Condição autoimune provoca falhas no couro cabeludo e pode ser agravada por situações de estresse e ansiedade
Mais uma vez, a doença autoimune alopecia areata ganhou holofotes na TV. Durante a exibição da 94ª edição do Oscar, a mais importante premiação do cinema mundial, uma brincadeira de mau gosto feita pelo humorista e apresentador Chris Rock causou desconforto no ator Will Smith e em sua esposa, a atriz Jada Pinkett Smith.
Jada, de 50 anos, conhecida
por suas inúmeras mudanças de visuais, raspou os cabelos no ano passado e
publicou um vídeo em suas redes sociais explicando que sofria de alopecia
areata, que provoca falha e queda dos fios.
“Vocês sabem que eu tenho lidado com a alopecia e, do nada, apareceu esta falha
aqui. Olhem só. Ela veio do nada e vai ser mais difícil de esconder. Então,
achei melhor mostrar para todos, para não surgirem dúvidas”, comentou à época
em uma publicação.
De acordo com Flávia Rosalba, dermatologista do Hospital Dia Campo Limpo,
unidade sob gestão do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”,
o risco de alguém desenvolver a doença durante a vida é de cerca de 2%, sendo a
condição agravada por outras enfermidades, como depressão e ansiedade.
A seguir, a dermatologista esclarece as principais dúvidas sobre a alopecia
areata:
- Quais as principais causas para a ocorrência de alopecia areata?
A alopecia areata é uma doença autoimune que acomete os folículos pilosos
(estrutura composta por um fio de pelo ou cabelo e outros elementos como
glândula e músculo), levando à perda de pelos não cicatricial (quando o cabelo
cai, mas pode voltar a nascer, pois não há destruição do folículo piloso). Essa
ausência de pelos pode ser em placas, que é a forma mais comum, na qual notamos
áreas ovaladas sem pelos, podendo ser única ou múltipla.
Há também a alopecia areata total, com perda de todo ou quase todo o pelo do
couro cabeludo. E a forma alopecia areata universal, na qual a perda de pelos
ocorre em todo o corpo.
- Há alguma prevalência maior em homens ou mulheres?
O risco de desenvolver alopecia areata em toda a vida é de cerca de 2%,
igualmente entre os sexos masculino e feminino. A doença pode se manifestar em
qualquer idade, mas é mais comum em pessoas antes dos 40 anos.
- A perda de cabelo é o único sintoma?
A perda de cabelo é o principal sintoma, embora possa haver problemas também
nas unhas e/ou nos olhos. A evolução da alopecia areata é imprevisível, pois
algumas pessoas apresentam crescimento dos cabelos de forma espontânea mesmo
sem tratamento, enquanto outras não conseguem retomar o crescimento dos fios
(repilação), apesar do tratamento. Cerca de 50% dos doentes apresentam
repilação espontânea nos primeiros 6 meses, e 70% têm repilação no primeiro ano
da doença.
- Essa perda irá sempre se intensificar se não houver tratamento?
Em geral, quanto mais extenso o quadro, pior a resposta ao tratamento. Alguns
fatores estão relacionados a um pior prognóstico, sendo eles: início na
infância; duração do episódio maior que um ano; área extensa ou acometendo o
contorno da cabeça (ofiásica); acometimento ungual (nas unhas); associação com
atopia (lesões alérgicas na pele); associação com doenças autoimunes,
principalmente endócrinas; história familiar de alopecia areata; e associação
com doenças genéticas.
Atualmente, não há um tratamento definitivo para alopecia areata, assim como
não há evidências de que o tratamento mude a evolução da doença a longo prazo.
É comum o acontecimento de alguns episódios ao longo da vida.
- Como é feito o tratamento?
As opções terapêuticas devem ser avaliadas em conjunto entre médico e paciente.
Há possibilidade de tratamentos com medicamentos de uso local, como soluções ou
cremes a serem aplicados, injeção de medicamentos no couro cabeludo e
medicamentos de uso oral, incluindo os imunomoduladores que atuam diretamente
na inflamação.
- Qual a relação entre estresse, ansiedade e alopecia? Quadros de
estresse pioram a doença?
Estudos mostram que mais da metade dos pacientes com alopecia areata apresenta
algum diagnóstico psiquiátrico, sendo depressão e ansiedade os mais frequentes,
mas não somente. É evidente o impacto psicológico que a perda de cabelos traz,
atrapalhando a autoimagem, o relacionamento interpessoal e o relacionamento no
trabalho/escola.
O mecanismo pelo qual transtornos emocionais pioram doenças ainda não está
esclarecido, mas uma possível explicação seria a interferência de
neuromediadores no sistema imune.
- O tratamento deve sempre envolver também um psicólogo?
Sim, o suporte emocional pode levar a melhores respostas ao tratamento da
alopecia areata.
CEJAM - Centro de
Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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