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terça-feira, 23 de maio de 2023

“Precisamos de uma pílula para acordar, uma para nos mantermos bem durante o dia e outra para dormir. Onde estabelecemos a barreira?”, questiona endocrinologista

Especialista chama atenção para risco de efeitos negativos do uso indiscriminado de medicamentos e para o papel dos profissionais de saúde na contenção do problema

 

Recentemente, uma jovem publicitária acabou internada em uma UTI (unidade de terapia intensiva) com risco de insuficiência hepática após fazer o uso das cada vez mais populares canetas emagrecedoras sem orientação médica. Atualmente, seja pelo crescimento do uso dessa medicação na esteira de relatos de celebridades ou de alguma outra substância já comum no dia a dia do brasileiro, fica a impressão de que sempre ingerindo pílulas para cada uma das situações do dia sem qualquer orientação médica. 

No fim, agimos como se nosso organismo já não fosse capaz de realizar nenhum processo sem a ajuda de algum tipo de medicação. De fato, dados preocupantes do Conselho Federal de Farmácia (CFF) apontam que a automedicação é prática comum para 70% dos brasileiros. Diante disso, o endocrinologista Guilherme Borges, questiona a segurança desse hábito. “É importante reforçar que não podemos passar do limite. Hoje parece que precisamos de uma pílula para acordar, uma para nos mantermos bem durante o dia e uma para dormir. Se continuarmos assim logo mais teremos uma pílula que substitui a alimentação, um polivitamínico para usar no lugar da comida. E onde estabelecemos a barreira? Até que ponto é saudável ou benéfico fazer uso de qualquer medicação?”, reflete.

 

Riscos do uso indiscriminado 

Como o especialista explica, vários pontos devem ser levados em consideração ao iniciar o uso de qualquer medicação, mesmo quando há a prescrição médica. Dentre eles, a dependência está entre os mais importantes e também mais ignorados por quem se automedica. Ele ainda reforça que isso vale mesmo para substâncias que não têm venda controlada.

“Do ponto de vista médico, precisamos nos preocupar com a adição, ou seja, algumas dessas medicações geram dependência e nós nem sempre pensamos nisso quando vamos nos automedicar. O nome é 'drogaria' porque de fato são substâncias com finalidade terapêutica e que não devem ser utilizadas sem uma recomendação formal apenas por não precisarem de receita médica para serem adquiridas”, reforça. 

Além disso, o endocrinologista Guilherme Borges frisa o risco presente nos efeitos colaterais. Como ele esclarece, esse impacto nem sempre é percebido no início e pode ter consequências graves. “Se pensarmos, por exemplo, no anti-inflamatório, que é uma das medicações mais utilizadas em larga escala sem prescrição médica, podemos ter prejuízos para o estômago ou para os rins. O pior é que isso de imediato pode não ficar muito claro para o paciente, mas a longo prazo vai repercutir negativamente na saúde dele”, pontua.

Além dos anti-inflamatórios, os analgésicos - como dipirona e paracetamol -, antiácidos, relaxantes musculares e antibióticos estão entre os campeões de uso sem orientação médica no Brasil. Porém, o endocrinologista salienta que mais recentemente tem crescido o uso indiscriminado de hormônios com a promessa de resultados milagrosos como a perda de peso, ganho de massa muscular, melhora do sono e mais.

 

Desinformação e o papel dos profissionais de saúde 

A pandemia e o isolamento decorrente dela intensificaram o uso de medicamentos por conta própria e isso ajudou a esclarecer que as informações presentes na internet nem sempre se baseiam em evidências científicas. “Percebemos que circula muita informação sem real embasamento ou mesmo benefício para o indivíduo. O conteúdo que vai para a internet raramente é auditado e sempre que é publicado, sendo verdade ou mentira, vai encontrar alguém que se identifica com o que é colocado ali”, alerta Guilherme. 

Sendo assim, o especialista ressalta o papel do profissional de saúde na conscientização sobre o uso racional de medicamentos. “Daí a importância de profissionais de saúde sérios, amparados por evidências científicas para fazer qualquer prescrição e até mesmo de pacientes conscientes, abertos a ouvir o profissional, mesmo que a orientação dele seja um 'não'. Isso porque, às vezes, o paciente quer fazer uso de determinado medicamento para o qual ele não tem indicação, algo que talvez até seja mais prejudicial do que benéfico para ele”, completa.



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