A inovação é um
conceito que não foi bem assimilado pela sociedade brasileira ao longo das
últimas décadas. Criaram-se algumas ilhas de excelência tecnológica, mas falta
um sistema articulado de inovação no país. Não há um processo integrado, capaz
de impor maior produtividade aos recursos aplicados em pesquisas. Faltam
ligações entre os atores do processo. Ou seja, predomina uma visão linear do
processo em detrimento de uma visão sistêmica.
O efeito da falta de
integração entre os atores do sistema de inovação se reflete na péssima
colocação brasileira no relatório Global
Innovation Index, que classifica 128 países em 2016 com base na comparação
entre eles de itens definidos como insumos para a inovação e os seus produtos.
São listados nações de alta, média e baixa renda. No caso brasileiro o adequado
é sua comparação com economias emergentes e um caso interessante é a China. No
geral, os chineses ficaram na 25ª posição e o Brasil no 69º lugar.
No item instituições
o Brasil fica à frente da China, que tem má avaliação por conta de seus
entraves políticos e regulatórios. O maior problema brasileiro nesse quesito
refere-se ao burocrático ambiente de negócios.
Em relação ao quesito
capital humano e pesquisa a situação brasileira em relação à China é muito
desfavorável, com destaque negativo para a péssima posição do país nos
componentes educação e ensino superior, ainda que nesse último elemento a
situação chinesa também não é favorável.
Em infraestrutura em
geral o Brasil fica muito atrás da China. Os chineses mostram situação pior que
a brasileira no item tecnologia da informação.
No tocante a mercado
a situação brasileira é muito ruim em relação ao crédito. Já na China o
problema nesse quesito está relacionado à competição.
No elemento
relacionado aos negócios o Brasil fica atrás na qualificação dos trabalhadores
e na absorção de conhecimento. A pior situação chinesa está nas ligações de
informações entre as universidades e o setor produtivo.
Em termos do
resultado do processo de inovação a situação brasileira é vexatória. O país tem
péssima avaliação em termos de difusão, impacto e criação de conhecimento. Os
chineses se destacam em relação a esses elementos, ficando entre os primeiros
no ranking.
Em termos de produção
criativa a situação brasileira é melhor que a chinesa por conta da péssima
posição daquele país em termos de criatividade on line, uma vez que na China há severas restrições de acesso às
redes sociais.
Em todos os itens que a inovação contempla o
Brasil mostra severas deficiências. O exemplo comparativo com a China revela
que o país tem um longo caminho a percorrer. Mudar esse quadro vai além de
medidas pontuais. A saída é integrar governo, empresas e universidades.
Inovar deve ser
pensado em um cenário marcado pela interação entre capital, conhecimento e
empreendedorismo. Esses elementos devem atuar em um ambiente que seja capaz de
captar suas ações e integrá-las para que haja eficácia em termos da produção de
inovação, fator cujo peso é preponderante para o desenvolvimento econômico
sustentado.
Marcos Cintra é doutor
em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e
vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. É presidente da Finep (Financiadora
de Estudos e Projetos).
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