Bagagens
individuais, bullying e ambientes tóxicos podem contribuir diretamente para o
desenvolvimento de conflitos emocionais e psicológicos em jovens, afirma
especialista
A infância e adolescência são períodos
importantíssimos para o desenvolvimento físico e psicológico dos indivíduos.
Enquanto na infância as experiências são mais lúdicas e exploratórias, na
adolescência ocorrem mudanças significativas na interação social e nas emoções
e, com isso, as vivências e sentimentos são mais intensos.
"Durante a adolescência, as mudanças corporais são mais evidentes e há uma
necessidade maior de interação social e de pertencimento a grupos. É um período
em que os indivíduos estão procurando sua identidade. Logo, alguns sentimentos
podem tomar grandes proporções", afirma o Dr. Rodrigo Lancelote Alberto,
psiquiatra e diretor técnico no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM)
Franco da Rocha, gerenciado pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas
"Dr. João Amorim" em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde de
São Paulo.
Nesta fase da vida, diversos fatores podem afetar a saúde mental dos jovens e
desencadear diferentes reações. De acordo com a Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS), metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos
de idade e a maioria dos casos não é detectada ou tratada. Por isso, é
importante ficar atento aos sinais.
Com a pandemia, muitas doenças psicológicas tomaram grandes proporções entre
adolescentes. Não só isso, as bagagens individuais de cada um também acabaram
por potencializar ainda mais alguns sentimentos.
“A exposição a situações de risco, violência e abusos nos diversos ambientes,
como em casa ou na escola, deixam os adolescentes em situação de extrema
vulnerabilidade, pois são locais que, em tese, deveriam prover segurança
emocional. Um histórico com esses tipos de vivências pode, muitas vezes, trazer
consequências negativas, como possíveis comportamentos agressivos por parte do
jovem”, explica o médico.
Não só isso, é também nesta fase da vida que algumas práticas influenciam na
forma como o jovem se vê na sociedade. O bullying, que tem sido um assunto
bastante presente quando se trata deste público, é uma ação que, somada a
outros fatores, pode afetar diretamente a saúde psicológica dos que ainda se
encontram em fase de amadurecimento.
“Essa vivência também possui impactos e repercussões emocionais com consequências
nocivas para a saúde mental, o que pode desencadear conflitos, dificuldades e
transtornos mentais que afetarão o desenvolvimento pessoal. Isso inclui ações e
reações violentas, excepcionais e extremas por parte daqueles que são vítimas
de bullying”, complementa o psiquiatra.
Junto a isso, as redes sociais têm exercido um papel importante na saúde mental
dos jovens. Embora ofereçam muitos benefícios, podem também ser um estímulo
negativo para aqueles que já sofrem com questões emocionais e psicológicas e
não contam com nenhum tipo de ajuda.
"A partir das redes sociais, os jovens podem ter acesso a conteúdos
impróprios e violentos, além de grupos que, muitas vezes, não contribuem
positivamente para o seu desenvolvimento. Quando utilizadas de forma inadequada,
essas mídias podem afetar o bem-estar psicológico de diferentes formas",
ressalta o especialista.
Pesquisa realizada em 2022 pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef) e pela organização da sociedade civil Viração
Educomunicação, com mais de 7,7 mil jovens e adolescentes de diferentes partes
do Brasil, indica que metade dos entrevistados já sentiu necessidade de pedir
ajuda sobre assuntos relacionados à saúde mental. Ainda de acordo com o
levantamento, 50% dos participantes não conheciam os serviços ou profissionais
que deveriam buscar para apoiá-los com seus problemas.
Por isso, prover condições para entender e dar suporte aos conflitos internos
destes jovens é de extrema importância e uma forma de os acolher, evitando, em
alguns casos, consequências mais drásticas.
“É importante que todos que estão em torno do adolescente estejam atentos e
tenham um olhar cuidadoso a mudanças de comportamentos, que incluem isolamento
e atos agressivos e violentos, que, muitas vezes, são inexplicáveis à primeira
vista”, afirma Dr. Rodrigo.
Ainda de acordo com o psiquiatra, é ideal que os ambientes familiares, sociais
e escolares permitam que os adolescentes se expressem livremente e exponham
suas dificuldades e conflitos, sem julgamento. Ademais, é importante que haja
um retorno que os ajude a desenvolver a resiliência e o autoconhecimento
necessários para superar as dificuldades enfrentadas.
Entenda os sinais e mostre-se disponível a apoiá-lo:
Normalmente, adolescentes que enfrentam algum tipo de dificuldade psicológica
e/ou emocional apresentam sintomas que podem ser observados em seu dia a dia.
Se você conhece ou convive com algum jovem, confira abaixo algumas dicas para
reconhecer os sinais e poder ajudá-lo:
- Observe as mudanças de comportamento: caso o adolescente comece a se afastar
das pessoas ao seu redor, se mostrar mais irritado ou desinteressado em
atividades que antes desfrutava, algo pode não estar bem.
- Preste atenção a sintomas físicos: sinais como dificuldade para dormir e
alterações no apetite podem servir de alerta para problemas emocionais e
precisam ser levados a sério.
- Converse com o adolescente: se tiver a oportunidade, pergunte como ele está
se sentindo, como tem sido sua rotina e se está enfrentando alguma dificuldade.
Esteja presente e interessado, pois este é um momento valioso em que o
adolescente pode encontrar espaço para expressar seus sentimentos e
pensamentos.
- Esteja presente: como já dito, é importante estar disponível para ouvir o
adolescente, mas sem julgamentos ou pressão para que fale. Nesta troca, é
importante que ele se sinta acolhido e compreendido.
- Busque ajuda especializada: caso perceba que o adolescente está passando por
problemas emocionais mais sérios, ajude-o a encontrar um profissional, como
psicólogo ou psiquiatra. Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima
de sua casa e agende uma consulta de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
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