Fabricantes de automóveis e
fornecedores do setor estão – e continuarão- enfrentando grandes desafios
conforme a transição para veículos elétricos (EVs) ganha velocidade no mundo.
Um deles será a necessidade de gerenciar a enorme complexidade em relação à
montagem e cadeia de fornecimento.
Fortemente impactada pela pandemia de
Covid-19, a produção global de veículos despencou 16% em 2020 em comparação com
2019, segundo a Organização Internacional de Construtores de
Automóveis (OICA). No ano seguinte, os gargalos da cadeia de suprimentos
impediram uma recuperação significativa no segmento.
Já os veículos elétricos dispararam
na contramão, segundo dados da International Energy Agency (IEA). Enquanto o
mercado geral de carros a combustão contraiu, as vendas de elétricos
contrariaram a tendência e mais do que dobraram para 6,6 milhões no ano
passado. Com isso, a participação dos carros eletrificados nas vendas globais
saltou de 4,1% para 8,57%.
Com muitos países restringindo e
eliminando gradualmente a produção de veículos com motor a combustão na próxima
década, a corrida em direção aos carros elétricos se acelerou. Os fabricantes e
suas cadeias de suprimentos devem enfrentar a complexidade de diversificar em
veículos elétricos ao lado de veículos com motor a combustão, para atender às
diversas estruturas regulatórias que regem a adoção de EVs em todo o mundo.
Mesmo com o forte crescimento, a
participação dos veículos elétricos ainda é pequena, como mostram os números.
No entanto, a sua produção tende a aumentar significativamente, juntamente com
outros motores eletrificados, impulsionada por incentivos de governos em
consonância com metas de mitigação de mudanças do clima e a expansão das
ofertas de produtos EV por fabricantes.
Para a indústria do setor
automobilístico, na prática, isso significa que a produção global de veículos
será caracterizada cada vez mais por uma mistura fragmentada de carros a
combustão com os veículos elétricos.
De acordo com o Flexing for the
Future, um Relatório de Previsão Global 2035 sobre Powertrain patrocinado pela
ABB Robótica e criado pela unidade de inteligência automotiva da Ultima Media,
apenas em 2031, a produção de veículos eletrificados – incluindo versões
híbridas – ultrapassará os motores a combustão pura globalmente.
O quadro será ainda mais complexo em
2035, quando embora a produção de veículos elétricos predomine, os motores a
combustão pura ainda representarão mais de 20% da mercado global. Além de um
mix de veículos plug-in e híbridos, haverá também a ascensão de novas
tecnologias, como veículos elétricos de célula de combustível de hidrogênio.
Não há dúvidas, portanto, que a transição
para veículos elétricos exigirá uma profunda transformação de processos e
ferramentas nas linhas de produção de fabricantes de automóveis e de
fornecedores, além da infraestrutura de logística.
Para manter a lucratividade e
qualidade, é preciso maior flexibilidade e colaboração em toda a cadeia. Nesse
contexto, automação, digitalização e conectividade ganham mais uma vez
protagonismo no setor – pioneiro na adoção da robótica.
O aumento da flexibilidade virá com
os avanços na adoção de robôs colaborativos, robôs móveis autônomos (AMRs) e
sistemas digitais, que permitem, por exemplo, montagens personalizadas e
mudanças rápidas de produção. Também será fundamental nesse sentido a mudança
para uma logística e manuseio de materiais nas fábricas mais autônomos. E tudo
isso pode ser melhorado por meio da conectividade local mais rápida, incluindo
o uso de redes 5G.
Outra transformação importante será a
transição para células modulares e individuais de produção capazes de suportar
uma maior variação de produtos e oferta em comparação com a montagem linear.
Isso dará aos fabricantes a possibilidade de modificar ou até mesmo substituir
células individuais sem a necessidade de interrupções de produção. Assim, é
possível iniciar processos em pequena escala e aumentar o ritmo de produção,
adicionando ou reimplantando células de acordo com as mudanças de demanda.
O uso de big data para planejamento preditivo ajudará os fabricantes a otimizar layouts de produção por meio de simulações de gêmeos digitais, ao garantir que eles possam antecipar e reagir às mudanças.
Diante do forte ritmo de expansão de vendas dos EVs, e
consequentemente da necessidade de respostas rápidas da indústria automotiva,
tornam-se fundamentais as parcerias entre fabricantes e empresas especializadas
em tecnologia para automação no desenvolvimento de soluções. É a colaboração
que ajudará a identificar melhor oportunidades de automação e digitalização de
processos para que o setor como um todo corra na mesma velocidade dos veículos
elétricos.
Rodrigo Bueno - diretor da área de Robótica da ABB Brasil
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