O financiamento e crédito privados são fundamentais para que o Brasil possa exercer seu papel de protagonismo no fornecimento de alimentos e bioenergia, em um momento em que uma das principais preocupações mundiais é o retorno da insegurança alimentar e energética. Essa foi uma das avaliações trazidas pelos especialistas participantes do evento “Agronegócio: Financiamento, Mercado de Capitais e o Papel do Fiagro”, realizado pela Demarest Advogados, em parceria com a Abag e a XP Investimentos, nesta terça-feira, dia 30 de maio.
“Precisamos desses mecanismos porque vemos o
sofrimento dos produtos rurais com os recursos limitados do Plano Safra. O agro
precisa produzir, sem ficar amarrado em questões que podem ser resolvidas,
unindo as iniciativas privadas às públicas. A evolução do crédito privado tem
nos ajudado e esse é o caminho para sustentar nosso crescimento”, afirmou Luiz
Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Para Carvalho, além de ampliar os mecanismos de
crédito privado, há outros desafios que precisam ser superados no setor, como
seguro e armazenamento. “Em um período em que os preços das commodities estão
em queda, os produtores não conseguem segurar seus produtos por falta de uma
infraestrutura de armazenagem”, destacou.
Nesse sentido, o deputado federal Pedro Lupion,
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), comentou que seria
importante que no Plano Safra houvesse uma modalidade específica voltada para a
armazenagem, a fim de que os produtores, cooperativas e cerealistas pudessem
realizar os investimentos necessários nessa área. A seu ver, o fato de o
produtor vender seus grãos em um preço menor afeta sua rentabilidade. Ele
calculou ainda que são necessários cerca de R$ 25 bilhões de equalização de
juros para o Plano Safra, mas que esse valor deve ser menor.
Em seu discurso, Carvalho recordou que o agro
brasileiro, entre as décadas de 1960 e 1990, dobrou sua produtividade e ampliou
em sete vezes a aplicação de fertilizante, enquanto a frota de tratores
setuplicou entre 1970 e 2017. “O desenvolvimento da ciência agrícola para o
mundo tropical e de novas tecnologias justificam o salto do Brasil no
agronegócio nas últimas cinco décadas, passando de importador de alimentos para
o maior exportador líquido de alimentos no mundo”, explicou.
Essa evolução do agro trouxe benefícios ao país e,
também, para o comércio global e para as sociedades locais, mas também acentuou
a competitividade dos concorrentes internacionais. “Um exemplo é o Green Deal,
uma decisão unilateral, fora da lógica da Organização Mundial do Comércio
(OMC), com medidas nitidamente protecionistas e precaucionistas. A novidade é a
mistura da agenda ambiental nesse processo”, ponderou Carvalho, que enfatizou
que o Brasil não pode realizar uma agricultura extensiva como é feita na
Europa, pois o mundo tropical é diferente do temperado. “A agricultura
intensiva é a melhor para nossa região, pois melhora a biodinâmica do solo,
fazendo a diferença de nosso agro perante o mundo”.
Na avaliação de Lupion, o país enfrenta uma guerras
de narrativa, com os principais concorrentes criando narrativas com o agro
brasileiro. Entretanto, ele pondera que esses concorrentes também são
importadores dos produtos brasileiros. “Essa guerra não é positiva, mas vamos
superá-la, buscando soluções para isso”, pontuou.
Segundo Thiago Giantomassi, Sócio, Mercado de
Capitais, Agronegócios da Demarest, o evento teve o objetivo de mostrar a
relevância do agro e o papel do mercado de capitais para financiar o setor. Ele
lembrou ainda que as primeiras operações de securitização voltadas ao
agronegócio foram realizadas há pouco mais de uma década, o que significa que
há ainda muito espaço para crescer.
A programação do encontro contou com as palestras
de especialistas como Bruno Gomes, superintendente de securitização, investimentos
estruturados e agronegócio da CVM; Bruno Gagliolli, sócio e head de
fundos listados da XP investimentos; Bruno Santana, sócio da Kijani
Investimentos, Letícia Possari da Silva, diretora de crédito e ferramentas de
financiamento a clientes para América Latina na divisão da Crop Science da Bayer;
Luís Felipe Trindade, diretor da Czarnikow, e Pedro Freitas, sócio da área de
agronegócio da XP Investimentos.
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