Novas diretrizes
da Academia Americana de Pediatria dizem que os pais não só precisam prestar
atenção na quantidade de tempo que as crianças dispendem fazendo uso dos
suportes digitais, mas também como, quando e onde os usam
Não
é tão ruim entregar ao seu filho o iPad de vez em quando... Nem é tão
condenável usar o celular para jogar juntos ou fazer uma chamada via Skype para
a vovó... Tudo isso está ok para ajudar a acalmar o bebê ou tentar manter a paz
em casa? Não muito...
Novas
diretrizes anunciadas pela Academia Americana de Pediatria (AAP), no dia 21 de
outubro, dizem que os pais não só precisam prestar atenção na quantidade de
tempo que as crianças usam os suportes digitais, mas também como, quando e onde
fazem uso desses meios.
“Para crianças de 2 a 5 anos, as mídias
digitais devem ser limitadas a uma hora por dia, diz a declaração, e isso deve
envolver programação de alta qualidade ou algo que os pais e as crianças possam
ver ou fazer em conjunto. Com a exceção de videoconferências, os meios digitais
também devem ser evitados por crianças com menos de 18 meses de idade”, afirma
o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
As
novas diretrizes da entidade americana destacam que as mídias digitais
tornaram-se parte inevitável da infância para muitos bebês, crianças e
pré-escolares, mas as pesquisas sobre como isso afeta o desenvolvimento
infantil ainda são limitadas. A AAP também publicou uma declaração separada no
mesmo dia para as crianças mais velhas: de 6 anos até a adolescência.
Segunda
a entidade americana, para crianças com mais de três anos, a pesquisa é sólida.
Programas de alta qualidade, como o americano Sesame Street, podem
ensinar às crianças novas ideias. “No entanto, com menos de três anos, os
cérebros ainda imaturos das crianças têm dificuldade para transferir o que vêm
em uma tela para o conhecimento da vida real. Nós ainda não sabemos se a
interatividade ajuda ou atrapalha nesse processo”, observa o médico.
“O
que sabemos é que a primeira infância (especialmente entre 2 e 3 anos) é um
período de rápido desenvolvimento cerebral, quando as crianças precisam de
tempo para brincar, dormir, aprender a lidar com as emoções e construir
relacionamentos. As pesquisas sugerem que o uso excessivo de mídia digitais
pode ser um empecilho no caminho destas importantes atividades. As diretrizes
da entidade americana destacam formas como as famílias e os pediatras podem
ajudar a gerenciar essa relação de maneira equilibrada e saudável”, relata o
pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados
Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Por limites no tempo de tela
O
uso dos meios digitais, por muito tempo, já foi relacionado à má qualidade do
sono e ao desenvolvimento infantil e saúde física deficientes. O seu uso de
forma intensa na pré-escola está associado a pequenos, mas significativos,
aumentos no índice de massa corporal.
As
diretrizes recomendam a proibição das mídias digitais uma hora antes de dormir,
quando os aparelhos devem ser desligados e mantidos fora dos quartos das
crianças. As refeições devem ser feitas em ambientes livres de telas.
“Embora
existam situações específicas onde o uso da mídia digital seja uma ferramenta
calmante e útil, como em aviões ou durante procedimentos médicos, os pais devem
evitar esses meios de comunicação como a única maneira de acalmar as crianças,
segundo observam os autores das diretrizes. O uso de dispositivos como
estratégia calmante comum pode limitar a capacidade das crianças de regularem
suas próprias emoções”, alerta Chencinski.
Temos
que ser realistas sobre a onipresença do uso da mídia digital. Por esta razão,
é ainda mais importante que os pais ajudem os filhos a compreender as formas
saudáveis de usá-las,
desde as primeiras idades.
“Usar
o skype para falar com os avós, assistir vídeos de ciência juntos, colocar uma
música e dançar juntos, buscar novas receitas ou ideias de brincadeiras, tirar
fotos e fazer vídeos para mostrar uns aos outros... Estas são apenas algumas
maneiras de as mídias serem usadas como uma ferramenta para apoiar a conexão da
família. É crucial que os adultos interajam com as crianças durante o uso, para
ajudá-las a aplicar o que estão vendo na tela no mundo real. A pesquisa mostra
que para os mais jovens - com idades entre 18-36 meses - isso é essencial,
destacam os pediatras americanos”, conta o pediatra.
Os
autores das novas diretrizes reconhecem que os aplicativos bem bolados, como Sesame Street, podem
ajudar a melhorar a alfabetização e os resultados sociais para crianças de 3 a
5 anos. Mas muitos aplicativos que os pais encontram facilmente rotulados na
categoria "educacional" não são baseados em evidências educacionais e
não contribuem em nada para o desenvolvimento infantil.
Fazendo a lição de casa
Os
pediatras americanos também recomendam que os pais devem limitar o próprio
tempo de tela também. O uso intenso e pesado dos dispositivos móveis pelos pais
está associado a menos interação verbal e não-verbal entre pais e filhos e pode
ser causa de mais conflitos entre pais e filhos.
Os
pediatras também são incentivados a ajudar os pais a serem "mentores de
mídia", ou seja, modelos e guias sobre como escolher um bom conteúdo
digital. Os médicos têm a oportunidade de educar as famílias sobre o
desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos e a importância da interação
familiar para o desenvolvimento da linguagem e das habilidades emocionais e
sociais.
“Os
pediatras têm a oportunidade de iniciar conversas com os pais sobre o uso das
mídias sociais pela da família. Nós podemos ajudar os pais a desenvolver planos
de uso de mídia para suas casas, estabelecer limites e incentivá-los a usar os
dispositivos com os seus filhos de uma maneira que promova a aprendizagem e a
interação”, defende Moises Chencinski.
Pontos centrais das novas diretrizes
Aqui
está uma listagem das novas orientações da AAP para os pais de crianças de 0-5
anos:
·
Evite
o uso das mídias digitais (exceto conversas com vídeo) para crianças com idade
inferior a 24 meses;
·
Se
a mídia digital é introduzida às crianças entre 18 e 24 meses, escolha uma
programação de alta qualidade e utilize os meios de comunicação com seu filho.
Evite que a criança faça o uso dessas mídias sozinha;
·
Não
se sinta pressionado a introduzir a tecnologia mais cedo. Interfaces são tão
intuitivas que as crianças vão entendê-las rapidamente quando começarem a
usá-las;
·
Para
crianças de 2 a 5 anos, limitar o uso da tela para uma hora por dia com
programação de alta qualidade. Use sempre os dispositivos com o seu filho e o
ajude-o a entender o que ele está vendo;
·
Evite
programas e aplicativos em ritmo acelerado com muito conteúdo, distração ou
violência;
·
Desligue
TVs e outros dispositivos quando não estiverem em uso;
·
Evite
o uso de meios de comunicação digitais como a única maneira de acalmar seu
filho. Isso pode levar a problemas com fixação de limites e capacidade de
regular as emoções;
·
Use
aplicativos de teste, antes que o seu filho os use e sempre jogue junto com
ele;
·
Mantenha
quartos e locais de refeições livres de telas. Os pais podem definir a opção de
"não perturbe" em seus telefones celulares, durante o tempo em que
permanecem nesses locais;
·
Defina
regras sobre o tempo de tela: até uma hora antes de dormir;
·
Dúvidas?
Consulte o plano
de uso de mídia da família da Academia Americana de Pediatria;
·
Precisa
de mais orientações? Pergunte ao seu pediatra.
Moises
Chencinski
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