O que é possível fazer
com 15 milhões de toneladas de alimentos? Seria o suficiente para suprir a
demanda alimentar de 19 milhões de pessoas diariamente. Poderia, também, saciar
toda a população da Região Norte do Brasil, ou de países como Chile e Nova
Zelândia. Essa quantidade, no entanto, representa tudo o que é desperdiçado por
ano no nosso país. Estamos, infelizmente, entre as 10 nações que mais
desperdiçam alimentos no planeta.
A cada dia, 40 mil
toneladas de alimentos são jogadas fora por aqui. No mundo, segundo a ONU,
cerca de 1,3 bilhões de toneladas têm esse destino — nada menos do que 30% da
produção global. Uma perda que ocorre da colheita à casa do consumidor, por
diversas razões: danos durante o manuseio e transporte, falhas no armazenamento
e descarte pela imperfeição visual, entre outras.
Enquanto uma em cada
nove pessoas ainda sofre com a fome, um terço da comida que compramos vai para
o lixo por estragar ou por não ser reaproveitada. O efeito no bolso da
população, muitas vezes, não é percebido: uma compra de mil reais se traduz em
uma perda de 330 reais. As consequências também são sentidas no ambiente. A
produção de alimentos não consumidos ocupa uma área que equivale ao tamanho do
México – além de utilizar 24% de toda a água empregada no campo. O prejuízo
total à economia internacional chega a R$ 3 trilhões.
A manutenção dessa
lógica é incabível. Precisamos reduzir drasticamente o desperdício e garantir
que todos tenham acesso à alimentação. Estamos falando de um direito universal.
Um bom exemplo vem da Dinamarca. Após uma campanha com forte mobilização pelas
redes sociais, o país se uniu contra o problema. Com atitudes simples como
descontos em alimentos unitários, incentivo ao consumo de sobras e ações de
conscientização, foi possível reduzir as perdas em 25% nos últimos cinco anos.
Mas precisamos de
muito mais. E o Brasil, por sua posição privilegiada no cenário global, pode
capitanear esse processo. Somos o quarto maior exportador na agropecuária, com
um performance de destaque na proteína animal, ocupando a liderança em carne de
frango e o quarto lugar na suína. Temos condições climáticas favoráveis, altos
índices de produtividade e produção sustentável, capaz de atender a demanda
interna e o mercado de mais de 150 países.
É hora de, a partir de
nossa vocação, também tomarmos a frente na luta contra o desperdício. Governos,
empresas, agricultores e consumidores, cada um deve fazer sua parte. Com união
e uma nova atitude, será possível vislumbrar um futuro em que haja alimento
para todos.
Francisco Turra
- Presidente da
Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
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