Atrasos
ou déficits motores podem ser sinais do Transtorno da Coordenação Motora
Entretanto, quando a criança apresenta alguma dificuldade para realizar tarefas simples, como amarrar o tênis, fechar botões, apontar ou segurar um lápis, escrever seguindo a linha do caderno, recortar, segurar o garfo para comer sem derrubar a comida e participar de jogos e brincadeiras que exigem as funções motoras, é preciso avaliar se há algum tipo de atraso ou déficit no desenvolvimento na coordenação motora.
Segundo a terapeuta ocupacional Márcia Strabeli, alterações da coordenação motora estão associadas a diversos distúrbios do sistema nervoso central. Assim, crianças com paralisia cerebral, síndromes genéticas e deficiência intelectual, por exemplo, podem apresentar essas alterações que são conhecidas e esperadas. “Entretanto, quando não há nenhuma causa aparente para o déficit motor, ou seja, nenhuma condição que explique o problema, o ideal é consultar um especialista para uma avaliação”.
“A avaliação de um especialista poderá indicar se o déficit está ligado ao Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). A condição se aplica quando na ausência de transtornos físicos ou neurológicos, há um desempenho abaixo do esperado para a idade e nível cognitivo da criança nas atividades que exigem coordenação motora”, explica a terapeuta.
Não existe criança desajeitada
“A falta de jeito é um sinal bem característico do TDC, assim como uma coordenação motora abaixo do esperado para a idade. Problemas de ritmo, tensão corporal e excesso da atividade muscular durante a execução de tarefas motoras são outros sinais importantes. É interessante observar que quando os pais contam a história da criança, quase sempre relatam que houve atraso nos marcos do desenvolvimento motor, como engatinhar, ficar de pé e andar”, comenta a fisioterapeuta Walkiria Brunetti.
Walkíria diz ainda que é comum que essas crianças tenham menos interesse por esportes ou ainda por brincadeiras que exigem coordenação motora grossa ou fina mais desenvolvida. “Como são crianças com habilidades motoras restritas, em alguns casos podem até ser excluídas das brincadeiras pelos colegas, o que também afeta a interação social e o desenvolvimento emocional, podendo levar à ansiedade, baixa autoestima e depressão”.
Funções motoras e aprendizado
Segundo estudos, o TDC afeta entre 6 a 10% das crianças em idade escolar, portanto é um problema frequente na infância, que pode ter grande impacto no desempenho escolar e nas relações sociais. Entre as causas, alguns estudos apontam que problemas na gravidez, parto, prematuridade, baixo peso no nascimento e fatores ambientais podem estar ligados ao déficit motor.
“Além disso, os problemas motores quase sempre aparecem associados a dificuldades de aprendizagem e em crianças com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”, diz Márcia.
Como a Terapia Ocupacional pode ajudar
O tratamento do TDC é multidisciplinar, ou seja, é feito por diversos profissionais, entre eles o terapeuta ocupacional. A terapia ocupacional é uma intervenção fundamental, pois ajuda os pais, professores e cuidadores a compreenderem melhor as dificuldades da criança.
“Na terapia são estabelecidas estratégias para contribuir e para compensar o déficit motor. Assim, a criança tem oportunidades de praticar e de aprender novos caminhos para executar as tarefas que exigem a coordenação motora, graças a neuroplasticidade cerebral. A criança se torna mais consciente de seus pontos fortes e podemos trabalhar de forma positiva para que ela vença suas dificuldades”, ressalta Márcia.
“O objetivo final do tratamento é que a criança ganhe autonomia, aprenda a executar as tarefas escolares e as atividades da vida diária, como comer sozinha, vestir-se e, claro, participar das brincadeiras e esportes visando sua inclusão social. Em geral, a terapia ocupacional é realizada em conjunto com a fisioterapia, que irá trabalhar também as questões musculares envolvidas na coordenação motora”, comenta Walkíria.
Portanto, o alerta para os pais é prestar atenção aos marcos do desenvolvimento para entender o que é esperado para cada fase da vida da criança. Embora o diagnóstico do TDC só pode ser feito na idade escolar, ou seja, depois dos 6 anos, é possível intervir de forma mais precoce para aproveitar a neuroplasticidade que é mais intensa nos primeiros anos de vida.
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