmo uma
Antessala de um casarão fechado, antigo e ultrapassado, e que só existia porque
eu jamais saí da antessala.
Aí então, eu me perguntei porque eu nunca fui olhar
para depois da antessala, mais adentro do casarão?
E com a presença daquele Silencioso senhor, me dei
conta de que aquele outro senhor Falastrão estava constantemente me distraindo
com seu barulho, me ocupando com suas ideias e afazeres. O espaço estava
preenchido todo o tempo por aquele monte de palavras e imagens que se
apresentavam como uma ressonância passada, que dialogava diretamente com este
alguém solitário, fugindo da dor e em busca de prazer. Tive que assumir que eu
por mim mesma sou uma completa insatisfeita. Uma eterna incompleta. Já comecei
a achar graça, por que como eu poderia ser eterna e incompleta ao mesmo tempo?
Entretanto, o mais impressionante é que tudo isso
somente estava ali porque eu acreditava que era assim. Pois naquele momento,
naquele som do silêncio, podia presenciar uma “nova” maneira de ver, de
perceber a mim mesmo e a tudo a minha volta.
Isso me assustava! Foi quando perguntei ao
Silencioso senhor:
- Por que você nunca entrou antes aqui?
Ele olhou com aquele sorriso pacifico e
amorosamente estranho para mim, que me fazia sentir “em casa” ao mesmo tempo, e
disse:
- Por que a porta estava fechada.
Pensei comigo que eu sempre abri a porta. E o que,
de fato, ele queria dizer com isso?
Foi então, que me dei conta de que eu era o
anfitrião. A todo momento.... Eu fazia o convite. Eu assinava o acordo de quem
ia entrar ali.
Neste momento, senti tanta vergonha que tive vontade
de desaparecer. E,imediatamente, comecei a ouvir o barulho do antigo convidado
se aproximando de novo. Foi quando pedi ajuda ao meu novo convidado Silencioso,
pois eu não queria mais aquele antigo, porém não sabia como calá-lo. Foi quando
o senhor do silêncio me disse:
- A vergonha que sentes é porque acreditavas que
algo ou alguém estava fazendo isso contigo e que era uma vítima. Agora, sabes
que és responsável por quem convida para entrar, responsável pelo que
experimenta. É você quem toma a decisão.
- Ok. – Eu disse – Mas não entendo porque eu estive
fazendo isso comigo. Me auto castigando? Sou louca?
- Sim, isso é uma insanidade. Mas o melhor dela é
que é uma ilusão. – Disse ele.
- Ilusão?
- Você acredita que está sozinha, não lembra de sua
fonte, de seu Criador. Você realmente crê que se separou dele, você se sente
culpado por isso e se aprisionou no medo, na morte, na separação e na dor de um
sonho que já acabou. Só estou aqui para te lembrar disso e para rirmos juntos.
- Estou sonhando? – Eu disse um tanto assustada.
- Isso não é para você acreditar ou compreender, e
sim vivenciar e ver por si mesmo.
- E como saio disso, meu Deus? Ou, seja lá quem for
o Senhor.
- Me convide constantemente para entrar e percorrer
esse casarão de culpa contigo. – Disse ele - Só isso.
Só isso? Como podia alguém, até então estranho para
mim, me passar tanta confiança a ponto de eu encontrar total obviedade em suas
palavras, tamanha honestidade em seus olhos e plena leveza em seu sorriso?
O que mais eu poderia fazer? Em um tiro no escuro
de absoluta certeza, eu disse:
- A porta está aberta.
Imagem
Divulgação
Adan e Lara - São guias de AutoReconhecimento
que levam sua experiência do despertar espiritual a diversos países. Adan e
Lara sempre foram buscadores de uma conexão direta com a “Fonte”. Desde
pequenos, perceberam que havia algo de errado no funcionamento do mundo e já
entendiam que não adiantava querer ou fazer nada que pudesse mudá-lo. Então,
compreenderam que a única mudança estava dentro deles, para a qual era
necessária uma nova percepção, que só seria possível quando soubessem quem
realmente são.
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