Cidades com altos níveis de poluentes, como Guarulhos e Osasco, apresentaram as maiores taxas de letalidade da infecção, segundo pesquisa da Unifesp
A exposição à poluição do ar ao longo dos anos compromete o sistema
respiratório, deixando-o mais vulnerável a diversas doenças. Como o vírus
causador da covid-19, o Sars-CoV-2, afeta principalmente esse sistema, estudos
ao redor do mundo vêm indicando relação positiva entre a exposição prolongada à
concentração de poluentes na atmosfera e a letalidade da doença.
Com essa premissa, uma pesquisa pioneira no Brasil, realizada pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), utilizou dados da pandemia e de monitoramento
da qualidade do ar de municípios do estado de São Paulo e concluiu que a
exposição a poluentes atmosféricos nos cinco anos anteriores à pandemia,
principalmente ao material particulado fino, aumentou a letalidade da covid-19.
O trabalho foi publicado no periódico Environmental
Monitoring and Assessment.
Para chegar a esse resultado, pesquisadoras do Laboratório de Economia, Saúde e
Poluição Ambiental do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e
Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema analisaram dados da qualidade do
ar, entre 2015 e 2019, de 64 estações de monitoramento localizadas em 36
municípios paulistas. A taxa de letalidade da covid-19 foi calculada
considerando casos e óbitos a partir dos dados oficiais do governo, e a taxa de
mortalidade foi calculada considerando a população brasileira de 2020.
As cidades com os elevados níveis de poluentes atmosféricos, como Guarulhos e
Osasco, situadas na região metropolitana de São Paulo, foram aquelas que
apresentaram a maior letalidade da covid-19 dentre as investigadas: taxas de
6,10% e 5,12%, respectivamente. Considerando somente o índice de Guarulhos, ele
foi mais que o dobro do registrado pelos municípios paulistas na média (2,9%).
"Esse estudo enriquece a discussão ao apresentar uma correlação
significativa entre a letalidade da covid-19 e a exposição prolongada a
poluentes atmosféricos, e também por ter considerado um país com uma das
maiores incidências da doença no mundo. Assim, ele reforça que medidas para
reduzir a concentração de poluentes atmosféricos são essenciais para a saúde
pública, aumentando a chance de sobrevivência em futuras epidemias de doenças
respiratórias", explica Luciana Leirião, primeira autora do artigo e
idealizadora do trabalho.
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