A médica endocrinologista pediátrica Dra. Gabriela Werneck fala sobre as oportunidades e vulnerabilidades do cuidado com a saúde óssea durante a infância
É estimado que ao
longo da gravidez o feto obtenha entre 50 a 90 gramas de conteúdo mineral ósseo
(CMO). Dentre os fatores que interferem no processo de mineralização óssea
durante a gestação, destacam-se a nutrição materna, níveis de vitamina D,
metabolismo ósseo e a idade gestacional.
“Após o
nascimento, as crianças apresentam um aumento constante na massa óssea ao longo
de toda a infância, chegando a aproximadamente 2.400g de massa óssea em
mulheres adultas jovens e 3.300g em homens adultos jovens. Durante a
adolescência, ocorre o acúmulo de metade dessa massa óssea. Vários fatores,
como exercícios físicos, consumo de cálcio, níveis de vitamina D, hormônio do
crescimento e hormônios sexuais influenciam na aquisição de massa óssea e devem
ser monitorados durante a infância e adolescência. Portanto, a infância é uma
fase de oportunidades, mas também de vulnerabilidades”, explica a
endocrinologista pediátrica Dra. Gabriela Werneck, membro da Associação Brasileira de Avaliação
Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO.
De acordo com a
profissional, a massa óssea é adquirida de maneira acentuada durante os dois
primeiros anos de idade, e aumenta de maneira gradativa, até atingir o pico de
massa óssea no início da fase adulta. Entretanto, ao longo da vida, a perda
óssea é maior que a formação. Nesse sentido, quanto maior o pico de massa óssea
atingido pelo indivíduo e quanto menor a perda óssea ao longo dos anos, menor
será o risco de fragilidade óssea na idade adulta.
Em relação ao pico
de aquisição de massa óssea, a Dra. Gabriela salienta que ele ocorre de maneira
quase concomitante com pico de velocidade de crescimento. A puberdade é uma
fase importante para aquisição de massa óssea, tendo em vista que entre 50% a
80% da massa óssea das pessoas é adquirida neste período. “É nessa fase que
ocorrem a maior parte das fraturas em crianças e adolescentes, devido a uma
maior velocidade de crescimento que antecede o pico de massa óssea, o qual
acontece mais tardiamente, no início da vida adulta”, alerta.
Identificação
precoce de riscos ósseos e as estratégias para promover a saúde óssea na vida
adulta
Segundo a médica,
a avaliação da densidade mineral óssea por meio da densitometria óssea é
essencial em crianças com risco de osteoporose. Para fazer essa avaliação
analisa-se o corpo todo e a coluna lombar. Dentre as indicações para a
realização deste exame estão: a ocorrência de duas ou mais fraturas de ossos
longos de baixo impacto em crianças menores de 10 anos e três ou mais fraturas
em crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. Também pode ser realizado em
pacientes que possuem condições que aumentam o risco secundário de osteoporose,
como distrofias musculares, doenças reumáticas, fibrose cística, entre outras
comorbidades.
A aquisição de
massa óssea durante a juventude está relacionada a fatores ambientais,
incluindo a prática de atividades físicas. A modelação óssea é sensível à
estimulação mecânica. Nesse sentido, recomenda-se que as crianças pratiquem
atividades físicas diariamente, com duração de pelo menos 180 minutos, que
podem ser fracionadas ao longo do dia. A partir dos 6 anos, recomenda-se pelo
menos 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a intensa.
Hereditariedade
- A genética desempenha um papel
fundamental, correspondendo entre 60% a 80% do pico de massa óssea. Ao realizar
um exame clínico, é essencial buscar um histórico de fragilidades ósseas na
família e identificar situações de risco para baixa massa óssea. Além disso,
devido à importância da mineralização óssea do feto no terceiro trimestre de
gestação, é crucial assegurar que a gestante mantenha níveis adequados de
vitamina D e consumo de cálcio.
Assegurar cuidados
adequados durante a gestação, incluindo a avaliação do histórico familiar, a
manutenção dos níveis adequados de vitamina D e a monitorização do metabolismo
ósseo, são medidas cruciais para promover uma boa saúde óssea e prevenir
complicações futuras.
Recomendações
clínicas para a ingestão de nutrientes importantes para a saúde óssea na infância
O cálcio é um
nutriente essencial para o desenvolvimento adequado dos ossos e é obtido
principalmente por meio da alimentação, com destaque para produtos lácteos,
além de outras fontes vegetais.
Segundo artigo
publicado pelo “Institute of Medicine”, recomenda-se a ingestão diária de 700mg
para crianças de 1 a 3 anos, 1.000mg para crianças de 4 a 8 anos, 1.300mg para
crianças e adolescentes de 9 a 13 anos, 1.300mg para adolescentes de 14 a 18
anos.
Caso a quantidade
adequada de cálcio não seja alcançada por meio da dieta, a suplementação se faz
necessária. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Endocrine
Society recomendam a suplementação de vitamina D com uma dose de 400 UI durante
o primeiro ano de vida. Para o restante da infância, caso haja necessidade de
suplementar a vitamina D, as necessidades diárias variam entre 600 e 1.000 UI,
administradas na forma de colecalciferol ou ergocalciferol, para pessoas de 1 a
18 anos.
É importante
salientar que valores acima de 20 ng/mL são considerados desejáveis para a
população saudável, indicando níveis adequados de vitamina D no organismo.
“Garantir uma
ingestão adequada de cálcio e vitamina D desde a infância é fundamental para
promover a saúde óssea ao longo da vida. Portanto, é essencial que os pais e
profissionais de saúde estejam cientes das recomendações e orientações
fornecidas pelas sociedades médicas, a fim de garantir o crescimento saudável e
o desenvolvimento ósseo adequado das crianças e adolescentes”, finaliza a
médica
ABRASSO - Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo,
https://www.instagram.com/abrassonacional/
https://www.facebook.com/abrassonacional/
https://www.youtube.com/@ABRASSO
Podcast (Spotify): https://bit.ly/3ZGGbQc
Nenhum comentário:
Postar um comentário