Em
2015, o Brasil tinha 188 milhões de habitantes com mais de cinco anos, conforme
estimativa populacional do IBGE. Considerando que a partir dessa idade os
indivíduos têm potencial para ser leitores, é possível fazer um interessante
cálculo, cruzando os dados demográficos com a última edição da pesquisa
Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (Fipe-USP/CBL/SNEL).
No
ano passado, foram vendidos 389,27 milhões de livros no País. Dividindo-se esse
número por 188 milhões, temos média de 2,07 exemplares/ano por brasileiro com mais
de cinco anos. Esse total, contudo, inclui os 134,59 milhões de unidades
compradas pelo governo. Se efetuarmos a conta apenas com os 254,68 milhões de
exemplares adquiridos diretamente pelos consumidores nas livrarias e demais
canais de venda, a média cai para 1,35 livro/ano por habitante com mais de
cinco anos.
Então,
continua sendo inevitável a velha pergunta: por que o brasileiro lê tão pouco?
Refletir sobre a resposta é oportuno por ocasião do transcurso do Dia Nacional
do Livro (29 de outubro). Os principais motivos são a distribuição desigual da
renda; o analfabetismo, inclusive funcional, de quase 30 milhões de pessoas; a
falta de estímulo em casa e na escola; a carência de pontos de venda e de
bibliotecas públicas; 2,8 milhões de crianças e adolescentes, ou 6,2% dos
brasileiros entre quatro e 17 anos, estão fora da escola (base de dados do
IBGE); e mais de 3,3 milhões de crianças e adolescentes (entre cinco e 17 anos)
encontram-se em situação irregular de trabalho infantil (Fundação Abrinq).
São muitos
os brasileiros, adultos, crianças e adolescentes, que, antes da oportunidade da
leitura, lutam pela sobrevivência. Por isso, é lamentável que nosso país careça
de políticas públicas que ampliem o acesso ao livro, pois o direito de ler é
inerente à cidadania e decisivo para a ascensão socioeconômica e redução da
dívida social. Quantos mais lerem, menor será o contingente de excluídos.
As
escolas seriam uma grande porta de entrada para o universo dos livros. No Brasil,
porém, 53% das 120,5 mil existentes nas redes públicas não têm biblioteca ou
sala de leitura, conforme levantamento feito em 2015 pelo portal Qedu, da
Fundação Lemann. Além disso, em decorrência da crise econômica e fiscal, os
programas de compras governamentais de obras não didáticas também sofreram
atrasos e paralisações nos últimos anos.
Outra
questão a ser solucionada para o estímulo à leitura diz respeito a um
incompreensível e impune desrespeito ao princípio constitucional referente à
imunidade tributária do livro: na sua impressão, as gráficas recolhem alíquota
de 9,25% de contribuição para o PIS/COFINS. Daí a importância do projeto de lei
2.396/2015, que reduz a zero as alíquotas do PIS/PASEP e da COFINS incidentes
sobre a receita bruta decorrente da impressão de livros, reduzindo o seu custo.
Aliás, por mais incrível que possa parecer, os materiais escolares, como
cadernos, fichários e agendas, também são taxados, o que pode ser solucionado
por outro Projeto de Lei, o de número 6.705/2009, já aprovado no Senado.
Da
baixa renda de parcela populacional expressiva ao desrespeito à Constituição,
são muitas as causas do pífio índice de leitura no Brasil. Entretanto, o
problema não tem apenas origem social ou referente ao preço dos livros, pois
também nas classes média e alta lê-se pouco. O motivo, definitivamente, também
não é a concentração do foco dos jovens na internet e redes sociais. Em
numerosas nações, inclusive na Argentina, as pessoas continuam lendo bastante.
Falta
ao nosso país uma política consistente, pois o Plano Nacional do Livro e
Leitura (PNLL), instituído por decreto presidencial em 2011, jamais decolou em
seus quatro eixos (Democratização do Acesso; Fomento da Leitura e Formação de
Mediadores; Valorização Institucional da Leitura e Incremento de seu Valor
Simbólico; e Desenvolvimento da Economia do Livro). Assim, é preponderante
passar da inércia à ação. É preciso que, nos próximos anos, tenhamos motivos
concretos para comemorar o Dia Nacional do Livro!
Levi Ceregato - presidente da
Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicado
das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF).
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