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quinta-feira, 11 de maio de 2017

Transtorno bipolar pode estar associado à dependência química e diagnóstico pode demorar



É muito comum as pessoas enxergarem a dependência química como uma doença isolada e que causa muitos danos e prejuízos tanto ao paciente quanto à família, mas o que muitas vezes as pessoas não sabem é que em uma grande parcela dos casos de dependência química na realidade se trata de um sintoma de uma doença muito mais complexa e muitas vezes sub-diagnosticada que é o transtorno bipolar do humor. 
"A apresentação clássica de transtorno bipolar com fases de euforia intercaladas com fases de depressão é rara e representa a menor parcela dos verdadeiros bipolares, apenas 1% dos casos.", diz o psiquiatra e pesquisador do Programa de Transtornos afetivos (GRUDA) do Hospital das Clínicas da USP Dr Diego Tavares. O médico ainda reitera:  "a maior parcela dos portadores de transtorno bipolar apresenta uma doença com uma apresentação tão grave quanto à eufórica, mas com uma apresentação que muitas vezes é confundida com outras doenças, porque justamente vêm com sintomas exuberantes de outros quadros e esta parcela chega a uma frequência de 6% em alguns estudos". As outras formas de transtorno bipolar podem cursar de várias maneiras mas muitas delas não cursam com depressão mas com períodos de aumento de energia e impulsividade com humor elevado (grandioso, prepotente, arrogante) mas não eufórico, de forma que o paciente apresenta comportamentos de aumento de impulsos e exageros que escondem o transtorno bipolar como: uso abusivo de drogas (álcool, cocaína, maconha, etc), sexo compulsivo, roubar compulsivo, uso abusivo de tecnologias eletrônicas como celulares e tabletes; e o jogar compulsivo. 
"A apresentação é a mesma, o aumento de energia e a fixação mental em algum assunto, que varia de paciente a paciente, mas no fundo representa a mesma maneira do cérebro se alterar, que é a aceleração mental e a obstinação e o aumento de atividade dirigida que é observável em todos os subtipos de transtorno bipolar, variando conforme o grau e o subtipo". O grande problema destas apresentações mais variadas da doença bipolar é que muitas vezes se observa apenas o comportamento sem se observar a forma de apresentação, de maneira que o tratamento pode ser profundamente modificado quando o diagnostico passa de uma dependência química pura, em que muitas vezes as abordagens de psicoterapia são o tratamento mais recomendado, para um diagnostico de uso de drogas secundário ao transtorno bipolar em que a estabilização farmacológica do quadro possui um impacto diferente no prognóstico. "Diante de qualquer quadro de transtorno por uso de substâncias é sempre recomendado uma avaliação do quadro psiquiátrico de maneira global buscando indícios de um transtorno do humor subjacente. Muitas vezes os usuários de drogas apresentam alterações de humor para agressividade e violência que são claramente associados a distúrbios do humor mas que são negligenciados na avaliação porque o uso de drogas toma a frente na expressão clínica".      



FONTE: Psychiatry Res. 2017 Apr 8.Substance abuse in patients with bipolar disorder: A systematic review and meta-analysis. Messer TLammers GMüller-Siecheneder FSchmidt RFLatifi S.


FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB).




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