Especialista chama atenção para risco de efeitos negativos do uso
indiscriminado de medicamentos e para o papel dos profissionais de saúde na
contenção do problema
Recentemente, uma jovem publicitária acabou internada em uma UTI (unidade de terapia intensiva) com risco de insuficiência hepática após fazer o uso das cada vez mais populares canetas emagrecedoras sem orientação médica. Atualmente, seja pelo crescimento do uso dessa medicação na esteira de relatos de celebridades ou de alguma outra substância já comum no dia a dia do brasileiro, fica a impressão de que sempre ingerindo pílulas para cada uma das situações do dia sem qualquer orientação médica.
No fim,
agimos como se nosso organismo já não fosse capaz de realizar nenhum processo
sem a ajuda de algum tipo de medicação. De fato, dados preocupantes do Conselho
Federal de Farmácia (CFF) apontam que a automedicação é prática comum
para 70% dos brasileiros. Diante disso, o endocrinologista
Guilherme Borges, questiona a segurança desse hábito. “É
importante reforçar que não podemos passar do limite. Hoje parece que
precisamos de uma pílula para acordar, uma para nos mantermos bem durante o dia
e uma para dormir. Se continuarmos assim logo mais teremos uma pílula que
substitui a alimentação, um polivitamínico para usar no lugar da comida. E onde
estabelecemos a barreira? Até que ponto é saudável ou benéfico fazer uso de
qualquer medicação?”, reflete.
Riscos do uso indiscriminado
Como o
especialista explica, vários pontos devem ser levados em consideração ao
iniciar o uso de qualquer medicação, mesmo quando há a prescrição médica.
Dentre eles, a dependência está entre os mais
importantes e também mais ignorados por quem se automedica. Ele ainda reforça
que isso vale mesmo para substâncias que não têm venda controlada.
“Do ponto de vista médico, precisamos nos preocupar com a adição, ou seja, algumas dessas medicações geram dependência e nós nem sempre pensamos nisso quando vamos nos automedicar. O nome é 'drogaria' porque de fato são substâncias com finalidade terapêutica e que não devem ser utilizadas sem uma recomendação formal apenas por não precisarem de receita médica para serem adquiridas”, reforça.
Além
disso, o endocrinologista Guilherme Borges frisa o risco presente nos efeitos
colaterais. Como ele esclarece, esse impacto nem sempre é
percebido no início e pode ter consequências graves. “Se pensarmos, por
exemplo, no anti-inflamatório, que é uma das medicações mais utilizadas em
larga escala sem prescrição médica, podemos ter prejuízos para o estômago ou
para os rins. O pior é que isso de imediato pode não ficar muito claro para o
paciente, mas a longo prazo vai repercutir negativamente na saúde dele”,
pontua.
Além dos
anti-inflamatórios, os analgésicos - como dipirona e paracetamol -, antiácidos,
relaxantes musculares e antibióticos estão entre os campeões de uso sem
orientação médica no Brasil. Porém, o endocrinologista salienta que mais
recentemente tem crescido o uso indiscriminado de hormônios
com a promessa de resultados milagrosos como a perda de peso, ganho de massa
muscular, melhora do sono e mais.
Desinformação e o papel dos profissionais de saúde
A pandemia e o isolamento decorrente dela intensificaram o uso de medicamentos por conta própria e isso ajudou a esclarecer que as informações presentes na internet nem sempre se baseiam em evidências científicas. “Percebemos que circula muita informação sem real embasamento ou mesmo benefício para o indivíduo. O conteúdo que vai para a internet raramente é auditado e sempre que é publicado, sendo verdade ou mentira, vai encontrar alguém que se identifica com o que é colocado ali”, alerta Guilherme.
Sendo assim, o especialista ressalta o papel do profissional de
saúde na conscientização sobre o uso racional de medicamentos. “Daí a
importância de profissionais de saúde sérios, amparados por evidências
científicas para fazer qualquer prescrição e até mesmo de pacientes
conscientes, abertos a ouvir o profissional, mesmo que a orientação dele seja
um 'não'. Isso porque, às vezes, o paciente quer fazer uso de determinado
medicamento para o qual ele não tem indicação, algo que talvez até seja mais
prejudicial do que benéfico para ele”, completa.
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